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Rescue Me.

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Len-chan
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Mensagem por Len-chan Qui Dez 23, 2010 10:29 pm

Lenna-chan, a autora insana desta merda escreveu:Olá!~

Comecei a escrever uma fic (?) nova recentemente, derivada de uma outra história minha que escrevi pra comemorar o natal com alguns amigos meus. O enredo se passa em um colégio, o Silvério Franco, e como tem um pequeno casinho yaoi no meio comecei a escrever a história em paralelo, pra não incomodar as pessoas que não gostam do gênero.

Ela acontece nos dias de hoje, no mundo real, e não no mundo de ragnarok. Entretanto, os personagens são todos extraídos ou baseados nos RP's de Rag, então isso me dá direito de postá-la aqui 8DDD

Vale lembrar que o personagem principal é um adolescente revoltado, então não estranhem coisas como linguagem imoral e referências sexuais. Além disso, é uma história yaoi, isso quer dizer, no mínimo, HOMENS SE AGARRANDO!!!! xDD Se você não se sente confortável com qualquer um desses quesitos, por favor não leia.

No mais, obrigada desde já o/ E aguardem, porque qualquer dia desses eu posto a Silvério Franco... Rescue Me. 537459

Colégio Silvério Franco
Especial: Rescue Me


Rescue Me. Capalennafinaljotapegue

[1. Falso amor]

Eu odiava aquela escola. Odiava mais que tudo, mais do que todas as escolas que já estudei na vida. Por que, afinal, eu tinha que estudar justamente na escola do meu avô? Aquele velho babão não deve ter nada pra fazer mesmo, a não ser ficar arrumando um jeito novo de ficar me enchendo o saco!

Foi com esse pensamento que botei o primeiro pé na Silvério Franco, tendo que usar a calça jeans e aquela camisa vermelha e branca ridícula e olhar aqueles professores de terno o tempo todo.

O colégio era ridículo, as aulas monótonas e os professores não serviam pra nada. Bem, a Sophia eu até deixava passar, porque ela era minha amigona desde antes de eu ter ido estudar literatura com ela. Mas o resto... lixo, lixo e lixo. Não tinha nada naquela escola que se salvasse. Nem as meninas. Elas eram até bonitinhas, claro, não era aquele estupor de beleza, mas ao menos dava pra comer, e elas eram bem facinhas... tão fáceis que dava nojo.

Nem eu mais entendia o que eu ainda tava fazendo ali. Pra mim, nada se salvava naquele lugar. Eu só queria me livrar de tudo. E quando eu achava que já tava bem servido de problemas, apareceu mais um: ele.

A primeira vez que nos vimos não podia ter sido pior: ele me viu matando aula, fumando e ainda me agarrando com uma garota atrás do ginásio, perto da grade que dava pra faculdade. Como ainda era a primeira semana de aula do convênio, e eu ainda não tinha assistido nenhuma aula, não sabia que ele era professor. E depois, quando fui pra aula quase duas semanas depois e vi ele ali, tapando o buraco da professora Falcon (que estava de licença-maternidade), cara, quase tive vontade de puxar uma arma e atirar na cabeça dele.

De todos os professores, o mais chato era ele, e justamente da matéria que eu mais odiava: português. Sempre ele! Ficava me enchendo o saco na aula, puxando minha orelha e pegando no meu pé. Quem era aquele cara pra ficar tentando mandar em mim? Um professor babaca, metido a bonitão que andava todo engomadinho pra tudo que é lado. Nem o diretor Ruuma anda de terno que nem aquele professor! Além disso, ele nem tinha mestrado nem nada, e se achava o rei da cocada preta. A aula dele era sempre a mais chata, era a que mais me dava vontade de bater a cabeça na parede.

Mas eu sempre aparecia. Sempre, nem que fosse no comecinho ou no finzinho da aula. Eu sempre dava as caras, nem que fosse por míseros 10 minutos, porque queria ver o professor. Eu não sabia porque, mas me sentia esquisito quando não via ele, quando não ouvia ele falando comigo, ou me chamando. E mesmo assim, tudo que ele me falava, ou até a cara que ele fazia quando me olhava, me dava ódio. Assim passaram-se os quatro primeiros meses do convênio.

- Tenho que arrumar um jeito de me livrar dele... – comentei um dia desses, enquanto tava me agarrando com a Paola no mesmo lugar que eu vi ele da primeira vez.

- Do professor, você diz? – ô garota grudenta, vivia falando enrolado achando que eu caía naquilo. Nem peitos grandes ela tinha. Ah, tanto faz, tem buceta, mesmo...

- É. – abri a mochila e olhei a minha caixa de cigarros. Tava no final já. Ia ter que arrumar alguém maior de idade pra comprar pra mim de novo... – Esse cara só sabe me encher o saco, não faz nada que preste! Se desse pra matar ele eu já tinha feito isso desde o começo do semestre.

- Ah, mas ele até que é bonito... – ela falava isso esfregando o nariz no meu rosto. – A maioria das meninas lá da minha sala tem uma queda por ele. Teve até uma vez que a Gabi ficou uma vez sozinha com ele no final da aula e... bom, você sabe...

- E ele comeu ela? – aquilo não era lá muito interessante, afinal de contas a Gabi já tinha tentado dar até pra professora de Educação Física. Mas se podia me ajudar a ferrar com ele, valia a pena escutar até o final.

- Que nada... falou um monte de coisa sobre descoro...

- Decoro... – meu Deus, essa menina era mais burra que eu! E não tinha peitos grandes! Puta merda, era hora de arrumar uma nova...

- Esse caralho aí, que seja... ele falou um monte de merda, que ele não podia, que ela era aluna e não sei o que...

- Sei... até parece que ele não queria comer ela. – dei uma tragada boa naquele cigarro. Era um dos últimos, era pra ser aproveitado ao máximo.

- Ah, vai saber? – Paola deitou na grama de novo. – Sabe o que tão dizendo no 2-1? Que esse professor é viado...

Virei pra ela, surpreso.

- Ué, por que? Viram alguma coisa dele?

- Não sei... ele não tem lá muita pinta, mas sabe aquela história de “o povo aumenta mas não inventa”? Alguma coisa eles devem saber pra ter espalhado isso...

De repente aquela menina parecia uma deusa pra mim. Fofocas sempre tinham um fundo de verdade. E meninas eram as rainhas da fofoca. Talvez saber um podre ou dois daquele engomadinho podia me ser útil...

Foi assim que começou meu plano.

----------

Foi tudo por puro acaso. A aula acabava 6:30, mas já eram 9 da noite e eu ainda tava lá, preso. Aquele porra daquele motorista não tinha ido me apanhar, papai pra variar tinha me esquecido, e eu fiquei de castigo lá, sentado no pátio do colégio esperando a boa vontade de alguém aparecer. Ainda por cima, não podia pegar ônibus porque o porteiro dedo-dudo ia fofocar tudo pro velho. Não que eu estivesse lá muuuito preocupado, mas não tava a fim de levar uma surra tão pertinho do final de semana. Já era quinta, o outro dia ia ser sexta, e eu não tava a fim de ficar de castigo num final de semana que podia ir pra balada e arrumar alguma garota. Tsc... nem fumar eu podia, porque era área escolar e aquele porteiro filho da puta ia me derrubar em casa.

Aí ele passou. O professor Saffron, devidamente engomadinho, devidamente cheio de papel e trabalho pra corrigir em casa. Na verdade, me assustei de ele ainda estar aí. Nos quatro meses que tava lá, já tinha aprendido um pouquinho dele, e o pouco que eu sabia me dizia que ele tava cansado pra caralho. Ele tava com o óculos pendurado no bolso (ou seja, tava lendo), com cara de sono (tava tomando café pra se aguentar), e a blusa dele tava amarrotada (tinha passado muito tempo sentado). Pela cara do material que ele tava carregando, era algum exercício que ele pediu valendo ponto. Bem feito.

- Professor? - chamei baixinho.

- Ah, oi Sven - ele deu um sorriso aberto, aquele sorriso que me dava vontade de achar graça também. Ou vai ver era porque ele tinha cara de idiota, mesmo. - O que tá fazendo aqui a essa hora da noite?

- Ah, me deram um chá de cadeira... - só dei de ombros. Não tinha muito o que falar também. Ele fez uma cara de quem tinha entendido tudo e deu um sorriso.

- E você tá esperando esse tempo todo aí sozinho? Nossa... haja paciência! - ele voltou a sorrir. Não era possível, ele era muito idiota, mesmo. Ou tava rindo da minha cara. - Não tá com fome?

Resolvi não responder nada. Aquilo só podia ser pra me tirar do sério, mesmo... mesmo assim, pela minha cara emburrada ele sentiu que eu tava com fome, sim – e ele não tava de todo errado. Tava desde as quatro da tarde sem comer nada, graças ao filho da puta do meu pai que me deixou sem dinheiro.

- Ah, peraí então...

Ele jogou todo o material escolar dele praticamente em cima de mim. Aí abriu a pasta e tirou um sei lá o que dobrado num lencinho de papel. Abri e era um pedaço de pão com queijo, já bem frio e sem gosto, mas ainda assim, comida.

- De onde tirou isso? - perguntei, chocado. Tinha alguma coisa de surreal naquele cara, andando com comida assim sem mais nem menos.

- Ahn, eu trouxe pra lanchar caso me desse fome, mas como já acabou o meu expediente vou deixar pra jantar direito em casa... quinta feira é o pior dia pra mim, e como tá acabando o mês eu tenho que ficar aqui até tarde ajeitando as listas de chamada...

- Então toda última quinta feira do mês você sai tarde? – o cheiro da oportunidade começava a exalar no ar.

- É, pra ajeitar as listas pra entregar pro diretor... e não precisa me chamar de professor, pode chamar só de Saffron, já acabou a aula mesmo...

Isso, Saffron, vai me dando intimidade. Vai mostrando o burro que você é pra eu poder te usar como quiser depois. As coisas estavam indo melhor do que eu imaginava... mas espera aí, os boatos não diziam também que ele era todo gentil, mas não dava muita intimidade pros alunos?

- Ah... obrigado então... - agradeci, falando do sanduíche. Quanto mais ele achasse que éramos amigos, melhor. E pior é que tava bom, mesmo tendo passado o dia trancado na pasta dele... será que era a fome? Será que era porque foi ele que fez?

- Bom, eu vou indo... - ele pegou o material de novo. - Tenta descansar bem quando chegar em casa pra não ficar dormindo na sala!

Eu apenas acenei, enquanto ele pegava o rumo do estacionamento. Talvez fosse a chance que eu precisava. Se eu encontrasse ele de novo a essa hora podia saber um pouco mais dele e confirmar se os boatos eram verdadeiros ou não... eu não tinha nada a perder, de qualquer forma. De qualquer forma, mesmo que tudo desse errado, aquele era o último ano, mesmo... em alguns meses eu não o veria nunca mais.

Bem nessa hora, toca o meu celular. Atendi e nem precisei dizer alô quando ouvi a voz enrugada do velho.

- Pega um táxi e te manda pra casa AGORA!

Eu só não sabia muito bem o que fazer se tudo aquilo fosse verdade...

----------

Um mês depois, dito e feito. Dei um jeito de despistar o motorista e sentei lá, esperando. Confirmei que ele ia ficar pra trás com a Sophia, que passou de mãos dadas com o professor Hitori e confirmou que o Saffron ia ajeitar as listas de frequência hoje. Pois bem, tudo pronto. Era só sentar e esperar...

Dessa vez fui prevenido. Deixei o lanche guardado na mochila, e comi só lá pra umas 7:30, pra poder aguentar a espera até sei lá a hora que ele fosse embora. Oito horas as luzes dos corredores já tavam sendo apagadas, e deixaram só as lâmpadas do caminho mesmo enquanto ele tava lá dentro. Enquanto isso, eu me preparava psicologicamente pro que tava tramando fazer. O primeiro passo era tramar um jeito de fazer ele me falar, ou dar alguma revelação sobre a orientação sexual dele.

Teoricamente seria bem fácil, mas eu não tinha ideia de como fazer aquilo.

Além disso, aquele não era o único problema. E se ele descobrisse que eu tava espionando a vida dele e resolvesse descontar em cima de mim de algum jeito? E se falasse pro meu avô?

E se ele me odiasse?

Não, aquilo eu não ia aguentar. Já tinha gente o bastante pra me odiar em casa. Com o Azhi morando fora, papai vivendo na rua e só meu avô e eu na casa, não precisava de mais um pra me tratar mal. Mas será que ele seria mesmo capaz disso? Ele era sempre tão gentil com todo mundo, mesmo não deixando ninguém chegar muito perto... até comigo, que era um dos alunos mais odiados por viver matando aula...

- Te esqueceram de novo, foi?

Eu de repente levantei a cabeça, e ele tava ali. Acho que comecei a cochilar e nem percebi. Quando olhei no relógio do celular, eram 10:29 da noite. Nossa, ele realmente tinha passado direto dessa vez... aquilo tudo era vontade de trabalhar, por acaso?

- É, mais ou menos... - acabei falando bocejando. Ele deve ter achado que sou um pateta. Mesmo assim, ele se abaixou pra falar comigo. Parecia realmente preocupado.

- Você não anda se desgastando demais, Sven? - ele tinha um tom de voz suave... era até gostoso ouvir ele falar. Mas ele também tava cansado. Eu é que não queria ser professor pra ter que ajeitar lista de frequência de aluno até 11 da noite.

- Grande coisa... eu tô bem, não precisa se preocupar comigo.

- Vocês adolescentes acham que só porque são mais novos que a gente são de ferro... cuidado pra não adoecer ficando nesse frio! - ralhou ele sorrindo.

- Credo, Saffron, você não é tão velho assim! Quantos anos você tem?

- 26.

Vinte e seis... dez anos de diferença. Era uma boa diferença, mas não era tão assustador assim... tinha gente da minha sala que já era casada! Aí pensei, se ele fosse gay mesmo, e eu me insinuasse direito, ele cairia. Talvez eu tivesse chance. Talvez eu devesse tentar a sorte...

- Bem, você ainda vai ficar por aqui? - perguntou ele de novo. - Acho que tá tarde pra você voltar pra casa...

- Não, eu vou de ônibus depois... não tem problema.

Ele olhou pra rua, vendo que não tinha quase ninguém passando. Também, naquela hora, ficar vagando por aí era pedir pra ser assaltado. E aquele lugar não era conhecido por ser um dos mais seguros de noite... mas não era hora pra pensar naquilo. Depois eu dava um jeito de chegar, mas antes tinha que fazer o que planejei o mês inteiro!

Mas afinal, o que eu deveria fazer pra chamar a atenção dele? Será que forçar uma declaração de amor resolveria? Bem, ele era gentil com todo mundo, não tinha cara de quem ia simplesmente me rejeitar... botei a mão por dentro do casaco, liguei meu gravador, respirei fundo e tentei parecer o mais delicado possível.

- Professor, eu...

- Saffron. - cortou ele, ainda olhando pra rua. Ele estava meio preocupado, olhava pra parada do ônibus como se esperasse algum policial. Ou um anjo, o que viesse primeiro.

- Ah, sim... Saffron, eu... queria te falar uma coisa...

Ele finalmente olhou pra mim. Os olhos dele eram azuis, um azul daqueles que te prende. Foi a primeira vez que reparei nisso, talvez porque eu sempre passava muito pouco tempo na sala de aula. Quando olhei pra ele assim, tão perto, perdi a força e me perdi todinho no que ia dizer. Só fiz ficar lá de boca aberta, tentando puxar alguma coisa pra falar.

- Pode falar, eu tô ouvindo! - ele deu risada.

- Eu... e-eu...

Mas aí ele abaixou a cabeça e suspirou, como se lamentasse alguma coisa. Então olhou pra rua de novo, e virou pra mim, sério.

- Sven, tô preocupado com você, a escola já devia estar fechada há séculos. Tem certeza que estão vindo te buscar? Não quer que eu te deixe em casa?

Aí meu coração parou de vez. Era tudo que eu queria. Andar no carro dele, passar o tempo da viagem conversando com ele, só nós dois, num ambiente fechado... era o clima de romance que eu precisava pra aplicar o golpe. Ao mesmo tempo, tinha alguma coisa errada... e se ele realmente caísse naquilo e tentasse... não, a tapada da Paola não tinha dito que ele era todo profissional? Claro que ele nunca faria isso!

- Tem certeza? – só pra garantir, joguei o falsete do “tem certeza”. Sempre funcionava. - A minha casa é longe, fica lá na zona Norte...

- Não tem problema, moro pra lá também. Posso te deixar em casa e depois eu sigo...

Não, não era possível cara, eu só podia estar dormindo! Ele ia me deixar em casa mesmo! Assim eu poderia descobrir o maior segredo dele, ninguém ia poder atrapalhar... era minha chance. Uma chance única na vida, provavelmente. E eu não ia deixá-la escapar.

- Tudo bem! - levantei de um pulo e joguei a mochila na costa.


Última edição por Len-chan em Ter Ago 16, 2011 12:58 am, editado 3 vez(es)
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Rescue Me. Empty Re: Rescue Me.

Mensagem por Acer Qui Dez 23, 2010 10:31 pm

Ah, para quem não entendeu
Silvério Franco = Silvery Flame = Chama Prateada -QQ

Eu adoro essa fic <3
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Mensagem por Carmen Dion Sáb Dez 25, 2010 11:49 pm

*chega de correio*
Vroom!
Olha só, fic yaoi 'o'

Vejamos... eieiei (mael), eu ri nessa parte de ter gente na sala do Sven que já é casada xD
Sven parece tão metido a machão nessas primeiras partes... isso só prova, se um homem tenta demais se mostrar machão, é melhor suspeitar /s

O mais engraçado é o Sven tentando se manter másculo nas últimas partes...
Ele fala de fazer declarações e se insinuar como se estivesse brincando /heh
Depois, aposto que eles serão o caso yaoi mais lindo (e pedofílico) da fic :9

Bom, continua a escrever, por favor, senhorita Lenna, que isso tá muito bom de se ler *-*
Atéééé mais! ^-^
*cegonha me leva embora*
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Mensagem por Len-chan Dom Dez 26, 2010 12:26 am

Lenna-chan, a autora insanamente fã de Koisuru Boukun escreveu:
@Maggie
Oi, fico feliz que tenha gostado <3

É legal ouvir comentários assim seus e das outras pessoas que leem por fora, é a primeira vez que tô efetivamente exibindo por aí algum trabalho meu =x

@all
Lembrando que essa é uma fic yaoi, que contém cenas de homossexualismo explícito ou induzido [-q], violência, palavras de baixo calão e referências a nudez. Ou seja, é quase uma despedida de solteiro, ou um RP comum da Chama Prateada.

Beijinhos, e feliz natal o/ [ou feliz dia de Mitra pro Kerdie]


[2. Acidente]
A avenida nunca pareceu tão comprida na vida. A viagem do centro pra Zona Norte era bem longa, quase uma hora, e por azar naquele horário havia congestionamento. Eu não sabia, mas dois carros se bateram e um foi jogado direto no acostamento, e isso fechou três das cinco pistas da estrada, o que tornou a viagem um verdadeiro anda-para infernal. Pra completar, o carro não tinha ar condicionado, e o clima estava bem fechado. Se a chuva resolvesse cair, a temperatura ia ficar mais abafada ainda, e aquilo me deixava com muita raiva.

Mas naquele momento, eu não tava nem ai se tinham sido três carros batidos ou se o trenó do Papai Noel tivesse atropelado o coelhinho da Páscoa na ciclovia, se ia chover ou se ia cair mijo do céu. Eu olhava pro banco do motorista, e não acreditava que estava ali.

Alheio a todos os meus devaneios, Saffron apenas batucava no volante, enquanto cantarolava baixinho a música que tocava no rádio. Pela primeira vez na vida, eu tinha ele só pra mim, e estava vendo ele de uma maneira que ninguém da escola nunca sequer tinha parado pra pensar. Tá, eu sei que dirigir é algo normal, mas pra mim ver ele ali era algo mais do que interessante. Aquele jeito espontâneo dele não podia estar mais a meu favor: arrancar a verdade dele ia ser muito fácil.

Porém, no meio de tudo aquilo, eu sentia que tinha alguma coisa errada, não com ele, mas comigo. Apesar de todo meu ódio por ele, da vontade de bater a cabeça no volante, ele estava sendo até bem interessante. A viagem de carro estava sendo até divertida – e isso era estranho considerando que ele era pra mim o mesmo que o Osama é pros Estados unidos.

- Nossa, acho que se a gente descesse do carro e fosse andando ainda ia chegar antes de conseguir atravessar esse trânsito... – comentou ele algum tempo depois, mexendo no dial do rádio. – Sinto muito mesmo, Sven, se eu soubesse que ia demorar desse jeito tinha deixado você ir com seu motorista...

- Ah, grande diferença. – por que ele tinha que falar nisso? Eu já tinha até esquecido aquela droga de família... – Ele ia acabar pegando a mesma rua, e ia demorar o mesmo tempo.

- É, mas pelo menos você estaria no ar condicionado agora, e não morrendo de calor nesse congestionamento... que eu lembre o professor Arceus comprou um carro só pra ir te levar e te buscar, não foi?

- Não me importo com isso – falei, sendo bem sincero. – Do que adianta ter motorista se ele me deixa esperando mais de quatro horas na porta do colégio?

Saffron sorriu ao ouvir aquilo. Ele virou por um breve minuto pra me olhar, e foi bem na hora que o carro da frente avançou. Droga! Ele tava me olhando, motorista filho da puta!

– Seus pais não vão ficar preocupados de você chegar de madrugada em casa? – perguntou ele de novo, parecendo realmente preocupado enquanto ligava a ignição pra botar o carro pra andar mais cinco metros. – Se você quiser posso ligar pra eles, daí você explica o que aconteceu...

- Não precisa, eu já tinha ligado par eles antes de te encontrar. – que mentira deslavada! – Além disso, eu não tô nem aí pro que eles pensam, mesmo...

- Você sabe que esse seu ar de rebelde não vai te trazer nada de bom, né? – suspirou ele, voltando a armar aquele tipinho de professor moralista dele. Eu sentia que toda a diversão ia embora. Se tinha uma coisa que eu odiava no Saffron, era isso. Ele adorava me passar sermão. – Você devia tentar se aproximar mais dos seus pais, eles só querem o seu bem...

- Olha, me poupa desse seu papinho de mundo perfeito, tá? – cortei logo. – Sendo bem direto, o jeito que eu falo com a minha família não é problema seu!

- Pois você é quem pensa. – ele voltou a me encarar, mas não estava mais tranquilo. Os olhos dele estavam bem sérios. Era engraçado como ele olhava diferente pra mim, como se tivesse reservado um jeito de olhar só pra quando fosse me repreender. – Toda família tem problemas, mas não é por isso que você precisa ficar agindo como o moleque que acha que é. Em vez de se preocupar só em parecer o bonitão e ficar namorando aquelas garotas no ginásio, devia pensar um pouco em colocar alguma coisa nessa sua cabeça oca.

Ele cutucou a minha testa com dois dedos, enquanto eu sentia a garganta secar. Ele sabia das minhas escapadas pro ginásio, e mesmo assim não tinha me derrubado pra ninguém? Se fosse qualquer outro professor teria ido correndo contar pro diretor Ruuma...

- Como... como você sabe disso? Digo, das garotas...

- Eu sou professor mas não sou idiota, Sven. – agora ele estava olhando de novo pra fora. – Eu só te vi uma vez, mas é fácil pensar como vocês adolescentes pensam e depois juntar um mais um quando as alunas mais estudiosas do colégio resolvem matar aula no mesmo horário que você.

- Sou tão previsível assim? – perguntei, ficando meio sem jeito com aquilo. Ele reparava em mim. Ele era a primeira pessoa que reparava em mim em anos...

- Não é que seja previsível... – ele de repente suspirou e relaxou mais. – Você é um adolescente, esse tipo de coisa é normal na sua idade, eu até entendo... mas isso não quer dizer que eu ache salutar.

Era a primeira vez na vida que eu ouvia alguém dizer que eu não estava sendo estranho ou burro em tudo que fazia. Bem, na verdade ele estava, sim... mas era diferente. Era como se ele estivesse mais preocupado comigo do que com minhas atitudes. Senti meu peito disparar. Ele realmente me entendia...

Olhando pra ele de novo, percebi que ele não tinha muita cara de professor mesmo. Dez anos de diferença... ele não parecia ter mais de 20. E naquele momento, conversando daquele jeito, ele nem parecia um adulto, parecia mais um amigo me dando carona pra algum lugar legal, tipo uma festa ou um barzinho. Me encolhi no banco, pensando que não seria nada mau se fosse isso, mesmo... uma noite de quinta feira, meio nublado, com um trânsito daqueles...

- Sabe de uma coisa? A gente podia dar uma parada em algum barzinho pra tomar uma enquanto esse congestionamento não passa...

Ele me olhou meio surpreso, com certeza não estava esperando um comentário desses. Por um milésimo de segundo eu até cheguei a pensar que ele tava realmente pensando nisso! Então começou a achar graça.

- Eu não bebo, sou abstêmio... além disso, o que te faz pensar que eu tenho dinheiro pra ficar pagando bebida em boteco?

- Que nada, a verdade é que você é muito fraquinho e não bebe porque tem medo de pagar mico no bar, pode confessar Saffron! – comecei a rir da cara dele, imaginando ele subindo em uma mesa e tirando a camisa.

- E você bebe, por acaso? – ele ergueu uma sobrancelha. - Você nem de maior é! Se você entrar num bar pra comprar cerveja eles vão te dar uma caixinha de leite e dizer pra você ir procurar sua mamãezinha.

- Isso por acaso é alguma experiência pessoal sua? Anda, vai, pode me contar, não precisa ficar magoado só porque te botaram pra fora...

Saffron virou-se com cara de quem ia dar uma resposta bem torta, mas acabou achando graça de novo.

- Tá, então o que você bebe, senhor Sommelier?

- Ora essa, eu tomo de tudo! Não sou fraco como certas pessoas... o que botarem na minha frente eu viro!

- Hm, acredito... o que mais você vai inventar, que seu lema é Sexo, Drogas e Rock N’ Roll?

- Não tá muito longe disso, não...

- No seu caso, só se for Punheta, Ice e Luan Santana.

Ele continuou rindo. Finalmente estavam tirando um dos carros da pista. Lá de longe, dava pra ver o trânsito voltando a andar normalmente, ou pelo menos a se mover a mais de 5km/h. Saffron engatou a marcha 2 do carro pela primeira vez em meia hora e foi pegando a pista nova que tinha acabado de ser liberada.

- Ufa, finalmente! – ele soltou um suspiro de alívio, e eu um de frustração. Meu momento de triunfo estava chegando ao fim. Em poucos minutos alcançaríamos a marginal que levaria pra zona Norte, e ele ia me deixar em casa... e o pior, se meus pais estivessem em casa ele iria descobrir que eu menti sobre tudo aquilo só pra ficar com ele... isso se meu avô não o acusasse de sequestro e começasse a perseguir ele.

Decepcionado, botei a cabeça na lateral do carro, olhando como as coisas agora estavam passando bem rápido pela janela. De repente todo o calor estava indo embora, graças ao vento circulando dentro do carro, mas aquilo realmente não me interessava mais.

Pensando depois de um tempo, não é como se aquilo fosse durar pra sempre... uma hora tinha que acabar, mas tinha que terminar tão rápido assim?

A única coisa que pude pensar foi “bem, foi legal até”. Foi aí que alguma coisa bateu com força na minha testa. Com o susto, balancei a cabeça, tentando sacudir o ar.

- Filho da puta!

- Sven, fecha logo essa janela, vai entrar água no carro! – Saffron se debruçou por cima de mim pra alcançar a manivela do vidro. Ele tentou girá-la rapidamente ainda controlando o carro. Me assustei com aquilo e, temendo que ele fosse bater ou algo do tipo, botei a mão na manivela também e girei o mais rápido que pude.

Quente. Depois do susto, notei que botei a mão por cima da dele. A mão dele era quente, e apesar de o dorso ser macio, as pontas dos dedos estavam meio ressecadas... talvez por causa do giz? Aquele gesto fez meu coração disparar, e eu não entendi o porquê. E nem estava interessado em entender também.

Porém, pra ele aquilo não significou absolutamente nada. Assim que eu comecei a girar o vidro, ele puxou a mão e voltou a guiar o carro direito, enquanto ligava o para-brisa.

Aquilo me desapontou um pouco. A chuva agora caía com tudo, pelo visto ia ser um pau d’água daqueles feios. Com os vidros fechados e a quentura subindo do asfalto pelo lado de fora, o calor estava começando a ficar insuportável. No entanto, eu comecei a usar a minha mente pra planejar algum jeito de ficar mais tempo com ele.

Mas aquele diabo daquele professor era foda de tão esperto que era. Quer dizer, eu acho que nem ele se tocava do que estava fazendo. Com o calor, ele começou a tirar o paletó e a abrir parte da blusa no primeiro sinal que parou.

Aí eu pirei de vez. Ele tava numa boa, se abanando com a gola da camisa e botando a cara mais perto do ventilador. Puta merda, ele era lindo!... Pela primeira vez, eu tava tendo a chance de reparar nele de verdade... o corpo dele, a camisa grudando...

Eu parei tudo que tava fazendo, tentando entender que merda de pensamento era aquele. As coisas tavam começando a se enrolar na minha cabeça. O que é que eu tava fazendo?!

E bem nessa hora, senti ele se mexer do meu lado. Saffron aumentou o volume do rádio, parecendo bem animado. Pela primeira vez durante horas, eu pude reparar em uma voz diferente da dele dentro daquele carro.

- E aqui estamos com mais um Love Songs, o seu programa de toda noite pra compartilhar aquele momento com a pessoa amada! Eu, o seu grande locutor Vítor Barreto, estarei selecionando as melhores do momento pra embalar o seu comecinho de noite. Chove bastante na cidade, um friozinho batendo, que momento melhor pra curtir uma grande paixão? Muito bem, vamos abrindo o programa com mais um sucesso...

(Se você quer saber o porque do nome dessa fic, experimente entrar no Youtube e escutar Rescue me, do Tokio Hotel, daqui até o final desse capítulo.)

A música começou a tocar, e Saffron abriu um sorriso, olhando pro dial como se houvesse alguma coisa mágica que fosse sair lá de dentro. Aí eu senti que levei um susto, meu peito pulando todo de uma vez só. A expressão dele estava totalmente diferente... eu nunca tinha visto ele sorrir daquele jeito na escola. Era um ar meio bobo, quase como se estivesse... apaixonado?

Deixei meu corpo afundar na cadeira de vez. Como eu não tinha pensado naquilo? Ele com certeza devia ter uma namorada... eu no fundo estava perdendo meu tempo achando que um cara daqueles, um professor super estudado, ia querer ter um casinho com um estudante, e ainda por cima homem. Aquela coisa toda nunca ia dar certo. Imagina se ele ia perder o tempo dele com alguém como eu?

Uma buzinada horrível vinda da traseira do carro assustou a nós dois ao mesmo tempo. Olhando pra frente, eu vi que o sinal já estava verde há um tempão, e ele só tinha se lembrado de acelerar o carro agora. Eu já tinha percebido que ele tinha lapsos assim de vez em quando. Era uma coisa que ninguém mais tinha reparado, eu tinha certeza daquilo.

- Ah... – ele ficou tão sem jeito que seu rosto foi ficando vermelho. Ou será que era por causa do calor? – Foi mal, é que eu gosto de escutar esse tipo de música, sabe? – tentou argumentar ele, enxugando o suor com a manga da camisa. – Não precisa achar que eu sou um lunático ou algo do tipo, viu?

Até parece que eu ia pensar qualquer coisa de ruim dele. Naquela hora, eu tava conhecendo um lado dele que eu nunca tinha visto, um lado que não era chato e nem um pouco irritante. A música dava um clima todo especial aquele momento, era como se fôssemos mesmo íntimos, sem aquelas frescuras de professor e aluno. Eu me sentia bem próximo dele. E mesmo achando que ele tinha uma namorada, eu queria que fosse mais...

O carro foi parando de novo no próximo sinal, e eu vi que já estávamos na zona Norte. Em menos de dez minutos estaríamos alcançando a rua que dava pro meu condomínio. O sonho estava acabando, mesmo... fiquei encarando o farol vermelho, pensando em como seria quando encontrasse com ele de novo na escola. Talvez eu desse começar a assistir as aulas dele decentemente, só pra variar...

- Então, onde é a sua casa? – perguntou ele, olhando pro trânsito também.

- Ah, entra na Barão e depois segue até o Largo da Taiatiba. – falei, não muito interessado. Na verdade, eu ficaria realmente feliz se ele se perdesse no meio do caminho. Pela primeira vez na vida, eu queria conversar com ele.

- Hmm... você deve morar em algum daqueles condomínios fechados que tem pra lá, né? Deve ter bem uns cinco deles só nessa rua.

- Fazer o que, né? – dei de ombros. Estava realmente ficando puto. Por que aquilo tinha que acabar, droga?

- Ah, me diz uma coisa – ele cortou, ignorando todo o meu mau humor e se virou no banco pra me olhar melhor. – O que você ia me falar lá na escola, antes de eu te oferecer a carona?

Engasguei de novo. Virei pra olhar pra ele também, e ele estava com uma expressão tranquila, um rosto gentil... afinal de contas, qual é o limite de beleza que uma pessoa só pode ter?

De repente parece que meu corpo se tocou de tudo que estava acontecendo ali. Eu tinha feito tudo aquilo pra me declarar, e aquela era a oportunidade perfeita... estávamos sozinhos, com a chuva caindo e aquela música romântica tocando no rádio... dava pra ver os lábios dele, o rosto meio úmido ainda, a respiração dele entrando no corpo de um jeito devagar...

- O que foi, esqueceu o que ia dizer? – ele começou a rir da minha cara de paspalho, lógico. Fiquei bem uns 30 segundos encarando ele e nem me toquei de abrir a boca pra falar... e nessa hora o sinal abriu. Perdi minha chance. – Bem, se você lembrar até a porta de casa você me fala, se for alguma coisa da escola eu até tento te entregar logo amanhã, não sei...

Não. Não tinha mais nenhum sinal depois daquela curva, ele ia seguir na preferencial direto pra minha casa, pra minha forca... isso nunca mais ia acontecer, não daquele jeito... resolvi mandar tudo pra puta que pariu.

- Saffron, eu te a...

- AHHH!

Então o carro virou com uma violência enorme, ouvi algo arrastando no chão, e um pouco depois do meu corpo ser prensado contra a porta do carro eu senti um impacto horrível na lateral.


Última edição por Len-chan em Sex Fev 11, 2011 7:19 pm, editado 1 vez(es)
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Rescue Me. Empty Três.

Mensagem por Len-chan Dom Dez 26, 2010 1:11 am

Lenna-chan, a autora que está revoltada com o final tosco de Togainu no Chi escreveu:
Olá! o/

Lembrem antes de ler que essa é uma fic só para maiores. Cada vez que uma criança imatura lê esta fic, um gatinho se afoga. Pense nos gatinhos.

Beijos <3


[3. Cuidados]
Olhei pra fora, assustado, e vi um carro colado na porta de trás do carro do Saffron, ou melhor, entrando na porta. O filho da puta do motorista tentou pegar o rabo de sinal, e o impacto só não veio todo em mim porque o meu professor deu uma virada bem na hora...
Além de não ter limite pra beleza, não tinha limite pra ser bom nas coisas também? O que mais aquele cara fazia, salvava o mundo fora do expediente? Mas que professorzinho metido a sabe-tudo de merda!

- Tá ficando doido?! – ele desceu do carro, sem se importar com a chuva, e foi atrás do outro motorista, parecendo bem irritado. – Não tá vendo que podia ter matado alguém?
- A culpa foi toda sua! – disse o cara, tentando se fazer de desentendido. – Quem mandou sair do sinal antes da hora? O sinal do meu lado ainda não tava vermelho, tava no amarelo!

Tentei achar um jeito de sair do carro, já que a minha porta estava presa. Soltei o cinto de segurança e fui me arrastando pra fora por cima do banco do motorista, com milhares de palavrões na ponta da língua prontos para serem jogados em cima daquele retardado. Mas então, me toquei de uma coisa. Não era eu que estava querendo mais um motivo pra ficar perto do professor por mais tempo? Aquilo era uma chance de ouro...

- Eu devia comprar um manual de trânsito pra te esfregar na cara, seu pilantra filho da mãe! – berrava Saffron, enquanto a roupa dele ficava toda ensopada. Aquilo me deixava com mais vontade ainda de me esfregar nele, nem que fosse só uma vez. Fui andando até ele bem devagar, com uma das mãos na cabeça como se estivesse me sentindo zonzo. Era bizarro como ele tava puto e ainda conseguia manter o linguajar. – E se ele tivesse se machucado? Ele é só um adolescente, e você podia ter provocado uma... Sven, volta pro carro, eu já tô resolvendo isso...

Eu achava que a expressão tranquilona dele era legal, mas esse semblante de raiva dele era muito foda. Os olhos dele pareciam tão cheios de garra... eu queria que ele me olhasse assim mais vezes, que aquele olhar fosse só pra mim. Que ele olhasse com aquela garra pra mim, e não só pra me esculhambar.

- Saffron, eu... não tô legal... – me joguei um pouquinho pro lado, como se aquilo fosse realmente sério. É, eles escolheram o garoto errado pra testar. Logo eu, que sabia como ninguém convencer um professor a me mandar pra enfermaria dormir.

Eu estava sendo tão realista que o motorista filho da puta que provocou o acidente estava ficando realmente horrorizado com aquilo. Mas claro, eu não podia parar ali. Ninguém ia me fazer perder mais nenhum segundo que fosse.

- Sven? O que foi? Tá tudo bem? – Saffron correu pra mim como se eu estivesse morrendo. E na visão dele eu estava mesmo. – O que aconteceu? Fala comigo!

- Não sei... tô meio zonzo... a minha cabeça, eu... quero dormir... – disse, fazendo uma expressão de pobre coitado que fez ele tremer nas bases. O cara lá estava até chegando mais perto pra ver, também.

Então, pra encerrar minha atuação com chave de ouro, joguei meu corpo por cima dele, fingindo um senhor desmaio. Bem em tempo, ele me agarrou, me dando meio que um abraço pra não me deixar bater no chão.

- Sven! – gritou Saffron, visivelmente nervoso. Eu podia sentir o medo na voz dele. Já pensou a merda que seria pra carreira dele se um aluno dele morresse depois de pegar uma carona com o professor sem que ninguém da família ou da escola soubesse? – Sven, pelo amor de Deus...

Ele foi me carregando de volta pro carro, abrindo a outra porta de trás e me colocando deitado ali. As pessoas dos outros carros estavam descendo pra ver o que tinha acontecido, acho até que tinha gente chamando ambulância, e o motorista aproveitou a deixa pra entrar no carro de novo, dar a ré e sair voando dali. Eu teria achando muita graça daquilo se não estivesse tentando seduzir meu professor com o golpe da Bela Adormecida.

- O que está havendo? – senti alguém se aproximar. Era voz de mulher. – Ele está bem? Não é melhor chamar um médico?

- Não se preocupe, eu já fui voluntário da Cruz Vermelha, sei alguma coisa sobre primeiros socorros. – taí uma coisa nova que eu não sabia sobre ele. Epa... se ele sabia primeiros socorros, eu e a minha atuação estávamos com problemas, ele ia sacar na hora que era fingimento! – Ele deve ficar bem até o médico chegar...

Senti ele botando uma mão perto do meu rosto e ele virando a minha cabeça lentamente. Podia sentir ele bem próximo, respirando por cima de mim, parte do corpo dele tocando minha pele de vez em quando. Era a primeira vez que o sentia tão perto. Dava pra sentir o cheiro do perfume dele, e aquilo não era tão ruim assim...

- ALGUÉM, POR FAVOR, CHAME UM MÉDICO!!! – a mulher começou a se esgoelar, e eu fiquei com vontade de levantar e enforcar ela. – UM MÉDICO, TEM UM MENINO DESMAIADO AQUI!

- Senhora, por favor não grite! – pediu Saffron, num tom de súplica digno de quem está se cagando de medo de coisa ruim. – Ele precisa de repouso! Sven, por favor, reage...
Resolvi aproveitar a deixa e ir abrindo os olhos devagarinho, ainda com a tontura deslavada. Fui tentando sentar, botando a mão na cabeça.

- Saffron... ai... – olhei pra ele, e quase tive vontade de dizer que era mentira. A expressão dele era de uma preocupação tão intensa que dava vontade de abraçá-lo e dizer que tudo passou. – Minha cabeça...

- Onde tá doendo? O que você tá sentindo? – ele perguntava, me empurrando pra eu deitar de novo no carro. Enquanto isso, a chuva escorria toda pra dentro do assoalho, a essa hora ele tava todo ensopado. A música no rádio mudou pra uma baladinha suave.

- Me tira daqui... – pedi, dessa vez não fingindo. Aquela gente toda ao redor estava me deixando com raiva. – Quero descansar...

- Não tá doendo nada? E a sua cabeça? Ainda tá zonzo? – ele parecia um pai preocupado. Ou talvez um namorado preocupado, não tenho certeza.

- Me leva pra longe... me tira daqui... não quero ver ninguém... a minha cabeça...
E fechei os olhos de novo, esperando que ele entendesse o recado. Ele me empurrou um pouco mais pra trás no banco e bateu a porta do carro, e poucos segundos depois ouvi ele entrar no carro e bater a porta da frente. Mais um tempinho, e o carro saiu andando de novo. Nessa hora, o frio da chuva foi me pegando, e aproveitando que já estava deitado ali mesmo, resolvi que tirar um cochilo não seria de todo ruim... ao acordar, estaria numa enfermaria de hospital, com soro no braço e ele do meu lado, cuidando de mim, dando atenção só pra mim.

Era difícil de acreditar, mas naquela hora, era tudo que eu mais queria.

----------

Aos poucos, fui recobrando a consciência. Aquele cochilo valeu a pena mesmo. Senti que estava em algum lugar diferente, o colchão parecia um pouco mais confortável. Macio... não me deu vontade de abrir os olhos. Revirei o rosto um pouco pro lado pra evitar aquela claridade toda e suspirei. Aquele hospital devia ser bom mesmo, pra ter uma maca daquele jeito. Ou será que eu já estava em algum apartamento pra observação?

A preguiça foi tanta que a vontade de acordar não vinha. Enquanto isso, eu me perguntava onde estava. Ouvi passos ao redor, e alguma coisa batendo de leve. Dava pra ouvir um barulho: pi, pi, pi, pi, pi. É, acho que era alguma enfermaria, mesmo.

Mas aí o bipe parou. Estranho. Das duas uma, ou não era comigo, ou eu tinha morrido. E eu tinha certeza de que estava vivo. Se aquilo não era comigo, então quem...?

Abri os olhos imediatamente, pensando que podia ter acontecido algo com Saffron. Mas eu consegui ouvir sua voz, em algum lugar ali perto, enquanto conversava com alguém.

- Aham, mas acho que foi só o susto. Ora merda, aquele cara avançou a droga do sinal e ainda por cima bateu do lado do Sven! Imagina a cagada que ia dar se ele tivesse se machucado?

Finalmente percebi que não estava em hospital nenhum, muito menos na minha casa. Sentei no sofá e comecei a olhar ao redor, curioso. Percebi que estava deitado em uma cama, em um quarto bem estreito e cheio de livros e jornais nas estantes. Bem na minha frente, um guarda-roupa meio velho e a porta que dava pro corredor. Talvez fosse uma casa.

- Não, ele fugiu... o Sven, sei lá, teve uma crise de sei lá o que, desmaiou e eu fiquei com medo... eu acabei trazendo ele pra cá pra casa, fiquei preocupado, mas acho que foi só o susto, ele tá dormindo lá dentro...

CA. RA. LHO. A casa dele. Eu estava na casa dele! Aquilo era muito mais do que eu podia sonhar, que eu sequer tinha imaginado quando fiquei esperando por ele no colégio. Eu estava na casa dele, no quarto dele, jogado na cama dele!

- Sim, mas ele não pode ficar aqui até lá, né? – ele continuava tagarelando. Acho que era o telefone. – Ele tá bem, ok, mas eu não tenho o número dos pais deles, o que vai acontecer se eles tiverem chamado a polícia?

Taí uma coisa que eu não tinha pensado. E se eles tivessem chamado a polícia? Fiquei imaginando uma perseguição policial na minha cabeça, no maior estilo GTA San Andreas, com o Saffron dirigindo o carro dele enquanto eu atirava nos caras.

- Ah... você ligou? E o que eles disseram? ...ué, ele disse isso foi?

Ok, agora as coisas estavam começando a se complicar. Seja lá quem fosse, essa pessoa tinha ligado pra minha casa e tinha descoberto que eu disse que ia passar a noite fora. Isso não era bom, não era mesmo...

- Sim, mas isso não quer dizer que eu vou simplesmente ficar cuidando dele... putz, nem roupa ele tem! Ele vai ficar o resto do dia aqui em casa usando minha cueca, por acaso?
Foi aí que olhei pra baixo. E ele tinha razão: eu estava usando uma cueca e uma regata que não eram minhas... por isso eu tava cheirando tão bem. Tinha o mesmo cheiro que senti quando ele me deitou no banco do carro e começou a “cuidar” de mim. Devia ser crime uma pessoa ter um perfume daqueles.

- Amor, você não tá entendendo... eu tô com um aluno da minha escola que é no mínimo uns 10 anos mais novo que eu jogado lá no meu quarto depois de ter saído sozinho comigo sem ninguém saber e sofrido um acidente de carro. O que acha que vai acontecer comigo se isso chegar na escola? Vão no mínimo me demitir!

Se meu coração acelerou quando vi a roupa, ele parou nesse exato instante. Eu não estava errado. Ele tinha mesmo uma namorada. E eu não passava de um estudante os olhos dele...

- Se o professor Arceus souber dessa arrumação ele vai... não. Não. Maninha, escuta bem o que eu vou falar. Isso vai dar merda, tá me entendendo? Ele é filho do dono da escola!
Ufa. Era só uma irmã. Mesmo assim, era engraçado... eu nunca tinha ouvido falar nisso. Até onde eu sabia ele tinha um irmão mais novo, que por sinal era até da minha turma... qual era o nome dele mesmo?... não sei, só lembro que viviam chamando ele de eremita lá na sala.

- Não interessa se ele vive se metendo nessas coisas, a responsabilidade é minha! – ele continuava protestando. – Além disso, esqueceu que estamos falando do Sven, né?
Ué, e o que tinha isso a ver? Levantei pra tentar escutar mais de perto da porta.
- Mana, você sabe que ele deve ter a idade do Shian... como você acha que eu me sinto sabendo que ele tá aqui em casa?

Ele parou por alguns segundos de falar, e depois baixou a voz de modo que eu tive que quase botar a cabeça pra fora do quarto pra ouvir. Foi difícil, mas deu pra ouvir uma pontinha.

- Ele é neto do dono e filho do diretor da cadeira inteira, Soph. Esconder ele aqui com certeza vai dar problema pra mim depois... aliás... eu já tô tendo problemas o suficiente tendo que lidar com o fato de que ele tá aqui na minha casa, deitado na minha cama. Como você acha que eu me sinto?

Suspirei. Então era isso. Eu no mínimo era um rebelde sem causa que dava nojo pra ele. Tudo que eu tinha pensado – e sentido – a noite inteira não servia pra nada. Ele era só um cara comum, e pensava a mesma coisa que todo mundo pensava de mim. Que perda de tempo.

Levantei, e aproveitei a pausa que ele deu pra olhar um pouco do quarto. Sem dúvida era o quarto dele; estava cheio de livros e gramáticas e dicionários e manuais sobre provas de concurso público. Mais um que queria ganhar dinheiro fácil do governo. Nada pra fazer mesmo, comecei a revirar as apostilas dele. E até que surtiu efeito: bem lá embaixo, embalado dentro de um saco plástico, tava um álbum de fotos. Enquanto isso, ele, lá fora, agora tinha perdido um pouco do desespero e falava como se estivesse desabafando.

- Você não sabe como é horrível ter ele por perto, eu nunca sei o que fazer... eu sei que ele me odeia, mesmo assim eu tento conversar com ele, tento agir normalmente com ele, mas sinto que nada do que eu faço dá certo, sabe? Acho que ele nunca vai gostar de mim...

Aquela frase me deixou realmente pensativo. Será que aquilo era pra parecer o popular, pra dizer na sala dos professores que ele tinha amizade com todos os alunos? Será que era pra se aproximar do meu pai, ou do meu avô? Ou será que era simplesmente comigo? O que ele teria visto em mim pra querer me agradar tanto assim?

- Ah, tudo bem, eu entendo... bem, vou deixar você dormir em paz, então. Desculpa ter te ligado a essa hora, é que eu realmente queria conversar com alguém...

Botei o álbum de volta no saco imediatamente e ajeitei tudo como estava. Voltei o mais silenciosamente que pude pra cama, enquanto ele ia se despedido da pessoa e desligando o telefone. Fechei os olhos, fingindo que estava dormindo, esperando que ele fosse vir pro quarto, mas me enganei: pude ouvir os passos dele se afastando em direção a algum outro cômodo.

Fiquei mais alguns minutos deitado, sem saber direito o que fazer. Eu já não tinha mais certeza se ia poder seguir adiante com o plano. E o pior, eu sequer lembrava porque tinha começado tudo aquilo afinal. Ele era uma pessoa bem diferente da que todos viam na escola. E o Saffron daquela carona e daquele apartamento era muito mais agradável que o engomadinho que puxava minha orelha no colégio.

Quando menos percebi, ele já estava voltando pro quarto, e dessa vez não deu nem tempo de assumir uma posição defensiva. Ele abriu a porta e me viu sentado na cama, acordado, mas quem mais se assustou fui eu: ele ainda estava com a roupa encharcada, até a meia branca toda encardida.

- Ei... – ele acenou pra mim baixinho, e foi andando até a minha direção. – Como se sente? Sua cabeça já tá melhor?

- Uhum... – na verdade, vê-lo ali ensopado me deixou bem sem graça. Eu já não entendia mais nada. E a coisa piorou mais ainda quando eu vi o que tinha na mão dele: uma caneca de café.

- Trouxe pra você. – ele botou a caneca na minha mão e ficou me encarando enquanto mostrava um comprimidinho. – Só pra ter certeza, sabe?

Não sei. Aquilo tudo parecia estranho demais. Mesmo assim, tomei o remédio e o café. Pena que tava doce. E um pouco fraco demais pro meu gosto.

- Já tô bem, valeu. – entreguei a caneca vazia de volta pra ele.

- Eu consegui o contato dos seus pais, o seu pai disse que você foi dormir na casa de um amigo. – ele estava realmente sério enquanto falava isso.

- E daí? Vai me passar sermão por causa disso? – naquela hora, eu não estava nem um pouco a fim de discutir sobre aquilo. Mas se ele ia puxar esse assunto, eu já ia me preparando logo.

Só que o que eu achei que fosse levar um bom tempo acabou sendo mais rápido do que eu imaginava. Ele passou a mão no meu rosto e suspirou.

- Dos males, o menor... pode dormir aqui, se quiser. Você já tá na rua, mesmo... amanhã de manhã você vai embora pra casa. – aquilo me fez sentir algo que não consigo nem imaginar como se descreve. Eu olhava pra ele, sem saber como reagir. - Pode pegar um cobertor extra aqui no armário se precisar, eu botei sua roupa pra lavar porque tava toda ensopada...

- Eu achei que professores fossem pelo menos um tanto inteligentes... nesse tempo todo que você teve pra me trazer aqui, lavar minha roupa e ligar pra minha casa não passou nem um minuto pela sua cabeça tirar essa roupa e botar algo seco?

Eu não sabia porque tava sendo tão grosso com ele. Na verdade, eu tava puto. Tava morrendo de vontade de levantar e dar um soco nele. Por que?...

- Ah... – ele parecia ter percebido aquilo só agora. – Não tem problema, eu boto na máquina quando for bater o outro uniforme da semana.

Isso não tem nada a ver com o uniforme, seu merda, tem a ver com você!

- Olha, eu tô com dor de cabeça. Dá pra por favor cair fora e me deixar dormir?

Saffron fez uma expressão surpresa ao me ouvir falar aquilo. No entanto, ele não disse uma palavra sequer, só acenou com a cabeça e foi saindo do quarto.

- Qualquer coisa pode me chamar, viu? – ele apagou a luz e deixou o ventilador na potência mais alta. – Eu vou dormir na sala, se você sentir dor ou calor ou frio ou...

- Porra, eu não sou surdo! Se manda logo, eu tô com sono!

Ele acenou com a cabeça de novo e bateu a porta devagarinho. Eu só fiz deitar a cabeça no travesseiro.

Filho da puta...


Última edição por Len-chan em Sex Fev 11, 2011 7:20 pm, editado 1 vez(es)
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Rescue Me. Empty Quatro.

Mensagem por Len-chan Qua Jan 12, 2011 11:48 pm

Lenna-chan, a autora e agora legitimamente Engenheira escreveu:Olá!~

Não se esqueçam de que esta fanfic tem relação indireta com a Chama Prateada. A cada rp da Chama Prateada realizado, estima-se que pelo menos 900 toneladas de material de construção voam pelos ares.

Esteja avisado.


[4. Leon]
A manhã seguinte surgiu rápido demais, até. Acho que foi porque acabamos indo dormir muito tarde no meio de tudo que aconteceu. Mesmo assim, eu não tava com a mínima vontade de levantar quando abri o olho e vi o quarto todo aceso. Olhei pra perto da porta, e o relógio na parede tava marcando oito da manhã. Puta merda.

Mas tinha alguma coisa estranha ali. Dava pra ouvir um barulhinho do lado de fora, como se estivessem discutindo sobre alguma coisa.

- Ah, vai, eu não vou fazer barulho!

- Já falei que não, eu mandei você ficar aqui! E vá tratando de ficar quieto, não quero bagunça aqui hoje!

Pois não deu tempo nem de pensar. Quando eu tava começando a especular o que era, a porta do quarto abriu, e um moleque loiro de uns 10 anos entrou.

Fudeu. Belo dia pro irmãozinho do professor resolver visitar ele, quando tinha um aluno dormindo clandestinamente na casa dele.

Pois o pirralho não se fez de rogado. Entrou, ficou me olhando, depois foi até o armário e pegou um sei lá o que do meio de um monte de caixa. Ele ia sair, mas parou pra me olhar de novo.

- Tá olhando o que, fedelho? – disparei.

E nessa hora, o Saffron entrou, só de bermuda e com uma cara de amanhecido que dava vontade de rir. Ficou olhando pra mim e pro moleque, sem saber o que falar, até que o loirinho soltou:

- Ô pai, esse menino é seu aluno, é?

Foi a minha vez de ficar chocado? Filho? O Saffron ainda tava na casa dos vinte e já tinha um filho, e ainda por cima daquele tamanho? Puta merda. Tinha alguma coisa errada no mundo.

- É, Leon, é meu aluno, e eu falei pra você não vir acordar ele! Anda, vai lá pra sala brincar!

- Eu disse que queria pegar o álbum do Max Steel! A culpa é sua que fica jogando as minhas coisas no meio dos seus livros! – protestou Leon, já saindo pela porta do quarto. – E aquele menino tem cara de babaca, o Yoh era bem mais legal!

O moleque foi lá pra direção da sala, e eu fiquei encarando o Saffron, chocado. Ele não parecia incomodado com a situação, apenas falou baixinho:

- Desculpa por isso... não quer tomar logo café já que tá acordado? Não tem muita coisa como deve ter na sua casa, mas acho que é melhor do que ficar com fome...

Eu ainda tava tentando digerir o que tava acontecendo ali. Saffron era no mínimo casado. E tinha um filho de dez anos. Isso enterrava tudo que eu sabia – ou achava que sabia dele. Mas ele não usava aliança... pelo menos eu nunca tinha visto ele usar. Será que era divorciado?

De qualquer forma, não adiantava ficar ali pensando. Levantei pra dar sinal de que ia comer, mesmo, e fomos andando juntos até a cozinha. Aliás, juntos é ironia... aquele apartamento era tão apertado que duas pessoas não passavam juntas no corredor. Ainda passamos na frente de mais um quarto, onde ficava o telefone – era provavelmente onde ele tava ontem tagarelando – e tinha um monte de coisa espalhada por dentro, e finalmente chegamos na sala, onde o tal do Leon tava sentado no sofá assistindo desenho e escrevendo alguma coisa no álbum.

Foi aí que descobri que aquilo era um apartamento. Primeiro, que do lado direito, perto do sofá que tava o moleque, tinha uma sacada bem estreitinha, com um daqueles varais de piso e a vista de fora indicava que a gente tava mais ou menos no alto – talvez quinto ou sexto andar. Segundo, porque aquele lugar era pequeno e apertado – só dois quartos – e nem as casas do Minha Casa Minha Vida eram tão espremidas assim. Pelo menos eu achava.

- Filho, vou botar café pro Sven, não vai querer comer nada mesmo? – bem, atencioso o Saffron era.

- Não. – aquele moleque tinha cara de ser uma verdadeira mala. – A mamãe não deixa eu sair de casa sem tomar café. Eu tô sem fome.

- Você falando assim parece até que é a sua mãe que cuida de você... – resmungou Saffron, confirmando a minha hipótese do divórcio. Mas algo no meio daquilo tudo tinha me deixado bem desapontado... eu só não sabia direito o que.

- Pai, você prometeu que não ia mais ficar falando assim dela! – Leon ficou bem irritado com aquilo. – Se num vai cumprir, então não fica mentindo como se fosse o melhor pai do mundo.

- Tá bom, Leon, você finge que não me ouviu falando isso, tá? – e ele seguiu pra cozinha, meio irritado, falando bem baixinho: - E eu finjo que não sei que a sua querida mamãezinha fala mal de mim o tempo todo...

Bom, eu não tava nem aí pros problemas familiares do professor, então tratei de ficar olhando a casa dele enquanto ele entrava na cozinha. A sala era bem apertada, e a mesa de jantar da esquerda tava metade com comida, metade com um monte de papéis e um notebook da Acer. Na estante onde ficava aquele projeto de televisão dele (22 polegadas, e nem era LCD... mais ou pouco e ela seria preto e branco), tinha a prova da minha especulação: uma foto do Saffron abraçado com uma mulher loira, meio com cara de vagaba, e um moleque loirinho no colo dele. Ele tava de aliança na foto.

- É sua mãe? – virei a foto pro Leon, ele olhou rápido e acenou que sim com a cabeça.

O Saffron ainda tava enrolado na cozinha, então decidi puxar papo com o moleque. Deixei a foto no lugar e fui sentar do lado dele no sofá (que não era nem de couro, mas pelo menos era de 3 lugares).

- E você dorme naquele outro quarto ali?

- Eu não moro aqui, só venho visitar de vez em quando. – ele não tava nem olhando pra mim, mas pelo menos tava falando. Não era tão ruim assim. – Papai me deu a chave, aí como eu entro mais cedo na aula dia de sexta e não tem aula de música, eu venho pra cá e ele me leva pro colégio.

- Ah, saquei... – ele era mesmo responsável. E eu ainda continuava estranhando tudo aquilo. Pensei em perguntar mais coisas, mas bem nessa hora o Saffron apareceu trazendo um bule de não sei o que.

- Tá na mesa, vem Sven... – ele foi botando as coisas na mesa, e realmente não tinha muita coisa: era só café com pão. Mas era muito melhor que ficar sem comer, ou ter aquele bando de comida como era o café de casa e ter que aturar a minha família na hora de comer.

Por sorte dessa vez ele separou o café preto do leite, e ainda não tinha colocado açúcar. Tão bom... só tava um pouquinho fraco, claro, mas era quase impossível ele saber o meu gosto pra café, então resolvi perdoar.

- Ô pai, a gente vai sair amanhã? – pela primeira vez em um bom tempo, o moleque parou de olhar a tv pra virar pra gente.

- Vai, vai sim... – reparei que o Saffron comia muito pouco. A xícara dele tinha menos da metade de café da minha, e o pão era metade de uma metade. Estranho. – Só acho que vamos ter que ficar aqui pelo parque mesmo, tem problema?

- Claro que tem! – Leon ficou realmente irritado com aquilo. – Você prometeu que a gente ia no Festival do Sorvete lá do shopping!

- Ué, você quer tanto assim ir ao shopping?

- Claro, amanhã é quando começa a pré-venda do novo lote da coleção Onda 6 do Hot Wheels! – ele abriu o álbum do Max Steel e tirou um folheto com um monte de fotos de carrinhos. - Ainda falta pra mim o Ford Thunderbolt, o Chevy Bel Air e o Lamborghini Reventon Spyder, sem falar que semana passada eu fui tentar comprar o Hollowback e quando eu cheguei na loja já tava esgotado!

- Heh, ainda bem que não sou eu que pago todos esses carrinhos pra você... – Saffron deu uma risadinha. – Fico feliz só de poder te levar pra escolher.

- Então quer dizer que a gente vai?! – o menino começou a pular no sofá. Era por isso que tava tão velho e sujo.

- Vai sim... só que vamos ter que ir de ônibus, vou ter que deixar meu carro na oficina e não sei se seu avô vai poder me emprestar o dele.

- UHUUUUUUUUUUUUU! É mais uma missão para o agente Demeter! – ele se desatou a pular do sofá pro chão. – Mooooooooodo... TURBO!!!

- Filho, se aquieta, não quero os vizinhos reclamando do barulho! Semana passada eu levei uma bronca desse tamanho do síndico por causa daquela sua brincadeira de ficar jogando lata de alumínio na escada.

- Mas eu precisava fazer aquilo! Eu precisava de um efeito sonoro de impacto pra quando o Cytro explodisse o Toxon, que nem no desenho!

- Mas os vizinhos não precisavam ouvir a explosão do Toxon... sinceramente, por que você não escuta nada do que eu te digo, Leon?

A cada segundo que eu passava ali, via que a coisa era bem diferente do que eu imaginava. Geralmente filhos de pais divorciados não tinham uma boa relação com um dos membros da família, e aquilo não acontecia com o Leon. Ele parecia ser tão apegado com o Saffron quanto com a mãe. Na verdade, mesmo que a gente não estivesse conversando nada, a casa dele tinha um clima agradável, com o filho dele se divertindo e achando graça do Hot Wheels Battle Force Five e ele lendo um livro enquanto comia.

Ao mesmo tempo, tudo aquilo fazia eu me sentir um intruso. Aquela era a casa dele, a família dele, enfim, a vida dele – e eu não tinha nada que estar ali, atrapalhando tudo como se eu tivesse algum direito de me meter naquilo. Além do mais, se ele tinha mulher e filho a teoria de que ele era gay ia toda pro saco, e eu não tinha mais nada pra fazer ali.

Eu me sentia de certa forma frustrado. Aquele pouco tempo que passei com ele foi divertido... e eu sentia que assim que fosse embora ia voltar tudo ao normal, e eu sentiria ainda mais raiva dele por ficar me perturbando na escola. Bem que ele podia pelo menos parar de me importunar...

Terminei de tomar café, e o dele ainda tava lá, ele mal tocava na comida. Leon viu que tavam terminando os programas de desenhos, e levantou do sofá.

- Ei, pai, posso pegar seu pc e ficar jogando lá no quarto?

- Tá, pega... – Saffron apenas acenou com a cabeça apontando o notebook em cima da mesa. – E vê se não vai passar o resto do dia no Ragnarok, daqui a pouco a gente vai sair!

Ele pegou o computador em cima da mesa e foi pro quarto do pai. Talvez fosse uma boa hora pra tentar puxar conversa.

- Diz aí, teu filho toca o que?

- Guitarra. – ele parou de ler pra me olhar enquanto conversava. – Ele toca faz um ano e meio já, até que tá se saindo bem...

Não deu pra segurar. Comecei a achar graça na frente dele.

- Que bizarro... um cara todo amarrado e engomadinho como você tendo um filho que toca guitarra. Você não acha isso estranho?

- Ué, fui eu que o matriculei na escola... – ele ergueu uma sobrancelha. – Ele era muito hiperativo, daí a professora dele, que é minha amiga, disse que era bom ele fazer algum instrumento ou um esporte pra liberar um pouco essa energia excessiva dele, e ele melhorou, começou a se concentrar mais no colégio... veja bem, se ele tocando guitarra já faz toda essa destruição, imagine antes!

- Então é você que paga as contas dele, é?

- Mais ou menos... – ele suspirou. Parecia que dinheiro era um assunto bem complicado pra ele. – Pago a escolinha de futebol, as aulas de guitarra e a escola eu não preciso pagar. Antes eu pagava metade do valor porque sou professor, mas esse ano ele pegou uma bolsa de estudos e deu uma aliviada... daí o inglês e o futebol tem que pagar separado, então eu tô pagando um e a mãe dele paga outro.

- Não acham que é muita coisa pra um moleque de 10 anos fazer?

- Bom, eu não acho... eu sempre disse pra ele que se ele estivesse se sentindo cansado que ele podia parar alguma atividade, mas ele tem se saído bem e dá pra ver que ele gosta, sabe? Ele foi comigo escolher a guitarra, quando tem aula ele anda com ela pra cima e pra baixo, e ele gosta de conversar do futebol...

- Você comprou a guitarra também?

- É... – ele tava ficando vermelho. Fiz uma nota mental pra perguntar pra alguém quanto um professor de ensino médio ganhava na Silvério.

- Vem cá, a mãe dele não paga nada? Por que você tem que ficar assumindo tudo?

- Bom, é complicado... - Saffron abaixou um pouco a cabeça e ficou brincando com o pão. Aí eu reparei que ele ainda não tinha comido nada, o café tava frio e ele nem tinha encostado na comida.

Cara, definitivamente TINHA alguma coisa errada com aquele homem. Ele não comia! Das duas uma, ou ele era anoréxico/bulímico, ou tava tão endividado que deixava de comer pra economizar. Mesmo assim, resolvi não falar nada.

- Seu casamento com ela não tem cara de ser o amor eterno que você achava que fosse ser quando casou. – comentei, meio por alto. – Além disso, isso tudo tem cheiro de gravidez precoce...

Ele concordou com uma cara de quem não estava muito feliz com tudo aquilo. Acho que aquele não tinha sido o projeto de vida que traçou pra si quando fez a redação do “o que vou ser quando crescer” na primeira série.

- Eu tava com 16 anos, a gente tinha acabado de se conhecer praticamente, daí já viu né? Fui imaturo demais... sabe aquela história de “nunca vai acontecer comigo”? Bom, eu mandei a camisinha ir tomar banho, e acho que já dá pra imaginar o que aconteceu. – e ele continuava brincando com o pão. – Na nossa primeira vez ela já engravidou.

Reforcei mentalmente pra sempre, SEMPRE usar camisinha quando fosse levar alguma garota pro ginásio. Meu futuro já tava bem encagalhado sem um filho aos 16 anos.

– Vocês casaram mesmo ou só se amigaram?

- Casamos no civil, não teve como fazer uma festa religiosa... – ele finalmente mordeu um pedaço do pão. – Os pais dela botaram ela pra fora, sabe? Meu pai ficou louco quando soube, meu irmão mais velho fez uma cara de quem ia me linchar, mas no fim eles acabaram me apoiando... eu tinha acabado de passar na faculdade, imagina a confusão.

- E aí?

- Bom, ela foi morar na minha casa, como era de se esperar. Comecei a trabalhar pra ajudar a sustentar a gente, porque meu pai disse que só tava emprestando o teto, que eu devia começar a me sustentar sozinho. Trabalhava de manhã e fazia a faculdade à noite, comecei a fazer bico no final de semana... levei dois anos pra dar entrada nesse apartamento, depois me formei na faculdade e aí não parei mais de trabalhar.

Acabei me servindo de mais um pouco de café. Era incrível como ele tinha passado por tudo aquilo e não tinha uma ruga sequer. E mesmo assim, ele viva tranquilão, tendo que criar um filho de 10 anos mais compulsivo por carrinhos do que mulher comprando sapato apenas com um salário de professor.

- E aí você virou professor.

- Demorou um tempinho, eu tive que terminar a faculdade e mais uma especialização... foi mais ou menos por aí que o casamento foi pro buraco.

Imaginava. Uma mãe que podia sustentar coleções inteiras do Hot Wheels não ia deixar o marido morando num ovo de codorna daqueles sem um bom motivo.

- A guarda do moleque é dela, né?

- Aham... tem dinheiro, tem casa grande, carro do ano, o juiz entende que isso ajuda na hora de criar o menino. – era a primeira vez que ele falava aquilo com tristeza. Não poder criar o filho direito feria o orgulho dele. Aquilo sim era um pai dedicado. Por um minuto até tive inveja... – Ainda dei sorte de pegar a guarda conjugada, pelo menos eu vejo ele de vez em quando... ele toma café comigo sexta, dorme aqui em casa e sábado eu levo ele pra passear, converso, essas coisas. A mãe dele apanha ele domingo de manhã.

- Parece legal... digo, vocês se divertem, e tal. Ele gosta de fazer as coisas com você... – virei o café todo, e ele levantou pra recolher as coisas da mesa.

- Ah, mas a gente se dá muito bem, sabe? Mesmo com essa separação, e tudo o mais... eu diria que a gente se entende em tudo, mesmo com a mãe dele falando toda hora que eu...

Aí ele travou. Parece que ele percebeu que ia falar merda e calou a boca na hora. Mas tarde demais, aquela informação me interessava.

- Você?...

- Ah... bom, que eu não... que eu não presto, sabe? – não tinha dúvida, ele tava escondendo alguma coisa. Ele era tão patético que dava pra ver que aquilo não era a verdade dos fatos, apesar de ter alguma coisa a ver com a resposta que ele deu. Então ele realmente tinha um podre... um podre que eu podia aproveitar se quisesse. – A gente não tem se dado muito bem desde que se separou, acho que você percebeu isso também.

Ele foi levando as coisas pra cozinha, e eu fui me jogar no sofá pra ver o que tava passando. De lá do quarto que o Leon tava, deu pra ouvir ele gritando.

- FILHO DA PUTA! VAI JOGAR O MOB EM CIMA DA SUA MÃE, TEMPLAZINHO DE MERDA!

- Ei, Leon, quer parar de gritar desse jeito?! – respondeu Saffron de lá da cozinha. – E eu já falei pra não ficar falando palavrão aqui dentro de casa! Se a tua mãe não te dá educação lá, é problema dela, mas aqui você vai ter de se comportar!

E a casa ficou em silêncio de novo. Só dava pra ouvir o barulho da pirralha na televisão girando a roleta, e de algum vizinho gritando em outro canto do prédio. Troquei o canal, mas como não tinha TV a cabo, naturalmente não tinha nada de útil.

Como o Saffron ainda tava ocupado na cozinha lavando a louça e fazendo mais não sei o que, e o Leon tava com cara de quem não queria companhia naquela hora, resolvi olhar a estante de novo. Ele tinha jeito de quem gostava de fotos: fora aquela da família antes do divórcio, tinha umas tantas outras do Leon tocando guitarra, se apresentando em alguma merda da escola, com uns moleques do futebol, e mais uma do lado do pai, em um parque de diversões. É, eles definitivamente se davam bem.

Tinha algumas com o resto da família também. Uma com um cara ruivo que parecia ser o irmão, uma outra com o pai (que era ele cuspido e escarrado), uma mulher de cabelo castanho que eu chutei que era a mãe, o ruivo, o eremita da minha sala e o Leon. E falando em colégio... não é que ele tinha uma foto com a Sophia?

Em uma das prateleiras, tinha uma mini coleção de álbuns de fotos. Nada pra fazer, ninguém pra conversar, puxei um com capa aveludada roxa e comecei a folhear. Dei sorte: era o álbum de fotos da formatura dele.

Todos com becas pretas e roxas, ele no lado esquerdo e sorrindo que nem um babaca. Imaginei que ele devia ter passado por poucas e boas pra ter conseguido se formar, com uma mulher chata e um filho de sei lá quantos anos pra sustentar. O rosto dele não tinha mudado muito, mas parecia só um pouco mais novo. Ele não tinha mudado tanta coisa de lá pra cá.

E aí a chatice de sempre. Fotos com a família, fotos com os amigos, fotos com um carinha de cabelo comprido, fotos com o filho no colo dele brincando com o diploma. Se aquele fosse realmente o diploma eu sentiria pena, porque o Leon tava apertando aquilo como se fosse fugir da mão dele.

Bem, não era nada muito interessante, mas pelo menos dava pra ter uma noção de como ele era há alguns anos atrás. Nem sequer me dei ao trabalho de ver tudo. Fechei o álbum e virei de pé pra colocar no lugar da estante que encontrei.

Foi aí que alguma coisa escorregou pra fora. Acho que era uma foto que tava solta. Fui me abaixar pra pegar ela do chão, e quase engasguei quando vi.

Era da mesma formatura do resto do álbum, e tinha o professor com o mesmo garoto de cabelo comprido que aparecia em um caralhal de fotos. A diferença é que eles estavam meio abraçados, com o rosto colado, se beijando.

Puta que pariu!!!


Última edição por Len-chan em Sex Fev 11, 2011 7:20 pm, editado 1 vez(es)
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Rescue Me. Empty Cinco.

Mensagem por Len-chan Qui Jan 13, 2011 6:57 pm

Lenna-chan, a autora louca pra comprar muito mangá na Liba escreveu:Olá!~

Essa fic tem violência, palavrões, e é tão cheia de agressividade, putaria e sangue que mais parece uma despedida de solteiro.

Tome cuidado.


[5. Passado]
Tá, depois de tudo aquilo na casa dele eu confesso que não tava esperando aquilo. Ele era viado mesmo! Fiquei olhando aquela foto doidinho, sem saber sequer o que pensar. O cara tinha jeito de ser da mesma idade, e tava com uma beca azul. Com certeza não era do mesmo curso, mas estavam se formando juntos.

Tratei de pegar o álbum de novo e fui vendo todas as fotos que eles apareciam juntos. Como eu não tinha reparado que eles estavam meio agarrados em quase todas elas?! Fiquei observando se algum deles tava de aliança. Pelas fotos, não deu pra ver nenhuma, só o anel de formatura.

Alguma coisa caiu lá na cozinha, e eu me lembrei que ele com certeza não ia gostar de descobrir que eu sabia daquilo. Coloquei o álbum de volta no lugar e, só pra garantir, coloquei a foto dentro da minha mochila – que por sorte ele tinha deixado perto do sofá. Achei que ele fosse voltar pra sala, mas nada aconteceu, então tratei de fingir que passei esse tempo todo assistindo televisão como um bom menino.

Mesmo assim, eu não tava com cabeça pra assistir nada, nem que fosse filme pornô com mulheres peitudas e gostosas. Será que foi por isso que o casamento dele com a mulher lá não tinha dado certo, porque ele descobriu que mulher não era muito a praia dele? Ou será que ele botou um fim no casamento pra ficar com aquele cara?

E aquilo não era tudo. O Leon não tinha falado algo sobre um tal Yoh? “O Yoh era bem mais legal”, ele disse. Será que isso significava que o filho sabia que ele era gay, e ainda por cima conhecia esse cara? Será que ele era o tal Yoh? E toda aquela história de “ela vive falando que eu não presto”... claro que tinha a ver com isso!

Aquilo tudo tava muito interessante. Tão interessante, que eu queria descobrir um pouco mais. Eu só não sabia como.

- Tá passando alguma coisa que preste? – e nessa hora, o Saffron veio da cozinha pra falar comigo. Olhei pra ele, mas por mais legal que fosse ficar falando da vida dele, eu tinha uma coisa mais séria pra descobrir. Tratei de levantar do sofá.

- Já vou.

Ele ficou me encarando como se em vez de ter dito “já vou” fosse um “você é gay, seu putinho”.

- Ué... já? Eu ia te levar, se quiser me espera, o carro tá ruim mas pelo menos dá pra andar...

- Não precisa, fica aí. De boa, eu sei achar o caminho sozinho.

- E pra onde você vai?

“Te interessa? Eu não tenho que ficar te dando satisfação do que eu faço...”.

Bem, se fosse uma situação normal eu até diria isso, mas... não sei. Senti que não precisava ficar dando patada nele toda hora. Mesmo ele sendo boiola.

- Pra casa...

- Tá, eu vou te deixar lá... – ele deu meia volta e foi pegar a chave do carro em cima do móvel. Fui até ele e puxei o ombro dele.

- Não precisa, sério... teu filho vai ficar chateado. Vai lá brincar com ele, arrumar tuas, coisas, sei lá... não precisa ficar bancando a babá pra mim.

Ele com certeza tava ficando desconfiado dessa minha insistência em ir embora. Mesmo assim, não falou nada; virou de novo pro móvel, pegou a carteira e abriu.

- Vinte reais serve pra você tomar um táxi?

- Que táxi o que, eu vou só... é só me falar onde tem um ponto de ônibus...

- Você não tá indo pra casa? – ele me encarou. – Então acho que daqui pra lá não dá mais que isso. Pode ficar com o troco se sobrar. Essa rua aqui não é muito segura, e a essa hora deve estar deserta. Você vai voltar de táxi.

- Toda vez que seu filho vem pra cá você paga um táxi pra ele? – ergui uma sobrancelha.

- A mãe dele tem carro, o motorista deixa ele na porta do prédio, e daqui ele só sai comigo. – o tom de voz dele continuava sério. – Mas se você quiser, podemos chamar o seu motorista pra ir te levar em casa...

Bem, não tinha muito o que argumentar ali, ele não ia me deixar sair se eu não aceitasse. E eu não preciso nem comentar o que achava da ideia do meu motorista vir aqui. Peguei o dinheiro da mão dele, botei no bolso de trás e joguei a mochila na costa.

- Então... posso ir agora?

Saffron abriu um sorriso de quem estava se divertindo.

- Bom, você que sabe... mas vai mesmo querer ir pra casa assim?

Foi aí que eu lembrei que ainda tava com a cueca e a camisa dele. Porra! Ele começou a achar graça da minha cara e foi buscar a roupa que ficou secando no varal lá da sacada.

- Já estão secas... pode se trocar lá no meu quarto. Eu te espero aqui.

Não levei mais que cinco minutos pra trocar de roupa, mas foram os cinco minutos mais xingados da minha vida. Porra, quem ele pensa que é pra ficar me fazendo de besta? Assim que botei o uniforme de novo, voltei pra sala. Fui andando até a porta, e ele se virou pro corredor.

- Ô Leon, vou deixar o Sven na portaria, não abre a porta pra ninguém!

- Sim senhor! – respondeu o moleque lá de dentro.

Dei de ombros, e fomos descendo juntos até a portaria do prédio. Fui direto pro único elevador do corredor, e apertei o botão, mas a luz não acendeu.

- Ué?...

- Pra variar, deu pau de novo... – Saffron olhou para aquilo como se não houvesse novidade. – Anda, vamos de escada, mesmo.

Bem, foi aí que eu descobri que o prédio dele tinha seis andares. E que ele morava no quarto andar. E que, como eu não acordei até estar no quarto dele, ele provavelmente me carregou no colo na noite passada. Será que era tudo preocupação?

O prédio não tinha nada de bonito, e parecia velho demais. As paredes do primeiro andar estavam cheias de limo por causa de infiltração, e tudo ali parecia bagunçado. Como uma pessoa que fez faculdade e podia estar ganhando bem se prestava a morar numa pocilga daquelas, eu não sabia.

Ele ligou do celular dele pro ponto de táxi, e em menos de cinco minutos o carro já tava me esperando lá na frente. É, não ia ter jeito de fugir.

- Você tem certeza de que já tá bem? – perguntou ele, parecendo mesmo preocupado.

- Saffron, eu só fiquei um pouco tonto com a batida, não vou morrer nem nada do tipo. – respondi. Por que ele tinha que se incomodar tanto, afinal?

- Tá... vê se não vai faltar aula hoje, então. – ele passou a mão na minha cabeça de um jeito bem simpático. – Se cuida...

Eu apenas acenei e entrei no carro. Quando abri a janela pra ver, ele já tava entrando no prédio, e alguns andares acima tava o Leon olhando tudo pela janela. Garoto esperto, viu? Gostei dele.

O táxi pra minha casa deu menos de dez reais. E ainda dei mais sorte ainda: todo mundo tinha saído em casa. Só estavam os empregados. Pedi pra empregada preparar uma bandeja com alguma coisa boa pra comer e subi direto pro quarto. Tirei a roupa, troquei de cueca, joguei tudo no chão, tirei a foto da mochila e joguei o resto em cima da cama.

No fim, eu dei muita sorte. Se ele descobrisse que eu vi – ou pior, que eu tinha roubado aquela foto – eu ia ficar muito enrascado. Mas aquele não era meu maior problema agora. Esperei a empregada me trazer os sanduíches com café preto, comi um pouco e tomei minha primeira providência: ligar o pc.

No fim, o Saffron era formado, e se ele tinha dito que financiou aquele apartamento pra morar com a mulher e o filho queria dizer que ele tava morando aqui na cidade quando se formou. Ou seja, a faculdade só podia ser daqui. E se ele e o outro viadinho estavam se beijando de bata, tinham se formado juntos... esse era o primeiro passo pra descobrir quem ele era.

Aquilo era a coisa mais fácil de saber. Assim que o computador terminou de ligar, abri o navegador e digitei minha palavra mágica no Google: Saffron. Ok... talvez não tão mágica assim. Saffron era o nome de uma planta azul, de uma ativista africana e de um tempero com raiz forte. Ah, e era nome feminino, segundo o lindosnomesproseubebe.com. Que merda.

Bem, eu no mínimo ia precisar de um sobrenome. É, pela primeira vez na vida a escola ia servir pra alguma coisa útil... empurrei a cadeira do computador na direção da cama e comecei a remexer meus papéis. Achei facinho o que tava procurando. “3ENM-A, Primeira Avaliação Bimestral, disciplina Português Contemporâneo, professor Saffron Demeter.” Isso me fez lembrar que eu não sabia o que tinha de contemporâneo na matéria dele, mas aquele não era o X da questão...

Nova busca no Google: Saffron Demeter. Dessa vez apareceu um site sobre mitologia, sobre uma mulher chamada Saffron que tinha num sei o que chamado Demeter. Não arrumei saco pra ler, ainda mais que tava em inglês.

Mas dessa vez meu intento deu certo. Saffron Demeter, acadêmico de Licenciatura em Letras do ano de 2003. Não é que caí bem na página do currículo virtual dele? Cliquei no link... e o link foi direto pro site da escola. Merda... depois dessa, vou lembrar de fuçar um pouco esse site quando quiser descobrir alguma coisa sobre um professor.

Bem, ele se formou em 2003, em letras. Quando fui ver, a faculdade era justamente a Universidade Silvério Franco. A maldita USF, que ficava do lado do meu colégio. Mais um território que a minha família comandava.

Apaguei tudo da barra e redigitei: “formandos 2003 letrass USF”. O google corrigiu minha busca, depois me jogou direto onde eu queria: a lista de formandos. E o melhor: com as fotos do convite de formatura. Amanda, Breno, Cindy, Felipe, Gabriella, Juliana, Monna, Raíssa, Roselle... Saffron. É, era essa turma mesmo. Era a mesma cara deslavada da foto, mas tava com terno e gravata e uma expressão séria, tipo aquela cara de cu que se faz quando vai tirar foto 3x4.

Repassei a página toda, procurando a tal criatura de cabelo comprido, e não achei. O único que tinha um cabelo comprido o suficiente, o tal do Filipe Maia, tinha espinhas demais pra ser o mesmo cara da foto. Fail. Reclinei um pouco na cadeira do computador, tomando mais um pouco do café, e fiquei encarando a foto. Tinha que ter alguma coisa ali que me ajudasse a descobrir quem era esse cara.

Bom, a única coisa que eu tava conseguindo extrair dali era que os dois gostavam muito de se beijar. Um dos braços do Saffron tava passando por trás do pescoço do moleque, e a mão colada no rosto dele, enquanto o moleque tava puxando ele pela cintura, colocando as mãos de um jeito... bom, eles sabiam o que estavam fazendo.

A única diferença marcante entre eles era que a cor das batas era diferente. Entretanto, eu não sabia o que picas significava uma beca azul e uma roxa. Talvez...

Tirei o óculos e limpei a lente com cuidado no lençol. Isso me fez pensar, será que eu dormi com o óculos na cara e o Saffron não tirou? Assim que tava tudo limpo, olhei a foto de novo. Dava pra ver o símbolo no capelo do moleque: uma nota musical.

Matei. Entrei no site da USF, vi a lista de todos os cursos – e dei de cara com Bacharelado em Música, ênfase Erudita. Troquei de novo a busca - dessa vez pra “formandos 2003 musica USF” – e assim que apareceu a lista, eu achei o patife.

Johann Stadtfeld Kerwald. Não tinha nem como ter dúvida: ele tinha o mesmo cabelo preto comprido, olhos escuros, um brinco discreto em uma das orelhas. E era bonito. O rosto dele, o perfil, até a cara que ele tava fazendo na foto, parecia um daqueles modelos de roupa. É, o Saffron sabia escolher bem.

Por via das dúvidas, salvei todas as fotos dele que achei, junto com o nome e os dados da formatura dele e do Saffron. Aquilo ia acabar me sendo útil uma hora ou outra. Dei a última mordida no sanduíche, virei o café todo goela abaixo, escaneei a foto e salvei em várias pastas, uma em cada partição. Recuei a cadeira de novo e fui dormir.

Primeira etapa, concluída.

----------

A sesta da tarde tava tão boa que nem tava a fim de acordar mais. Quando acordei era umas 3 da tarde, e eu não tava a fim de fazer mais nada, claro. Na verdade, nem sei o que foi que me deu pra querer ir pro colégio. Comi meu almoço bem devagar, troquei de roupa e me mandei.

Entrei pra assistir alguma coisa da aula justamente depois do intervalo, e adivinha de quem era? Ele mesmo. Na verdade, eu acho que ele se assustou de me ver entrando na aula dele com menos de uma hora de atraso, até parou de falar por uns 5 segundos. Ou será... e se ele já tivesse dado falta da foto? Aí eu tava fodido de vez.

- Sven, eu sei que é quase um milagre você vir pra classe, mas pode se sentar em uma carteira, ou precisa de um convite formal pra isso? – ele falou, de repente, fazendo toda a turma achar graça.

Aquilo me deixou puto. Não foi ele que falou ontem que queria que eu chegasse cedo na aula? E agora ele me tratava assim, me humilhando na frente de todo mundo... joguei a mochila de qualquer jeito e sentei numa cadeira perto da parede, me achando o maior idiota.

E pensar que eu achei que ele fazia questão de me ver ali...

Também, eu já não tava mais nem aí pro resto da aula. Baixei a cabeça e tentei dormir, mas ele tava falando alto demais, e eu já tinha roncado demais em casa. Fiquei desenhando, olhando pela janela, divagando, até consegui cochilar um pouco.

Quando acordei, a aula já tinha acabado. Acho que tava no segundo intervalo já. A sala tava vazia, mas o material do engomadinho ainda tava em cima da mesa. Ele ainda ia voltar pra buscar as coisas, então resolvi me habilitar pra cair fora antes que ele voltasse e começasse a me passar sermão. Não queria mais ver a cara dele nem pintada.

Pois bem, eu como sou muito cagado, abri a porta da sala e lá tava ele do outro lado do corredor. Pra completar, ainda tava conversando com meu avô. Puta que pariu, era muita merda pra um dia só.

- O senhor tem certeza do que está me dizendo, professor Demeter? – eu conhecia aquela voz de unha em quadro de giz. – Sabe, o que está me dizendo pode acabar trazendo problemas a alguém, e nós sabemos que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco...

- É por isso mesmo, professor Anselm, que lhe dou certeza no que digo...

Que beleza. Lá tava o velho ameaçando o viadinho do professor. Será que se ele ia começar a desbundar e soltar a franga se ficasse com medo o bastante? Isso seria engraçado, devia ter trazido a máquina pra bater umas fotos...

- Pois muito bem. Irei investigar tudo isso a fundo, professor. E fique despreocupado, o senhor será o primeiro a saber quando alguém for punido...

E aí o velho foi embora na direção da coordenação. Aproveitei pra sair de fininho pelo outro lado do corredor, e quando me vi longe, comecei a achar graça. Aquele engomadinho quebra-pulso tava muito ferrado... ao mesmo tempo fiquei curioso. O que será que ele tinha feito pra irritar logo o meu avô?

Foda-se. O que quer que fosse, eu tinha certeza de que ele merecia. Passei o resto do dia rindo daquilo. Será que ele ia tomar advertência? Ou talvez uma suspensão? Quem sabe até fosse colocado na rua...

Foi aí que lembrei que só tinha um motivo plausível pra ele ter se encrencado desse jeito. E se alguém tivesse visto ele comigo? Aquilo começou a me preocupar... no fundo, não seria justo se algo acontecesse com ele por minha culpa.

Só tinha um jeito de descobrir aquilo: indo pra casa. E foi exatamente o que eu fiz quando acabaram as aulas, entrei direto no carro do motorista e pedi pra ele voar pra casa.

Mas a surpresa foi bem diferente do que eu imaginei. Claro que o velho já tinha decidido quem era o culpado no que quer que fosse. Assim que entrei no apartamento ele tava me esperando na sala.

- Sven, sente-se por favor.

Fazer o que, fui me sentar. Ele tava muito sério. Aquilo tava me irritando e me deixando com medo ao mesmo tempo.

- O que foi?

- Sven, pode por favor me explicar que história é essa de ficar dando voltinhas no carro dos professores da minha escola?

É, fudeu. E dessa vez foi pra mim.

- Quem disse isso?

- Não interessa quem me disse. Eu tenho meus próprios meios de descobrir as coisas dentro daquela escola, achei que já tinha lhe ensinado isso... sinceramente, onde foi que você aprendeu essas coisas? Será que já não deixei bem claro o tipo de coisa que espero de você?

- Ei, peraí, eu não...

Mas aí ele bateu palmas, e eu sabia o que aquilo significava. A porta do canto abriu, e dois caras de dois metros de altura saíram.

- Chamou, patrão?

O velho continuava olhando pra mim. Caralho, eu tava muito ferrado...

- Você ficará o final de semana inteiro em casa, de castigo. Espero que nesse meio tempo pense bastante sobre tudo que estou tentando lhe ensinar, e aprenda a se comportar como um dos Anselm.

- Ei, peraí... PERA, PORRA!

Mas aquilo era fim de discussão. Ele levantou, saiu da sala, e assim que a porta bateu os dois caras voaram pra cima de mim. Me arrastaram até o quarto de empregada e eu tomei uma surra como se não fosse ter amanhã. Só sei que quando acordei, tava jogado no quarto, todo dolorido, e ainda por cima com um braço algemado na cama.

É, eu tava fodido mesmo... mas eu sabia de quem era a culpa. E assim que o final de semana passasse, quem ia estar muito mais fodido era ele.


Última edição por Len-chan em Sex Fev 11, 2011 7:21 pm, editado 2 vez(es)
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Rescue Me. Empty Re: Rescue Me.

Mensagem por Carmen Dion Sex Jan 14, 2011 2:27 pm

*brota da terra em cima de um Diglett*
Puf! Veja só, quatro posts seguidos da Lenna! 'o'
Mas aqui estou eu, para quebrar a combo! /s

Menha noça, Lenna, já te disseram que seus capítulos são grandes?
Se tiverem dito, é mentira. São ENORMES! @.@

Então, okay... a história vai ficando cada vez mais violenta, e o Sven cada vez vai se ferrando mais... e enquanto isso, Leon xinga templários no Ragnarok! Sério, Leon me fez produzir kks /heh
Só que o vocabulário dele é um pouco mais culto do que eu esperaria de um garoto de 10 anos, vide: "Eu precisava de um efeito sonoro de impacto". Mas é claro, ele pode ter aprendido a falar assim com a TV, eu imagino /s

E o mistério começa a se formar... o que é Saffron? Além de um professor, uma planta azul, um nome feminino segundo o lindosnomesparaoseubebe.com, e uma cidade de jogos de Pokémon? Teria ele se divorciado por falta de amor?

E... logo vamos ter que assistir filmes de horror para visualizar o sangue das cenas desta fic! /s
Saiba que, mesmo que você consiga fazer 4 hit combos, tem gente acompanhando a fic, Lenna! ^-^
Dito isso, um beijo na bochecha, e até mais! '3(^^)
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Rescue Me. Empty Re: Rescue Me.

Mensagem por Len-chan Dom Jan 16, 2011 10:00 pm

Lenna-chan, a autora desesperada pra comprar Hetalia e o xxxHolic 33 escreveu:
@Carmen
Juro que fiquei super feliz depois de ver esse post /o/

Na verdade, é engraçado você comentar o tamanho dos posts/capítulos, porque eu tenho me controlado pra manter eles com o mesmo tamanho (entre 8 e 12 páginas, pelo Word). E eu só comecei a dividir em capítulos depois do cap. 9, ou seja, essa coisa toda tava que nem massa corrida pregada na parede... (que diabo de metáfora foi essa?)

O Leon é um caso particular. Tanto na fic quanto nos Rps ele tem um nível de inteligência muitas vezes mais alto até de que o pai. Ele costuma ser muito observador, então ele sempre pensa bastante nas coisas antes de tomar qualquer providência, e como ele vive imerso naquele mundo e professor viciado do Saffron, ele aprende muita coisa em pouco tempo. Acho que conforme o enredo for avançado, isso vai aparecer mais.

Não tenho certeza, mas parece que Saffron também pode significar Açafrão. E a cidade dele em Pokémon nunca foi a minha preferida, eu gostava daquela (acho que é Lavender) em que você pega a bicicleta. Aliás, a musiquinha da bicicleta é apaixonante. (E não liguem se esse comentário parecer confuso, eu só joguei Pokémon Leaf/Green e um outro, então posso estar confundindo as coisas)

E obrigado a todos que leem, isso me deixa muito feliz :3 Sério, muito muito mesmo /o/



[6. Vingança]
Foi um dos finais de semana mais longos da minha vida. Eu mal conseguia me mexer, e quando conseguia, não podia ir muito longe por causa da algema no braço. Só podia comer no quarto, tinha horário pra estudar e até pra ir mijar. Não era a primeira vez que eu passava por aquilo, mas era a primeira que eu ficava tanto tempo trancado, e ainda por cima por culpa de um filho da puta que jogou toda a culpa em mim.

Não preciso nem dizer que quando me soltaram da porra do quarto domingo à noite eu já tava com sangue nos olhos de tanta vontade de me vingar. Liguei o computador de madrugada mesmo e tratei de jogar no google o nome do tal do Johann. Eu ia descobrir alguma coisa a mais sobre esse cara custe o que custasse.

Descobri um monte de coisa que eu já sabia – ele passou no vestibular, entrou na USF um ano depois do engomadinho morde-fronha metido a professor, os dois se formaram juntos, mas ele graduou em música clássica. Mas acabei encontrando algo interessante também: ali mesmo, na USF, tinha um mestrado em Piano e uma das listas continha o nome dele.

Eu já tinha tudo que precisava pra caçar ele. Botei a foto original do bosta do professor na mochila, anotei tudo que achei importante e assim que deu saí. Claro que uma missão importante daquelas era muito maior do que qualquer coisa que pudesse acontecer no mundo, então mandei a aula de segunda à tarde tomar no cu e fui atrás dele.

Chegar na faculdade foi a coisa mais fácil do mundo. Ela era vizinha ao colégio, e os alunos das equipes de esporte usavam o mesmo ginásio que o nosso quando tinha treino e torneios. Então, não foi muito difícil convencer um dos carinhas de lá que eu ia só bem ali falar com o papai, apenas o diretor acadêmico da faculdade, pra entrar pela porta do lado do ginásio com todas as honras de um visitante ilustre. Que bom que meu pai era do tipo de pessoa que odiava ser atrapalhado, porque se aquele guardinha pilantra resolvesse subir lá pra avisar que eu tô na faculdade o pau ia comer de novo, e ia ser no meu couro de novo.

O segundo passo foi a coisa mais ridícula do mundo: chegar no prédio de Artes e perguntar pro primeiro otário que apareceu onde era a sala do amante do Goma. Eu conhecia bem os prédios de lá justamente porque era filho do imbecil do meu pai. Pela primeira vez na vida aquilo tava sendo útil.

E bem, perguntando por aí acabei achando a tal sala. Bloco 2, terceiro andar, sala 05. Não tinha erro: só de ouvir as badaladas do piano sabia que era lá que a turma da pós em música ficava. Olhei um pouco pelo vidro da porta, e vi que o pessoal tava numa baderna só, alguns conversando, alguns escrevendo, e um cara tocando piano. Na certa não tinha professor na sala.

Bati de leve na porta, e uma menina loirinha com uma bandana toda colorida na cabeça veio ver o que era. E puta que pariu, ela tinha um senhor par de peitos... uma garota daquelas, universitária e peituda, só de ter visto o decote dela já tinha valido meu passeio.

- Tá procurando alguém, fofo?

- Quero falar com o Johann, ele tá aí?

- Ah... – ela fez uma cara esquisita quando ouviu isso, e ficou me olhando meio curiosa, como se de repente tivesse aparecido um tentáculo na minha cara. Eu, hein... – Tá sim, peraí...

Ela entrou e bateu a porta de novo. A música do piano parou por um minuto, e a mesma garota voltou uns minutos depois.

- Seguinte, ele tá tirando uma peça agora... ele pediu pra perguntar se tem como vocês se falarem depois ali naquele jardim que tem lá embaixo.

Tsc... isso não tava nos meus planos.

- Vai demorar muito?

- Não, acho que uns 15 minutos... – ela olhou pra dentro de novo, e deu pra ver os peitos dela pulando. Caralho. – Não, uns 10 no máximo... pode esperar lá numa boa, ele não vai te dar cano não!

Ela piscou pra mim, e eu não tinha muito o que fazer. Até pensei em tentar chamar ela pra sair, mas resolvi deixar pra lá. Agradeci mais pra parecer legal do que por gratidão e fui pro primeiro andar esperar.

Por sorte a espera não foi um tédio total. O lugar era bem confortável: um espaço mais aberto, tipo um jardim de inverno, com plantas e algumas mesinhas. Tinha alguns poucos alunos ali, discutindo aulas, fazendo (ou copiando) deveres ou até comendo. Mesmo assim, era um lugar bem confortável pra se conversar. Eu só não sabia se era discreto o suficiente...

Bem, pelo menos eu não tive que ficar ali olhando paisagem à toa. 10 minutos depois, selado, ele apareceu. E não tinha nem como não dizer que era outra pessoa. Ele tinha o mesmo cabelo preto comprido da foto, passando um pouco do pescoço, olhos verdes meio escuros, o rosto um pouco mais velho comparado com a foto.

Na verdade, acho que a única coisa que eu não podia criticar naquele professorzinho de merda era que ele tinha bom gosto. O cara era bonito, tinha um jeito que chamava a atenção, sei lá, um charme estranho... ele tava com o cabelo solto, algumas mechas caíam no rosto dele, o brinco que ele tinha na orelha ia balançando... acho que ele era aquele tipo de cara pela qual as meninas suspiram quando ele passa. Mas aí eu lembrei, eu também era esse tipo de cara... heh.

Como ele tava olhando meio perdido resolvi levantar de onde eu tava e acenar pra ele. Sorte que ele não tava muito longe.

- Oi... Johann, né?

- Aham... é você o rapaz que foi me procurar lá em cima? – ele também ficou me olhando como se tivesse aparecido um buraco negro na minha testa. Que merda!

- É. Queria falar contigo, pode ser?

Ele chegou mais perto, e aí eu notei que todo mundo que tava ali tava mesmo olhando pra ele. Só que não era do jeito admirado que eu imaginei, era mais uma coisa de incerteza com nojo. Pela cara que aquela gente tava fazendo, ele era tão querido ali quanto uma bola de lama no tapete da minha casa. E claro, ele como não era cego nem paralítico nem retardado nem burro, sentiu isso.

- Tudo bem, sem problema nenhum... vem comigo, tá?

Eu dei de ombros e fui seguindo ele. Tanto fazia onde ia ser a conversa, o que importava era que eu precisava dele pra ferrar o filho da puta que me obrigou a andar de manga comprida o dia inteiro por causa das marcas da surra. Ele foi andando pra um canto um pouco mais afastado do jardim, onde a mesa ficava meio escondida por uma árvore e uma laje cheia de mato.

Quem quer que tivesse perto foi recolhendo suas coisas e saindo, como se aquilo fosse algum tipo de código da faculdade pra “quero conversar sozinho, não me atrapalhe”. Quem era aquele cara, afinal? Aquilo não era coisa de um simples aluno de música. Tinha coisa ali. E de repente, podia me beneficiar bastante.

Ele não se deu nem o trabalho de sentar. Assim que a gente ficou sozinho o bastante, ele se encostou na mesa e ficou me olhando ali, parado perto da parede.

- Então, desculpa se vai soar meio grosso o que eu vou falar agora, mas eu não costumo atender gente menor de idade.

Ok, aquilo sim foi inesperado. Que porra de moleque boçal e pretensioso ele era que não podia falar comigo só porque eu era de menor? Puta merda, só podia ser gente da laia daquele viadinho metido a arrumadinho...

Minha vontade foi de mandar ele tomar bem no meio do olho do cu, mas eu ainda precisava dele, então suspirei e tentei ser o mais delicado possível.

- Olha, eu não quero te atrapalhar nem nada do tipo... eu só vim aqui por causa do Saffron.

Abaixei um pouco a cabeça, como se estivesse preocupado e ao mesmo tempo envergonhado. Claro que o pateta caiu que nem pato, e ficou me olhando meio surpreso com o assunto.

- Ué... foi o Saffron que te falou de mim?

- Bom... mais ou menos...

Ele fez uma cara mais curiosa ainda.

- Taí uma coisa que não acontece todo dia...

- Então a gente pode conversar agora?

- Olha... – ele ficou pensando por um breve segundo. Puta merda, cara mais indeciso... – Eu não costumo fazer muito esse tipo de coisa, já falei que não gosto de me envolver com adolescente, mas se você diz que o Saffron tá sabendo disso...

Yeah! Deu certo. Ele achava que o boiolinha era meu amigo... eu ia descobrir tudo que precisava pra ferrar ele, e ia ser agora. Que otário.

O problema é que a reação dele não foi bem a que eu esperava. Quando eu abri a boca pra começar a fazer as perguntas que eu queria, o cara simplesmente se afastou da mesa, foi até mim, me empurrou de leve pra parede... e me beijou.

Ok, agora o otário que estava com sérios problemas era eu...

No fundo, eu admito que não queria que ele me soltasse. Era e ao mesmo tempo não era um beijo comum. Não era como me esfregar naquelas putinhas assanhadas do colégio. O cheiro dele era diferente, o jeito que ele beijava parecia mais cheio de emoção que qualquer outra coisa que eu podia lembrar. Era muito estranho.

Mesmo assim, eu sabia que aquilo era cagada. Por mais escondido que fosse o lugar, nada ia me salvar se alguém fofocasse pro resto da minha família que eu tava me beijando com um cara da faculdade. Daí eu fiz a coisa mais sensata que me veio na hora: empurrei ele devagar. Ele se afastou um pouquinho, ainda me olhando. É, os olhos dele eram bonitos mesmo... não só os olhos, na verdade...

- Desculpa se isso te assustou, eu não tenho costume de agir assim... – ele foi ficando vermelho. Vermelho! Ele tava sem graça! E eu, tava o que? No mínimo, tava multicolorido Restart. – Se quiser a gente pode sair daqui, você andando comigo com esse uniforme do colégio aí do lado não vai pegar nada bem...

Pela primeira vez na vida, eu não sabia o que dizer. Tava completamente mudo. E envergonhado. Sem falar em confuso. Não imaginei que aquilo fosse ser... daquele jeito. Acabei não dando uma resposta pra ele, e acho que ele interpretou aquilo como um sinal de “tá tudo bem”. Senti ele se escorar na parede, com os braços meio que me prendendo ali, e voltar a trazer o rosto pra perto de mim...

Foi aí que lembrei que tinha que ser racional, e fiz a coisa mais racional que me veio à mente. Tirei a foto do bolso e botei na cara dele antes que ele chegasse perto demais. Foi o jeito que eu achei de fazer ele parar antes gritar um monte de palavrões – ou mesmo de não fazer ele parar.

Ele pegou a foto da minha mão, e quando viu ele mesmo beijando aquele imbecil loiro na formatura, retomou um pouco da razão – e da vergonha. Ele tava ficando mais vermelho que antes.

- Ah... e-era isso q-q-que você queria? – ele se afastou bem rápido dessa vez. – E-eu... desculpa, é que... ah...

Aquele cara tinha dupla personalidade, não era possível. Uma hora ele tava dando em cima de mim, na outra tava pedindo desculpa que nem virgem mal comida?

- Olha... – eu ainda tava bem constrangido por causa daquela situação toda. – Eu só queria...

- Escuta, não querendo te interromper nem nada... – ele já tava me interrompendo. – Podemos sair daqui antes de conversar sobre o que quer que seja? As fofocas aqui correm bem rápido, e você sendo aluno daqui do lado não vai dar muito certo...

É, parece que não tinha jeito. Guardei de novo a foto no bolso e deixei ele me guiar pra onde quer que fosse.


Última edição por Len-chan em Sex Fev 11, 2011 7:23 pm, editado 1 vez(es)
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Rescue Me. Empty Re: Rescue Me.

Mensagem por Momo Dom Jan 16, 2011 10:32 pm

rá, minha opinião não importa pq já mandei tudo no privado /lol

Em breve a fic vai ter capa, esperem e leiam à vontade o/

*Fazendo propaganda da fic*

Agora Lenna, vá escrever mais u.u *Pega chicote e chicoteia*

EDIT: Aqui está o preview da capa, deliciem-se! o/

Spoiler:
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Mensagem por Len-chan Dom Jan 16, 2011 10:55 pm

Momo escreveu:Agora Lenna, vá escrever mais u.u *Pega chicote e chicoteia*

Mas num foi você que disse que não era pra eu ficar escrevendo só ela? '3'
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Mensagem por Momo Dom Jan 16, 2011 10:57 pm

Len-chan escreveu:
Momo escreveu:Agora Lenna, vá escrever mais u.u *Pega chicote e chicoteia*

Mas num foi você que disse que não era pra eu ficar escrevendo só ela? '3'

Não falei qual delas 8D

Dou preferência ao Silvério Franco pq vc nunca mais escreveu nele e queria ler mais ;3;
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Mensagem por Acer Seg Jan 17, 2011 2:04 am

Ei, Momo, os dois no desenho tão meio... magros demais o_o
Olha a largura do pescoço comparada a cabeça lol

Btw to adorando a fic
Agora Lenna, vá escrever mais u.u *Pega chicote e chicoteia*²
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Mensagem por Skulle Yanmtahak Mor Seg Jan 17, 2011 9:29 am

Eu li os dois primeiros capítulos e achei muito bons e interessantes, mas terei que parar por aí, pq estou com medo do que irá acontecer nos próximos capítulos.
Mas quem gosta de yaoi, a fic tá show.
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Rescue Me. Empty Re: Rescue Me.

Mensagem por Len-chan Sáb Jan 22, 2011 3:06 am

Pelo visto, todo mundo gostou da capa da Momo /lol Tô ansiosa pra ver a versão final *_*

Os capítulos seguintes vão demorar um pouco mais pra sair, porque tô tentando manter 2 a 3 fanfics ao mesmo tempo. Quero postar a Silvério Franco esses dias, mas ainda não dividi os capítulos dela, então fica um pouco complicado de ficar jogando texto sobre texto, mas se Deus quiser dessa semana (que vem) não passa.

Fora isso, ando meio imersa em outros projetos (traduções/revisões de scanlations, por exemplo), e como meu primo tá aqui em casa tenho passado menos tempo no pc. Mas eu não esqueci nenhuma fic (VIU, DONA MOMO?), e aos poucos vou publicando~

E para as pessoas que tem medo de yaoi, podem ler essa fic aqui:
http://fanfiction.nyah.com.br/historia/123908/10_Metros_Abaixo/capitulo/1

No mais, obrigada :3
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Rescue Me. Empty Re: Rescue Me.

Mensagem por Len-chan Seg Jan 24, 2011 11:35 pm

Lenna-chan, a feliz autora que ganhou um iPad e agora escreve em todo lugar, escreveu:Olá~
Pensei ter escrito o cap. 10 hoje. Pra minha surpresa, escrevi duas vezes o cap. 7 e a fic está na verdade no cap. 11... /gt

Por favor, ignorem as sandices da autora e leiam o capítulo com amor e carinho.


[7. Johann]
Eram quatro da tarde, e a gente tava parado na frente de um café estilo parisiense, curtindo o friozinho do ar condicionado e o cheiro de doce com a maior chuva caindo do lado de fora. O que tava errado com essa cidade, afinal? Agora deu pra chover todo dia, por acaso? Ou será que chovia quando eu resolvia sair com algum baitola?

O estilo do Johann era completamente diferente do namoradinho viado dele. Enquanto o professor de merda ficava sofrendo num fiat velho e acabado e suando pra pagar as contas dele e do filho, o Johann me levou pra tomar café numa das docerias mais caras da cidade, de carona num Hyundai i-30, com o ar condicionado do carro no máximo.

- Pode pedir o que quiser, eu sempre peço a mesma coisa quando venho aqui, mas você não precisa ser tão chato na hora de escolher... – disse ele assim que a gente chegou. - É por minha conta, viu?

Pra falar a verdade, o cheiro de chocolate doce daquilo tava me deixando meio com náusea, então tratei logo de pedir um café preto bem amargo pra quebrar aquele clima diabético do lugar. A pedida dele de sempre era um café com leite acompanhado de um pãozinho cremoso com recheio de queijo. Parecia gostoso. Fiz uma nota mental pra pedir um daqueles quando voltasse àquele lugar com alguém.

O café tava vazio a essa hora, mas mesmo assim fomos sentar numa mesa mais reservada, atrás de uns biombos da decoração, que a garçonete fez questão de apontar assim que viu o Johann. Depois do pedido, ela mesma veio servir tudo na mesa. E adivinha, ela também ficou me encarando como se eu fosse o filho do diabo com a Meryl Streep. Caralho! Se mais um me olhasse daquele jeito, eu ia pedir pra ir no banheiro ver qual foi o filhote de cruz-credo que brotou na minha cabeça.

Mas o Johann entendeu tudo melhor do que eu. Ele virou pra garçonete dando um sorriso meio sem jeito.

- Ah, não, Dannai, ele não é cliente... é só um amigo que veio conversar comigo. Não precisa fazer essa cara.

- Ah, bom! – ela deu um sorriso, parecendo bem mais aliviada. – Você sabe que é complicado... eu já tava ficando preocupada!

Foi aí que caiu a ficha. Tudo bem, eu já esperava que o Saffron fosse burro e fácil de ser enganado, mas ter um caso com um garoto de programa era outra história bem diferente. E bem interessante...

Ela foi embora logo em seguida, e eu senti que ninguém mais ia interromper a gente se não quiséssemos ser atendidos. Eu decidi que não ia mais perder tempo e fui direto ao assunto.

- Então foi por isso que você foi me agarrando lá na faculdade? Achou que eu ia te comprar pra passar uma noite comigo?

- Ah, eu não tinha certeza... – o assunto foi deixando ele meio sem jeito. Aquilo era bizarro. Desde quando o cara era gigolô e tinha vergonha? Bom... na verdade fazia todo o sentido, mas ainda assim... – Sabe, todo mundo na faculdade sabe o que eu faço, apesar de não falar na minha cara. Então quando você chegou pra falar comigo, eu achei que fosse isso...

Acho que vender o corpo por aí pra arrumar dinheiro não era exatamente o ideal de vida que ele tinha pensado pra si mesmo. Ainda assim, não é como se ele pudesse reclamar... não era qualquer um que dirigia um i-30. Não era qualquer universitário que comprava um carro de 60 mil num reles emprego. Até mesmo a doceria era podre de cara. Se duvidar, ele ainda pagava a faculdade com aquilo.

- Olha, sério... sinto muito se isso te deixou sem graça. – ele falou isso olhando pra parede, com a cara meio vermelha. – Eu não sabia que você não curtia esse tipo de coisa...

- Tudo bem, deixa pra lá. Finge que não aconteceu nada, tá? – falei, mesmo porque não tinha muito o que fazer numa situação daquelas. – Nem foi pra isso que eu vim falar, mesmo...

- Ah, é verdade... – ele tomou um gole do café. – Você queria falar algo sobre o Saffron... aconteceu alguma coisa com ele?
Foi aí que meu golpe começou. Fiz uma cara meio penosa, como quem tá bem preocupado com alguma coisa, até dei uma mordidinha no lábio. Só espero que esse cara não pense que isso é charminho pra cima dele e tente me beijar de novo.

- É... eu ando meio preocupado com ele, ele parece todo tempo chateado, cheio de coisa na cabeça... – e não era mentira. Primeiro, porque ele vivia atarefado no colégio. Ele dava aula pra um caralhal de turmas. E segundo porque, tendo um caso com um garoto de programa, a cabeça dele devia estar bem cheia... de chifre.

- Ele sempre foi assim, sabe? O Saff é daquele tipo de pessoa que gosta de carregar o mundo nas costas... acho que deu pra você perceber isso, né?

- Aham...

- Desculpa te perguntar, mas você falou em colégio... ele é seu professor no Silvério?

Merda. Aquilo não era bom. Eu não podia deixar ele saber muito de mim. Mas agora não tinha mais volta...

- Aham, ele dá aula de português pra minha turma.

- Sei... ele trabalha em um monte de lugares, é normal ele viver cansado... a gente discutiu um monte por causa disso há uns anos atrás.

- Ah... – fingi uma curiosidade bem discreta, quando na verdade eu queria é voar no pescoço dele e arrancar tudo que ele sabia. – Você se importa se... eu perguntar um pouco sobre isso?

- Se você não for sair contando pros seus colegas de sala, acho que não tem problema... – ele sorriu. Cara, que mongol... se ele soubesse a merda que tava se metendo... e ainda tava sorrindo pra mim!

- Não se preocupe, nada do que a gente tá conversando vai sair daqui! – falei, ainda tentando parecer inocente. Um simples garoto curioso de 16 anos. – Além disso, eu não me dou muito bem com o pessoal da minha sala...

Bem, isso não era de todo mentira. Nunca tive muitos amigos naquela turma. De vez em quando conversava com a sentinela Akio quando precisava de algum favor ou derrubar alguém que tava me atrapalhando, mas fora isso... era mais interessante procurar as meninas gostosas das outras salas.

Johann tomou mais um gole do café e começou a comer o pão de queijo com o talher. Quem é que come um pão com talher? Esse cara não era normal...

- Bom, você já deve saber que o Saffron tem um filho que estuda lá no colégio também, né?

- Aham. – como era mesmo o nome do moleque? Leonardo? Leandro? Lúcio? Ah, sei lá. – A gente já conversou uma vez.

- O Saff já teve que passar por muita coisa por causa dessa família desestruturada. Quando a gente se conheceu, eu tava no segundo ano de faculdade, e ele tava tendo que fazer dependência de algumas matérias que ele não conseguiu passar. Como essas matérias não tinham mais no curso dele por causa de uma mudança de grade, ele acabou caindo na turma de música... e a gente foi conversando.

- Tsc.. quem diria que ele poderia ser um mau aluno... – comentei.

- Você também acabaria reprovando se tivesse um filho recém-nascido pra cuidar e brigasse com a família e a esposa todo dia. – ele falou, meio sério. – A gente se conheceu numa fase meio complicada da vida dele, ele tinha dois empregos, pegava bico no final de semana, estudava à noite e mal tinha tempo pra família... cansei de ouvir ele pegando esculhambação dos professores porque tava dormindo na aula, porque chegava atrasado, porque não fazia trabalho...

Fiquei calado, escutando o que ele tinha a dizer. A maneira como ele contava parecia quase um desabafo.

- Ele tava fazendo de tudo pra dar uma vida melhor pra mulher e pro filho. Mesmo com a família ajudando, ele sentia que nada era suficiente e tentava fazer mais e mais coisa... ele não comia direito porque os horários dele eram sempre muito apertados, geralmente quando ele largava um trabalho já era hora de correr pro outro ou ir pra faculdade, ele tava sempre estourado... quando a aula acabava, em vez de ir dormir, ele ficava até 3, 4 da manhã cuidando do filho e ajudando nas coisas da casa...

Admito que ouvir aquilo me deixou impressionado. Ele já tinha me dito que tinha passado uns bons perrengues com essa história de gravidez na adolescência... mas eu não imaginava que era nesse nível de coisa.

- Sabe, não querendo tomar crédito nem nada, mas a maioria das matérias dessa época ele só passou porque eu ajudei... a gente ficou muito amigo, e eu comecei a ajudar ele nas coisas da faculdade. Eu admirava ele... não imaginava que existia uma pessoa tão dedicada assim na face da terra. Então, com todo esse esforço descomunal que ele fez, você imagina como ele deve ter se sentido no dia em que a mulher dele resolveu dar o pé na bunda dele, né?

Fiquei calado. Era a primeira vez que eu parava pra pensar por esse ângulo. Eu já imaginava que o Saffron não se desse bem com a ex... mas imaginar algo assim era quase revoltante.

- O que aconteceu? – não consegui me segurar.

- Acho que toda essa rotina dele tava estressando ela, vai ver ela sentiu que nunca ia poder se comparar a ele e largou ele... aí ele ficou mais perdido que cachorro no dia de mudança, afinal, ele tinha feito tudo aquilo pra tentar dar pra ela o melhor possível, e ela resolveu retribuir todo o esforço dele chutando ele e levando o filho junto.

Tá, eu tava começando a ficar revoltado.

- Peraí, ele não tentou fazer nada? Simplesmente deixou, assim, sem mais nem menos?

- Claro que não... ele tentou de tudo, mas como o direito da mãe nesses casos é prevalecido, ela ficou com a guarda... além disso, a Rafaela traiu o Saffron e se casou com um cara rico. É claro que o juiz ia dizer que uma mãe que tem dinheiro tem mais chances de cuidar direito do filho que um pai pé-rapado que nem o Saff.

Era a primeira vez que eu ouvia o nome da vadia: Rafaela. Até o nome dela era nojento... eu lembrava muito bem da expressão de malandra que ela tinha naquela foto. Como eu não falei mais nada, o Johann continuou o relato.

- Ele mudou completamente nesse tempo, sabe? Ele tava arrasado... era como se ele tivesse perdido as forças pra tudo. Não conseguia se concentrar na faculdade, largou os empregos e os bicos e ficou trabalhando num lugar só, por causa do financiamento do apartamento. Levou muito tempo pra ajudar ele a se recuperar... eu fiquei muito preocupado, achei que ele fosse trancar a faculdade e jogar tudo pro alto, ele faltou quase um mês inteiro...

Ele parou de falar meio sem motivo, e eu comecei a suspeitar que aí tinha mais coisa. Não custava jogar verde, não é?

- Foi nessa época que vocês começaram a namorar?

Johann foi ficando sem graça de novo. Mesmo assim ele resolveu contar.

- Eu sempre fui apaixonado por ele, desde a primeira vez que a gente se conheceu... eu via ele lá, sentado do outro lado da sala, pensando em um monte de coisa, e não pude deixar de notar que eu gostava dele... ao mesmo tempo, ele sempre soube... bem, o que eu faço, sabe? Ele nunca concordou, mas também não me recriminou como todo mundo da nossa sala.

- Uhum...

- Quando ele se separou, eu fiquei meio dividido entre apoiar ele só como amigo e tentar alguma coisa com ele. Ele sempre soube que eu só gosto de homens, e nunca se incomodou muito com isso, então eu comecei a pensar que talvez ele não me rejeitasse tanto... aí quando foi uma vez, a gente saiu... e não parou mais ali, sabe?

Fui reparando que a expressão dele simplesmente mudava quando ele falava do Saffron. Ele ainda tava bem envergonhado, mas parecia feliz em contar aquilo, como se lembrar dos momentos que eles passaram juntos trouxesse uma alegria monstruosa pra ele. Que nojo. Ao mesmo tempo que sentia ódio daquilo, ficava me perguntando como seria sentir aquilo por alguém – dividir seus momentos com ela. Ou ele. Sei lá.

- Vocês ainda estão juntos?

- Não... nós namoramos por quase três anos, mas depois a coisa foi desandando... a gente brigava cada vez mais, ia se afastando, ficava com raiva sem motivo... e um belo dia, a gente se separou.

O triste fim da história de amor. Como diria o senhor Omar: Trágico.

- Ah. Bom, já era de se esperar, no final todo relacionamento acaba assim...

- De certa forma... – ele terminou de comer o pão e reclinou um pouco na cadeira, olhando pro teto. – Na verdade, se você quer saber, nada me tira da cabeça que ele só terminou comigo porque achava que atrapalhava...

- Como assim?

- Bem, eu sou um garoto de programa... se o meu namorado ficasse com ciúmes porque eu tenho que trabalhar saindo com outros caras, ele estaria atrapalhando meu trabalho, não estaria?

- ...Você tá brincando comigo. – aquilo era sério mesmo? O Saffron ia simplesmente abandonar ele assim por isso? – Se fosse por isso, por que ele não pediu pra você largar e pronto?

- Vê bem... aliás, como é seu nome mesmo?

- Ah... Acer. Acer Halmarut. – não me pergunte por que eu resolvi usar o nome do aluno que morreu num acidente de (meteoros) moto quando eu tava no primeiro ano. Eu só usei, e pronto.

- Ah, prazer... – ele apertou minha mão. - Pois é, Acer, vê bem... eu já não falei que o Saff é o tipo de pessoa que sustenta tudo nas costas? Eu comecei a me vender porque precisei, não porque gostava...

Ele suspirou de um jeito parecido com um fumante. Tomou um gole de café e continuou.

- Eu sou praticamente órfão, nunca tive pai e a minha mãe morreu quando deu a luz ao meu irmão mais novo, então vivi sempre cuidando dele. Ele e eu fomos adotados por um senhor que eu chamo carinhosamente de avô, e ele sempre nos deu tudo na medida do possível, mas é difícil sustentar três pessoas com um salário de aposentadoria... além disso, hoje em dia não basta só pagar um colégio, tem o inglês, os cursos, a minha faculdade, e isso tudo custa caro... eu comecei pra tentar pagar minha faculdade, e fui ficando mais dependente desse dinheiro, comecei a sustentar meu irmão e meu avô... e até hoje dependo disso.

- Sei...

- O Saffron sempre quis que eu parasse, mesmo ele nunca tendo me dito. Ele sabe que não é nada glorioso, é arriscado e você acaba se machucando muito, mais nos sentimentos do que simplesmente no físico... mas é difícil parar, não é simplesmente dizer “chega” e arrumar um emprego decente...

A chuva finalmente parou. Eu não sabia mais o que dizer. Senti que muita coisa do que eu pensava a respeito dos dois mudou drasticamente. Meti a mão no bolso e desliguei discretamente o gravador que tinha escondido dentro da roupa.

- Acho que é melhor eu ir, já tá ficando tarde...

- Ah, desculpa... eu esqueci que você deve ter horário pra voltar pra casa... – ele foi ficando sem graça de novo. – Se quiser posso te deixar de volta na faculdade, fica bom pra você assim?

- Tá, tanto faz, qualquer coisa pra mim tá bom.

Ele levantou e foi pedir a conta pra garçonete. Eu só botei a cabeça na mesa e terminei de tomar o café. Em dois tempos já távamos no carro dele de novo, com ele dirigindo. No caminho, mais uma surpresa: notei um maço de cigarro perto do câmbio.

- Não sabia que você fumava... – comentei mais pra descontrair o clima estranho. Ele ficou meio sem jeito com aquilo.

- Ah, eu não consigo parar... não sou muito fã, mas quando você fuma é mais fácil de puxar papo com clientes, sabe?...

Resolvi não perguntar mais nada. E só por garantia, peguei um cigarro dele na surdinha quando ele virou pro lado pra olhar uma placa. O que os olhos não veem o coração não sente. Na hora de descer do carro, ele me chamou.

- Ei, Acer...

Ok, não foi exatamente a mim que ele chamou. Mas naquela hora, dava na mesma, até se ele tivesse me chamado de Paris Hilton.

- Fala.

- Toma. – ele tirou um papelzinho do bolso e meu deu. Vi que era o cartão dele, bem simples, só com nome e telefone. Vai ver ele só imprimiu pra não ter que ficar escrevendo aquilo toda hora. – Me liga se precisar de alguma coisa.

- Não tem problema você ficar me dando seu telefone? – resolvi brincar com ele um pouco já que ele deu a chance. – Alguma companhia sua pode ficar com ciúme...

- Ah, todo mundo tem meu telefone, mesmo... – ele sorriu. – Um a mais, um a menos não vai fazer diferença. Além disso... – ele parou de falar um pouco, ficou olhando pra mim como se me analisasse. Mas tinha algo errado. O jeito que ele me olhou não era normal, cara. – Não sei, sinto que isso ainda vai ter serventia uma hora ou outra.

Ele acenou pra mim, entrou no carro e se mandou – e não era sem tempo. Aquele olhar sinistro que ele me lançou fez eu me sentir em algum tipo de filme de perseguição e espionagem. Se bem que, em se tratando de espionagem, não tava tão errado assim... eles só não sabiam que os alvos eram eles.

No fim, ele me deixou na porta do colégio, e eu só dei a volta pra encontrar o motorista parado ali na frente. Etapa 2, concluída.

Ainda tava pensando em tudo isso quando cheguei em casa de noite. Os seguranças do pangaré velho ainda tavam lá no apartamento, com uma vontade louca de me encher de porrada de novo. Não dessa vez. Mandei servirem minha comida no quarto e me tranquei lá pelo resto do dia. Eu precisava agir, e tinha que ser logo.

Fiquei escutando a gravação toda, reunindo tudo que tinha aprendido. No fim, acho que acabei descobrindo muito mais do que imaginava que ia encontrar quando comecei tudo isso. Acho que eu tinha material pra perseguir o Goma pelo resto da minha vida com aquilo. O plano tava indo bem melhor que o esperado, agora eu só precisava arrumar uma desculpa pra devolver a foto original onde encontrei, e tudo estaria perfeito. Ele ia correr daquele colégio em dois tempos...

Mas ainda assim, tinha alguma coisa errada. Era como se tivesse algo faltando. Mas o que?


Última edição por Len-chan em Sex Fev 11, 2011 7:25 pm, editado 1 vez(es)
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Rescue Me. Empty Re: Rescue Me.

Mensagem por Carmen Dion Qua Jan 26, 2011 12:55 am

*rasteja de dentro de um buraco*
Uaaah... oh, olá, fic da Lenna!
Então, já estamos no capítulo 7?

Bom, vejamos... então, temos envolvimento de MAIS UM personagem!
Johann, o namorado do Saffron!
Minha nossa... Johann ganha bem a vida, hein?
E não faz nada pra ajudar o Saffrom em sua condição difícil x.x
Ah Johann safado u.u

Daí, Sven quer saber como isso pode acabar com a vida do pobre coitado do Saffron.
Oh, Sven. Um dia, você vai se descobrir mais yaoítico do que imaginava ser /s
(Mas não mais do que os leitores imaginam que ele seja /heh)

E... Johann fuma! Minha nossa, aposto que é por isso que o Saffron ainda não está rico!
Nossa, intrigante essa fic. Está misteriosa, não-tão-melosa-quanto-alguém-poderia-esperar, faz os leitores ficarem esperando maaaaaaaaaaaais 'o'

Oh, e eu adoro o clima que você descreve nas fics ^-^
Faz os capítulos parecerem cenas de filme /s
Bom, já falei o bastante, devia ir dormir -o-
Beijo na sua bochecha, até mais! /bj
*é levado/a embora por uma cama com garras*
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Rescue Me. Empty Re: Rescue Me.

Mensagem por Acer Qua Jan 26, 2011 10:20 am

E finalmente aparece o Acer na fic -q
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Mensagem por Len-chan Qua Fev 09, 2011 11:40 am

Lenna-chan, a autora que acaba de se mudar pra Sampa escreveu:Meu ritmo de postagem/escrita tem diminuído bastante, por conta da mudança de cidade/endereço que estou fazendo, mas saibam que ainda amo vocês, assim como os personagens dessa história. Tenho me divertido muito na hoar de escrever quando tenho tempo <3

Por favor, não me abandonem xD

PS: Eu adicionei títulos aos capítulos, mas tô com preguiça de trocar no momento. u_u

PS2 (playstation /o/): Troquei os nomes...

E @Carmen
O Johann até tenta ajudar o Saffron, mas o Saffron não admite esse tipod e ajuda, ele acha que um homem tem que se sustentar com suas próprias pernas... foi por esse motivo que, quando ele engravidou a Rafaela, deu um jeito de comrpar o apartamento e sair de baixo da asa da família (isso tá em algum capítulo anterior, acho que o 5...)

E eu já mencionei o quanto esses reviews analíticos e profundos me deixam feliz? *-*

PS3 (\o/): Esqueci de botar a capa provisória e não-oficial...


[8. Kamus]
No outro dia de aula, tudo já tava ao normal. Até as aulas tavam se arrastando do mesmo jeito que antes. Porém, aula chata ou não, tinha algo que eu precisava fazer ali.

- Ah, saudações. – a criatura ficou me encarando com aquele jeito bizarrão, como se eu não fosse nada mais importante que a barata que tinha passado por cima do sapato dele de noite. – É realmente uma surpresa tê-lo aqui... então, o que posso fazer por você?

A criatura tinha um nome: Kamus. O cara no mínimo mais sinistro da turma toda. Andava sempre de sobretudo preto, não importava se tava frio ou calor. No bolso daquela porcaria de sobretudo dele, tinha sempre uma adaga fininha, com o cabo bem preto e uma lâmina tão amoladinha e brilhante que mais parecia a foice da Morte. Tá, até que eu gostava daquilo, tinha estilo, mas seria mais legal se fosse uma pistola.

No fundo, ele parecia mais um punk emo revoltado com tudo na vida que resolveu se vestir diferente pra meter medo. Não falava muito com ninguém, adorava provocar os professores, e todo mundo sabia que ele e o Hexion comandavam um círculo de operações que envolvia quase 90% de tudo quanto era merda que acontecia naquele colégio. Vai ver era por isso que eles viviam quase todo tempo juntos. Acho que se eles pudessem explodiriam o teto do colégio achando graça.

Mas dessa vez eu tive um pouco de sorte. O “aqui” era o corredor do primeiro andar, um lugar que ficava praticamente desabitado nos turnos da noite, porque a criançada que estudava ali saía 4 horas da tarde e deixava tudo vazio depois. E ele tava lá, numa boa, lendo alguma coisa no iPad (preto) dele, provavelmente bem macabra, quando eu cheguei pra levar o papo com ele.

- Tenho uma proposta pra te fazer. Na verdade, se for parar pra pensar, é mais um presente do que uma proposta.

- Sou todo ouvidos. – ele falou, sem tirar o olho do iPad. Eu também não tiraria se tivesse um, mas aquilo não vinha ao caso.

- Tá a fim de ferrar um professor?

Ele dedilhou alguma coisa pro lado, fechou o Opera Mini do tablet e me olhou de canto de olho.

- Defina “ferrar”.

- Acabar com toda e qualquer chance remota de ele sequer ter reputação e moral de novo.

- Defina “chance remota”.

- Algo do tipo, humilhar ele a tal ponto que ele vai ter que trocar de país pra tentar ter outro emprego de novo.

Ele foi abrindo um sorriso meio interessado.

- Defina o alvo.

Aquela resposta eu fiz questão de dizer com todas as letras.

- Saffron Demeter.

Kamus desligou o tablet e virou de frente pra mim. É claro que aquilo era interessante. Ele era do tipo que adorava desafiar um professor com aquele tipo de pergunta que nem gente com mestrado e doutorado sabia responder muito bem, e o Goma adorava responder essas perguntas. Na cabeça torta de professor dele, aquilo era sinal de interesse, não de afronta. Vai entender.

- Andou revirando o lixo dele, é? – ele perguntou vagamente, demonstrando uma pontinha de mistério. – Espero que seja algo bom, pelo menos.

- Melhor do que você imagina.

Abri a mochila e mostrei só uma prévia do que eu tinha: a foto original que eu peguei na casa do Goma. O Kamus se espantou um pouquinho, deu pra ver os olhos dele brilharem de um jeito quase feliz.

- Esse nunca me enganou, mas com provas a coisa muda de figura...

- Isso é só o começo...

Guardei a foto na mochila, tirei as outras todas que consegui e tirei o mp4 da mochila. Fui mostrando cada coisa com calma, as gravações, as fotos e até coisas sobre o Leon. Kamus parecia realmente surpreso, não pelos fatos, e sim de eu ter conseguido tudo aquilo. Pelo menos foi isso que eu achei.

No fim, ele pegou todas as provas e foi guardando na mochila, numa ordem toda estranha que eu acho que só ele ia entender.
- Vai ser um jogo interessante... – disse ele, depois de copiar os áudios pro iPad. – Eu só não sei o que você quer ganhar com isso.

- Nada, só quero me livrar dele. E mesmo se tivesse mais coisa, não é da sua conta.

- Hm, ciuminho do ex, é?

- Como é?

- Nada...

Aquele jeito meio cantarolante de falar dele me irritava. Até parece que ele sabia mais do que eu. Ele não sabia de nada!

Ele abriu a mochila dele e tirou uma caixinha de suco de uva. Tomou um pouco e ficou me olhando.

- Tá, eu vou dar um jeito. Vou ver o que dá pra fazer com isso.

- Ver o QUE dá pra fazer? É só jogar isso na cara dele e pronto, qual é a grande dificuldade nisso?

- Não. – ele me cortou. – Não é jogar isso na cara dele, porque se fosse, mesmo um covarde como você já teria feito. Você quer se divertir às custas dele sem se envolver, e acha que eu vou fazer só o que você quer. Por acaso eu pareço o tipo de cara que obedece cegamente os outros, que os deixa comandar tudo sem pensar nos meus próprios interesses?

Ok, talvez me aliar com ele não fosse a coisa mais inteligente a se fazer. Mesmo assim, fiquei esperando pra ver o que ele ia dizer depois.

- Então vai fazer o que, pregar essas fotos no quarto pra ficar admirando a homossexualidade do querido professor?

- Você parece achar ele muito querido, mas isso não se estende a mim...

- Eu ODEIO ele. – respondi sem receio nenhum. – Se fosse qualquer outra coisa eu não te daria isso tudo. Tá pensando o que, afinal?

- Se eu simplesmente saísse contando pros outros o que eu penso, não teria graça...

Aquilo tava me dando mais ódio. Eu queria alguma coisa pra arrancar a cabeça dele naquele exato instante. E ele tava sorrindo. Com uma cara de pateta que me dava ainda mais vontade de quebrar os dentes dele um por um.

- Kamus, escuta bem, se você inventar de me sacanear com isso, eu vou...

- Ah, vai o que? – o sorriso dele aumentou! Filho de uma puta! – Chame o diretor, diga a ele que eu roubei as provas que você ia usar pra sacanear um membro do corpo docente! Não, melhor ainda, chame o professor Saffron, diga a ele como eu arruinei os seus planos de estragar a carreira dele eternamente...

Ok, tava decidido. Eu IA quebrar a cara dele. Eu só não sabia como. Ele era bom de briga, e viva pendurado no Hexion, que era mais truculento que um trator de demolição... eu tinha que fazer alguma coisa. Mas se não podia bater nem ameaçar ele, o que podia surtir efeito contra aquele cara?

- Nah. – ele falou de repente, olhando pra parede. – Não é só vingança pessoal e humilhação que você quer? Na hora certa, você terá. E você não será afetado, claro, não se preocupe. Não vou lhe tirar da sua insignificante capa de covardia pra lhe expor à crueldade da exposição vergonhosa que ele vai passar. Pode ir numa boa pra sua casa.

Por alguma razão, o jeito de falar dele me fez ter um calafrio. Nessa hora ele se virou e deu tchauzinho, com um sorriso muito macabro, muito mesmo. Era o jeito dele de dizer que não ia mais falar comigo. Cara filho da puta...

Mesmo assim, aquilo era um sinal de que nosso acordo ia fluir bem. E de que eu ia sair rindo dessa história em pouquíssimo tempo. Deixei pra lá minha raiva por ele e fui pra sala.

----------

No fundo, tinha algo feliz na minha terça feira: Literatura. Aquela era de longe a minha aula preferida, não porque eu gostasse de estudar, nem de ler aqueles livros, porque daquilo eu não entendia porra nenhuma. Meu motivo de adoração se resumia a um só nome: Sophia Asagao.

Pra mim, ela era mais do que uma professora. Nos conhecemos alguns anos antes, em um jantar de negócios da família do meu pai, e ela acabou se aproximando da família – e de mim. Ela sempre me tratou bem, e eu acabei me acostumando a chamar ela de maninha. Tomei um susto quando descobri que ela ia me dar aula – um susto bom, na verdade, porque era minha única motivação pra ir no colégio, principalmente numa terça feira em que o último horário era Educação Física.

Além disso, a Sophia era muito bonita. Dava gosto de ver ela passeando pela sala, com aquele cabelo esverdeado brilhante dela e os olhos meio lilás, falando todas aquelas coisas sobre amor e gente que se matava pelos outros. Aquilo combinava com ela. Era como se ela tivesse nascido pra fazer só aquilo pelo resto da vida.

- Muito bem, queridos, eu espero que todos tenham tirado um tempinho no final de semana atribulado de vocês pra darem uma folheada na leitura obrigatória que vamos cobrar na prova desse semestre. E aí, quem já leu Amor de Perdição?

Quase todo mundo da sala levantou a mão – até eu. Eu não gostava de ler esse tipo de porcaria nem pela Sophia, mas bem, eu tava algemado na cama, não tinha nada pra fazer, e o livro tava jogado no fundo da cabeceira... além disso, pelo menos serviu pra me distrair. Quando eu não tava estudando, passava tanto tempo tentando decifrar o que tava escrito na porra do texto que quando via já tinha dado sono.

- Nossa, até você Sven? – ela não deixou esse fato passar. – E eu achando que esse mundo não tinha milagres...

- Ah... sabe como é, às vezes a gente faz um esforço...

A turma toda riu, até ela. Ela chegou mais perto de mim e sentou no canto da minha mesa.

- E aí, o que achou do livro?

- Ah, sei lá, uma bosta. – falei sem rodeios. – Metade do que eles falam a gente não entende. E quando entende é uma ladainha só, uma cu-docisse sem tamanho.

E o povo continuava achando graça. A Soph abriu um sorrisinho e continuou a aula.

- Bem, eu já expliquei sobre isso aqui, mas Amor de Perdição é uma das obras mais marcantes da segunda fase do Romantismo. E por se tratar do Romantismo, isso que você chama de cu-docisse sem tamanho é uma das características básicas dele, o Sentimentalismo Exacerbado. Certo, o que mais você notou na obra, Sven?

- Ah... – tentei lembrar de alguma coisa que eu tivesse gravado daquilo. – Sei lá... eles sempre falam de si mesmos, e como se sentem, e como precisam viver do amor um do outro, e que são uns miseráveis e num sei mais o que...

- Muito bem... e sabe por que? O mundo romântico daquela época é diferente. – ela levantou e foi escrever as coisas no quadro. – Qual é o nome do personagem principal do livro, mesmo?

- Simão Botelho! – claro que o Akio ia responder aquilo na velocidade da luz. Aquele cara adorava engolir livro, eu hein... – Mas claro que tem a Teresa de Albuquerque também...

- Correto, Akio, eles são o casal principal, eles que movem a história toda. Bem, como eu dizia, o mundo em que eles vivem é diferente do que vemos hoje. Primeiramente, eles só pensam em si mesmos, só nas necessidades deles, só conseguem pensar em como o amor é importante pra eles, mesmo que o mundo esteja desabando e toda a família esteja morrendo de um surto de tuberculose. Egocentrismo e individualismo.

Ela escreveu as duas palavras no quadro e foi dando mais voltas na sala.

- Os sentimentos deles são a força motriz de tudo. Como são egoístas e individualistas, claro que a visão de mundo deles é a única que importa. A economia pode estar crescendo 90% ao ano, e isso é muito!, o superávit comercial pode estar sendo histórico, mas pra Simão Botelho, como ele não tem a Teresa por perto, isso pra ele só significa desgraça. Subjetivismo.

- Tá, mas eu conheço uma boa galera por aí que ainda vive no Romantismo, professora. – falou o Davkas por alto. – NX Zero, Restart, Fresno, essas merdas todas...

A sala se dividiu com metade zoando as bandas e metade defendendo eles. Eu hein... é por isso que eu nunca me envolvia com ninguém. Eu sempre odiei me misturar com o resto da turma. Tinha pouquíssima gente ali que valia a pena, e eu não ia perder meu tempo procurando quem era bom e quem não era.

- Certo, chega pessoal. – Sophia retomou o controle da aula. – Veja bem, Davkas, o romantismo daquela época era algo tão profundo e aterrador que poderia tranquilamente sufocar uma pessoa. Para os poetas dessa fase, lembrem que Amor de Perdição é de 1862, morrer por amor, e no sentido literal de morrer, era algo glorioso e perfeito – o que mistura o grotesco e o sublime. E essa mistura era algo que eles idolatravam.

Ela foi até a mesa, pegou seu exemplar do livro e começou a ler.

- Não receies nada por mim, Simão. Todos estes trabalhos me parecem leves, se os comparo aos que tens padecido por amor de mim. A desgraça não abala a minha firmeza, nem deve intimidar os teus projetos. São alguns dias de tempestade, e mais nada. Qualquer nova resolução que meu pai tome dir-ta-ei logo, podendo, ou quando puder. A falta das minhas notícias deves atribuí-las sempre ao impossível. Ama-me assim desgraçada, porque me parece que os desgraçados são os que mais precisam de amor e de conforto. Vou ver se posso esquecer-te, dormindo. Como isso é triste, meu querido amigo!... Adeus.

A sala ficou em silêncio enquanto ela lia. É, cara, ela tinha sido feita para aquilo.

- Teresa é uma mulher que não teme o sofrimento, que não se importa de passar pela calamidade, seja qual for, se no final ela puder ter Simão como prêmio. Hoje em dia, chamaríamos isso de autoflagelo, de masoquismo, de falta de amor próprio ou até de psicose... mas na época era algo tão profundo e puro que seria uma honra vivenciar um amor como esse. E mesmo hoje, ainda há gente que valoriza esse tipo de conto. Qual das meninas aqui leu Crepúsculo e não achou o máximo ver o Edward se afastando da Bella porque não queria machucá-la, e ela correndo em motos e se jogando em abismos pra ter ele de volta?

Claro que quando falou em Crepúsculo as patricinhas da sala ficaram numa felicidade só. E eu já tava me cansando daquilo. Mesmo assim, fiquei calado. Afinal, era a Sophia...

Nessa hora, o sinal bateu. Ela fechou o livro com a mão e sorriu.

- Pensem um pouco nisso antes de jogar o livro fora. Ah, e a professora Lenna pediu pra vocês descerem já com o uniforme, porque ela não quer ter que puxar a orelha de ninguém que não esteja vestido direito, certo?

Todos foram pegando suas coisas e andando pro vestiário, ou pra cantina, o que desse na telha de cada um. Eu na terça sempre ficava um tempinho do intervalo papeando com a maninha.

- E você, Sven, o que conta de novo? Não anda ficando de castigo por besteira de novo, né?

- Ah, não, imagina! – pra ela eu tinha que mentir. E se ela ficasse preocupada? – As coisas vão ótimas, e com você e o quilômetro parado do Hitori?

Ela fez uma cara meio séria, eu não sabia se ela tava chateada com o apelido do noivo ou se eu menti mal demais e ela percebeu. Mas eu me safei, porque nessa hora o celular dela começou a vibrar que nem louco em cima da mesa.

- Ah, que coisa... me espere só um minuto, sim?

Ela pegou o aparelho e saiu. Resolvi aproveitar a folga pra trocar de roupa – de jeito nenhum que eu ia me trocar perto daqueles moleques do vestiário. Tirei a camisa de jogo da mochila com o pé e fui trocando de roupa ali mesmo, na sala vazia. Pena que não tinha uniforme de física de manga comprida, o meu tava pra lavar e eu não achei nenhuma blusa pra vestir por baixo da regata. Sorte que eu tinha comprado uma munhequeira. Se alguém resolvesse ver a marca da algema no meu braço, eu tava ferrado...

Pois bem nessa hora, o filho da puta me resolve aparecer. Eu nem terminei de vestir a blusa quando a porta da sala abriu, e o Goma entrou, sem mais nem menos.

- Sophia, tá ocupada? Eu queria te pedir um... – ele parou de falar, vendo só eu ali, com um monte de roupa na mão. – Ah, Sven, a Sophia já foi?

- Foi atender o celular. – respondi muito a contragosto.

- Ah... será que ela vai demorar? Queria pedir um livro pra ela, mas tenho que entrar na sala mais cedo, tenho que pegar os exercícios do pessoal do 2º ano e não sei se o horário de aula vai dar...

Claro que isso não era problema meu, mas ele continuava falando. Eu abri a boca pra falar, mas ele me viu primeiro. E quando eu percebi, ele tava olhando certinho pra onde eu menos queria que ele visse.

- Sven, o que é isso no seu pulso?

- O que?

- Essa marca no seu pulso! – ele veio pra cima de mim. Tratei de recuar logo. – Esse hematoma aí, quem te fez isso?

- Ah, isso? Ah, é que eu fui numa casa de swing essa semana e a gata que ficou comigo pegou um pouco pesado, sabe?...

Ele fez uma cara muito feia de quem queria e ao mesmo tempo não queria falar. Mesmo assim, não disse nada, apenas largou meu braço e se afastou um pouco. Puta merda...

- Não acha que tá muito novinho pra ficar se metendo nessas coisas? Esse tipo de comportamento é uma beleza pra quem quer pegar uma DST...

- Da minha vida cuido eu, não se preocupe. – cortei logo. Santa mania de viver me passando sermão! – Além disso, eu não sou tão imbecil assim pra ficar doente como você pensa.

- Se você diz... – ele falou do jeito normal de sempre, mas dava pra ver que ele ficou puto. – Só espero que a tua namorada tenha te deixado feliz, porque essas marcas no teu peito e na tua costela estão bem caprichadas.

Senti meu rosto esquentando, e botei a blusa a jato. Os seguranças do vovô sempre socavam ali, sempre, porque eles sabiam que era a parte do meu corpo que mais doía. Também não adiantou de muita coisa; quando eu terminei de botar a blusa ele tinha saído de novo. Comentário estranho... será que ele desconfiou de alguma coisa?

Mas peraí... o que ele tinha pra desconfiar, afinal? A culpa de eu estar com aquilo era dele! Ele foi o filho da puta que resolveu dar com a língua nos dentes pro vovô! E agora ele vinha se fazer de vítima, esperando que eu fosse doce e inocente com ele? Ah, vai tomar o cu!

- Desculpe a demora! – Sophia entrou logo depois na sala, toda sorrisos, e eu tratei de melhorar a minha cara, mas ela percebeu. – Ué, ouvi a voz do Saffron, ele veio aqui por acaso?

- Veio pegar num sei o que com você.

- Ah... estou um pouco preocupada com ele, ele tem passado por alguns problemas sérios, mas não quer me contar o que é... será que tem algo a ver com a audiência?

- Que audiência? – perguntei de uma vez. Se fosse mais motivo pra ferrar ele, melhor.

- Um promotor marcou uma audiência daqui a alguns dias pra definir a guarda do filho dele, ele ficou um pouco receoso porque não sabe o que os juízes vão dizer... – ela sentou de novo. – Ser pai solteiro deve estar sendo bem difícil pra ele.

- Ah. – claro que eu não tava nem um pingo interessado naquilo. Se o filho dele estudava no colégio e ele tinha bolsa, então não tinha como provocar um escândalo por ele ter um filho com quase a metade da idade dele.

Além disso, eu já tinha feito a minha parte. O Kamus que se virasse pra fazer um auê bom o bastante com tudo que eu entreguei pra ele. Meu plano tava completo, era só esperar que tudo ia acontecer naturalmente.

Mas quanto tempo eu ia ter que esperar?
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Rescue Me. Empty Nove

Mensagem por Len-chan Sáb Mar 19, 2011 10:42 pm

Lenna-chan, a autora retirante escreveu:Olá!~

Esse mês não tem comentário nenhum aqui porque tô cansada :3

Nove.
Tequila

Dois dias se passaram, e nada. O imbecil do Kamus continuava quieto, na dele, faltando mais que empregado ressaqueado em dia de segunda-feira. Quando ele aparecia, fazia as mesmas coisas de sempre: ficava calado no canto, fofocando com o Hexion, rabiscando no caderno ou humilhando os professores com aqueles desafios ridículos, como se alguém se importasse como se convertia uma integral no espaço de estados ou o que quer que fosse aquilo.

Mesmo assim, resolvi não me meter nisso. Uma coisa que eu sabia dele era que ele não costumava voltar atrás no que ele dizia. Então, se ele ia ferrar o Saffron, ele ia – nem que fosse na formatura.
Mas antes de isso tudo acontecer, eu consegui me meter em mais uma encrenca. Bom, na verdade, não foi exatamente uma encrenca: eu só fiz o que fazia todo dia, e o vovô resolveu enfrescar justo nesse dia.

Eu nunca fui muito de me relacionar com a família. E ela também nunca ligou muito pra mim também, então sempre estivemos quites. Por isso mesmo, quanto menos eu pudesse passar em casa, melhor. E como eles também não passavam muito tempo lá, dava na mesma se eu dormia em casa dia de semana ou não. Por isso, o melhor pra causar um pouco de noite sem arrumar problemas era sair de madrugada durantes os dias de semana e voltar antes de alguém da casa perceber que eu não tava lá. O que nem era tão difícil se você aprendia a molhar a mão das pessoas certas, como o porteiro do prédio e a empregada fuxiqueira do apartamento.

Era uma noite de quinta feira, o Kamus tinha me enrolado de novo, o babaca do professor tava mais de olho em mim do que nunca e eu não podia estar mais puto. E foi por isso mesmo que resolvi sair. Arrumei a primeira festa possível que vi, juntei meu dinheiro e peguei um táxi direto pra Office. Não era exatamente o meu lugar preferido, mas pelo menos me deixavam entrar sem a porra da identidade.

Mais uma noite pra curtir sem ter que me preocupar com nada. Que bom que eu tinha cara de mais velho, porque assim as meninas davam mais mole na hora de se apresentar. Comprei umas duas doses de tequila só pra esquentar, mesmo, e fui atrás das garotas. Acho que só na primeira hora já tinha pegado umas 6 ou 7, sei lá. Até que tava divertido.

Por um minuto eu me senti como se não tivesse mais nada no mundo. Depois da quarta ou quinta dose eu já tava começando a ficar meio louco, dava pra sentir a batida fazendo meu peito sacudir, meu estômago e o resto do corpo todo junto esquentando a cada dose, com o sal fazendo o gosto da bebida ficar mais forte. (pra quem não sabe, Tequila geralmente é servida em bares desse tipo com sal e limão. Bota-se um pouco do sal na mão, lambe, toma-se a tequila e depois chupa-se o limão.)

Não lembro nem como foi que saí de lá, ou porque. Só sei que precisava ir pra casa, porque minha cabeça tava rodando legal e tudo que era claro demais na rua me dava vontade de dar risada. Tentei lembrar quanto eu gastei, pra ter uma noção do quanto de bebida eu tomei.

O problema é que ou eu tava muito atordoado pra sentir as coisas, ou a minha carteira não tava
mais no bolso da minha calça.

Puta que pariu. Merda, caralho, porra, cacete. Era só o que faltava. Agora eu tava na rua, sem dinheiro e longe de casa. E nem sabia que horas eram. Eu não tava nem conseguindo enxergar os ponteiros do relógio direito, que dirá adivinhar as horas naquilo ali.

Bom, pelo menos meu maço ainda tava lá. Sentei na calçada e comecei a fumar um cigarrinho, mas acho que o segurança não gostou muito da ideia. Começou a berrar alguma coisa sobre menor de idade na porta e juizado e eu achei melhor sair dali. Não tava a fim de bater naquele cara, porque se eu pudesse, eu teria batido muuuuito nele.

Ok, talvez eu tivesse bebido demais também.

Só sei que resolvi voltar andando pra casa. Eu não lembrava muito bem onde era, e nem como chegava lá, mas a cidade não podia ser tão grande assim, certo? Era só sair andando, uma hora ou outra eu ia cair numa rua que eu conhecia e ir andando pra casa de lá.

E andei. E haja andar. De repente a cidade era mesmo grande demais. Eu tava bem longe de qualquer coisa que remotamente lembrasse meu bairro. A rua tava deserta, a iluminação tava começando a deixar a desejar, e alguma coisa me dizia que os dois caras que saíram de dentro da terra e agora tavam me seguindo não queriam simplesmente perguntar as horas.

Mais essa agora. Eu não devia ter saído com o Bulova hoje. Perder a carteira com todo o dinheiro e os documentos, e ainda por cima ser assaltado. É, aquele não era meu dia mesmo.

A primeira coisa que tentei puxar do que sobrou da minha consciência foi que precisava ir pra algum lugar seguro ou com gente o bastante pra espantar aqueles caras. Mas eu tinha certeza de que já tava tarde o suficiente pra não ter gente bestando na rua que nem eu. E adivinha só: eu tava certo.

Nesse caso, o jeito era aplicar o plano B: correr. E foi exatamente o que eu fiz. Saí voando de lá o mais rápido que eu pude, e lógico que os caras vieram atrás. Tratei de sair entrando em tudo que era buraco, pra ver se despistava eles. O problema é que quando uma pessoa tá porre e inventa de sair correndo por um bando de rua escura em um lugar que ela não conhece, tem um risco monstruoso dela se perder ou acabar caindo numa cilada ainda maior. Adivinha de novo...

A minha cabeça tava numa vibe totalmente diferente. Eu continuava muito alto, mas a corrida fez o meu estômago virar do avesso e eu olhava pra baixo e sentia que tinha alguma coisa querendo subir minha garganta pra sair. Em frente, um muro gradeado de uma casa que fechava a rua. Atrás, quatro caras, isso porque um deles tava puxando uma faca pra me deixar com mais medo. De certa forma, até que ele tava conseguindo.

- Fica na tua, playboyzinho, que tu num tem mais pra onde corrê... vai passando o relógio e o sapatinho antes que nóis fique puto!

E lá foram os caras chegando em mim, e eu não tinha par onde correr. O muro da casa era alto demais pra pular, e a grade tinha arame farpado em cima. Bom, pelo menos não era uma cerca elétrica. Eu podia tentar brigar, mas eram quatro contra um, um deles tava meio que armado, e eu não era tão bom assim na Educação Física... na verdade, eu só não odiava tanto assim a professora Lenna porque os peitos dela pulavam quando ela andava naquela porra daquela quadra.

- Quer parar de graça, moleque? Anda logo e tira essa porra!

Por um minuto me distraí e só vi o punho vindo pra cima de mim. Como um baixinho miserável tinha força daquele jeito? A porrada dele veio direto no meu rosto, e eu bati de costa na grade. A tequila fez minha cabeça roda junto com a pancada, e eu não sabia mais o que fazer. Acho que nem me manter ali em pé eu tava conseguindo.

Que merda. Eu, porre, sem dinheiro, completamente sozinho e pronto pra ser no mínimo espancado por um monte de moleque querendo roubar minhas coisas pra comprar droga em alguma boca por aí. Ainda pensei em não sair de casa com o Reebok, mas não, eu tinha que sair com ele porque ele é mais bonito...

O cara falou mais alguma coisa, mas eu tava tão zonzo que não conseguia nem ouvir meu pensamento, e eu abri a boca e não saiu nada. Eu olhava meu braço e não sabia como tirar o relógio, não tinha certeza mais de que cor era minha roupa. Tava tudo meio embaçado. Afinal de contas, eu tinha tomado tequila ou alguém tinha posto algum tipo de cogumelo no meu copo? Porra! Sério, depois dessa, eu não bebo mais nada...

Aí eu senti alguma coisa no braço. Olhei, e vi que o cara tinha enfiado a faca no músculo, e que tava jorrando sangue. E aquele músculo era meu.

Se eu não tava sentindo nada, ou se tava tudo confuso pra mim, a dor ficou bem clara rapidinho. Sei que no minuto seguinte eu tava apoiando na grade com uma mão só, gritando simplesmente porque não sabia mais o que fazer. Outro cara veio e começou a puxar meu pé pra tentar levar a porra do tênis. Tentei chutar ele, mas com tudo aquilo junto, eu passei bem longe.

Bem nessa hora, a grade virou e eu caí pra trás. Não teve nem jeito de me preparar, senti minha cabeça batendo de novo no chão... e rodando mais um pouco. Tava tão zonzo que não deu pra entender nadinha do que o cara falou. Só sei que quando eu olhei, ele tava torcendo o braço de um de um jeito que o cara não parecia humano. Os outros tavam jogados no chão, se retorcendo. Mais alguém passou por mim, vindo de dentro da casa, e começou a fazer uns gestos pra mim. Por alguma razão ele parecia familiar...

Saffron. Eu lembrava muito bem daquela expressão dele: o formato do rosto, as linhas meio suaves, a cara de novinho demais. Só que ele tava muito puto, de um jeito que eu nunca tinha visto, e pela cara que ele tava fazendo tava berrando com a única pessoa que sobrou em pé na rua. Que ironia. De todas as pessoas, justamente ele foi me achar.

Abri a boca pra tentar falar com ele, mas grogue do jeito que eu tava, assim que eu abri a boca senti o vômito subindo. Ainda tentei levantar a mão pra tapar a boca, mas meu corpo tava muito pesado. Não teve como. E, obviamente, ele fez uma cara de nojo. Estranho. Eu nunca tinha visto ele fazer uma cara assim... será que era isso que ele pensava de mim esse tempo todo?

Aí eu apaguei de vez.

----------

Fechei os olhos, mas não consegui dormir. Quando abri de novo, vi alguma coisa muito clara no teto, que me deixou mais tonto do que eu já tava. Tinha alguma coisa no meu braço, mas eu não sabia o que era.

Bem, pelo menos eu tava em algum lugar macio. E vomitar me deixou muito melhor. Eu já tava até ouvindo as pessoas... será que tudo aquilo tinha sido efeito do susto?

- Pai, ele tá sangrando muito, isso daqui num tá funcionando...

- Meu filho, só cala a boca e deixa ele aí.. eu já não mandei o Shi ir lá ligar? Daqui a pouco ele volta, esse menino vai ficar bom num instante...

Eu tentava, mas não conseguia ver o Saffron. Minha cabeça não subia. Sempre que eu tentava, parecia que meu pescoço ia quebrar. E de tanto tentar, um deles viu.

- Ei ei, vá com calma. Tá tudo bem aí?

Foi aí que o cara chegou mais perto e eu percebi a vibe que eu tava. O cara não tinha absolutamente nada que fizesse ele parecer com o Goma. O rosto lembrava de longe, mas esse cara era velho, com cabelo vermelho. E ele não era formal e engomadinho que nem o Saffron. Será que era por causa dos olhos? Os olhos deles eram muito iguais. Lembro disso por causa da hora que fui fingir que tava passando mal...

- Opa, você tá ficando vermelho! Seu braço ainda tá doendo? Eu vou pegar um analgésico...

Porra, doendo? Aquilo era apelido. Acho que eu nunca tinha sentido nada assim antes. Eu tava completamente imprestável, e o buraco no meu braço era o menor dos meus problemas.

- Onde eu tô?... – foi a única coisa que eu consegui perguntar.

- Você quase foi assaltado na porta da minha casa... eu ouvi alguém gritando, fui lá fora e te vi jogado, daí eu e meu irmão te trouxemos pra dentro. Eu não sei cuidar muito bem dessas feridas e tal, mas eu já chamei uma pessoa pra te tratar.

Mesmo com o corpo pesado daquele jeito, ainda consegui ter um calafrio. Se ele tivesse chamado a ambulância, iam me levar, e iam fazer o prontuário, e iam chamar meu responsável... e aí eu tava ferrado de vez. Mas pelo menos eu tinha ficado com minhas coisas... seria mais fácil de dar uma desculpa. Podia até botar a culpa no motorista, de algum jeito bem bizarro.

Aí eu notei que tava sentindo os pés um pouco arejados demais. Fiz um esforço do caramba pra tentar olhar pra eles... e cadê meu tênis? E meu relógio? E pior ainda... por que eu tava usando uma camisa cinza que mais parecia um pijama?

Isso sim me deu vontade de vomitar. O que aquele cara tinha feito comigo?

- Deixei suas coisas ali em cima, tive que trocar sua roupa, você vomitou em si mesmo... – explicou ele, como se tivesse lido minha mente. – A farra hoje deve ter sido boa, né? Quantas você entornou pra ter chegado aqui nesse estado?

Olha, taí uma coisa que eu realmente queria saber. Só que nem deu tempo de falar isso pra ele, porque nessa hora o outro irmão dele, que me ajudou lá fora, saiu de uma porta e foi me ver jogado no sofá. E gelei ao ver que eu tava reconhecendo aquele cara, e que ele também tava manjando a minha cara.

Era o eremita da sala, Shian Demeter. Um dos caras que mais chamava a atenção (dos outros, porque eu não tava nem aí), por ser o mais alto da turma; por ter o cabelo azul, no maior estilo de quem quer chamar a atenção, e ainda assim afastar todo mundo; por ter recusado todos os pedidos pra jogar no time de basquete; por já ter dado o fora em um monte de garotas sem ter dado sequer uma justificativa (e ter agarrado outras que a gente nem acreditava); por bater em mais de 90% dos alunos da escola (exceto talvez o Kamus e o Hexion).

Ah, claro, e por ser um dos Demeter. Irmão mais novo do meu querido professor de português, pra ser mais exato.

Ok, agora eu tava fodido mesmo.

- Ei, tá melhor já? – ele falou, olhando pra mim com a cara fechada de sempre. Ele não era o mais comunicativo de todos, na verdade, corria um boato de que ele tinha uma fobia de pessoas tão grande que só estudava na Silvério Franco porque o Saffron insistiu. Mas quem podia acreditar em boatos?

Como eu não tava muito a fim de trocar uma ideia com ele, só fiz que sim com a cabeça. O ruivo mais velho continuava botando aquela porcaria fedorenta na minha cabeça.

- E aí, Shi, conseguiu telefonar?

- Uhum, daqui a pouco tão batendo aí na porta, vê se você abre. – o mais novo foi se afastando. - Eu já vou dormir. Já cumpri minha cota de interação social por hoje.

- Credo, que mau humor... – riu o ruivo. – Quem te vê falando assim pensa até que você não se divertiu espancando aqueles caras.

- Eles só tiveram o que mereciam. – o eremita já tava era saindo, tava gritando pela porta pra terminar de falar sem olhar a nossa cara. – Porra, Mi, eu avisei pra eles, não ponham a porra da cara de vocês na minha alameda de novo, minha família quer dormir em paz e esse caralho aqui não tem nada a ver com vocês. O que custava eles levarem a porra dos trouxas pra outra rua? Mas não, ah não, eles sempre vem espancar alguém aqui na frente de casa, pra mamãe ficar louca por causa do barulho e o papai ficar puto querendo chamar a polícia tamanha quatro da madruga.

O ruivo num parecia estar com cara de quem tava muito preocupado. Na verdade, acho que ele tava achando graça.

- Ah, mas veja bem, se não fosse por você seu nobre colega de sala estaria machucado agora...

- Tu falando assim até parece que eu tô feliz com isso. – ele voltou pra sala. E dessa vez, já tava de cueca, pronto pra dormir, com mais um cigarro na boca. E um cigarro que eu conhecia muito bem...

- Ei, devolve o meu maço! – porra, aquele cigarro era caro!

- Esse aqui? – ele ainda fez questão de me mostrar a caixa. – Foi mal, mas num devolvo não. Pensa bem, considere isso como um pagamento pelo favor que a gente te fez.

Eu só não levantei pra tomar aquilo de volta porque primeiro, eu não ia querer aquele cigarro todo babado com saliva de macho nem que me pagassem, e segundo, a minha cabeça ainda tava com o carrossel ligado. E os cavalinhos tavam num trololol hipersônico lá dentro. Mas no fim, eu nem precisei me mexer, porque o ruivo puxou o cigarro da boca dele e espremeu no chão.

- Ei, qual é!

- Ninguém fuma aqui dentro dessa casa. Papai deixou isso bem claro. E você não vai querer desobedecer ele, vai?

Os dois falavam aquilo de uma maneira como se um vulcão tivesse acabado de explodir e a lava fosse cair na cabeça deles a qualquer minuto. Eu tinha visto a sombra do cara antes na sala, ouvi ele e o ruivão conversando, mas não vi a hora que ele saiu nem nada da cara dele. Mas só por garantia, eu me lembrei de que, se um dia eu fosse voltar a essa casa, eu devia esquecer meu maço, de propósito.

No fim, não tinha mais nada o que fazer. O eremita foi saindo pela porta, o ruivo se ajeitou numa cadeira, e eu também resolvi mandar tudo pra merda. A essa hora, era só esperar a polícia, ambulância, o que quer que eles tenham chamado, pra me levar pra casa. Ajeitei a cabeça de novo e tirei mais um cochilinho.
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Rescue Me. Empty Re: Rescue Me.

Mensagem por Len-chan Sáb maio 07, 2011 9:52 am

Lenna-chan, a autora que definitivamente está louca escreveu:
Pois é, eu publiquei o cap. 11 em vez do 10.. sinto muito se tiver prejudicado alguém com essa atitude.
(e putz, Sean, nem pra me avisar né? Eu tô lá de boa, mexendo no iPodão iPad, quando vejo o índice dos capítulos da fic e vejo que tem algo errado...)

10. Concessões

Bem, talvez cochilinho tenha sido um pouco exagerado demais da minha parte. Quando eu acordei de novo já tava dia, e eu já não tava mais na casa dos parentes do Saffron. Tava deitado em algum lugar confortável, usando uma camiseta e uma cueca cheirando a nova, e com umas notinhas de guitarra tocando em algum lugar por perto.

Na verdade, confesso que fiquei meio surpreso de estar ali de novo. Ou então, fiquei meio pasmo de não ter pensado que poderia acabar indo parar aqui uma hora ou outra, considerando quem foi que me salvou ontem.

Sentei na cama e olhei ao redor. Minha roupa tava toda lá, incluindo meu Reebok e meu Bulova perto da camisa. A carteira ninguém deu jeito de achar. Os cigarros também devem ter ficado de brinde pro eremita. Paciência, não se pode ganhar todas.

Como não tinha muito que fazer e a fome tava começando a apertar, resolvi levantar da cama de vez e procurar algo bom. Pelo menos a ressaca tinha passado. Abri a porta e percebi que a guitarrinha devia vir do outro quarto daquele cubículo que o Saffron chamava de apartamento. Dito e feito, olhando pela porta encontrei o Leon, sentado de lado num banquinho e tocando um solinho simples, mas bem bonitinho na guitarra dele. Do lado, o notebook do pai dele tava aberto numa página do cifras.com.br.

Até que o moleque tinha estilo. E tocava bem. Ia agarrar muita mulher peituda quando crescesse, a menos que ele resolvesse herdar a orientação sexual do pai.

- Ei.

- Ah, oi... – ele olhou pra mim e balançou a cabeça, sem parar de tocar. – E aí, tá tudo bem?

- É, acho que sim... – fui entrando no quarto e sentei na primeira cadeira vaga. Aliás, que diabo de quarto bagunçado. Era cheio de livro e papel por todo lugar. - Tá tocando o que aí?

- Fall of Pangea... tem no Guitar Hero. Conhece?

- Acho que não... e também, você tá fazendo só o começo da música, ela é só esse solinho?

(bem, pra mim é. Aquela música é uma droga.)

- Ah, eu não gosto muito dela... peguei ela porque a professora disse pra eu treinar melhor essas notas.

- Ué, tu tem professora de guitarra? Achei que só homem gostasse de tocar...

- Ah, não, a Flávia é legal, ela só fica meio chata quando a gente bagunça a aula. E ela é bem bonita também.

Bem, uma chance a menos do moleque virar gay. Ele começou a tocar outra série de notas, que me lembraram da introdução de uma música do Audioslave, num ritmo bem mais lento.

- Então, como você veio parar aqui? – ele me perguntou, sem esconder que tava curioso.

- Ah, sei lá... tentaram me assaltar ontem, eu bebi demais, quando vi já tava aqui. Você não viu nada?

- Cheguei aqui hoje de manhã, papai disse que você tava dormindo no quarto... aí eu vim pra cá tocar.

- Tá aqui faz muito tempo?

- Sei lá, umas duas horas.

- E você tem saco de passar duas horas só tocando? – por alguma razão, senti que se eu dissesse isso pra qualquer um da minha sala eles iriam começar a rir e a me zoar. Maldito duplo sentido.

- Ah, eu gosto, é legal... além disso, mamãe não deixa eu tocar em casa. Ela diz que eu faço barulho demais. Ela até mandou construir um estúdio num dos quartos pra ninguém me ouvir ensaiando.

Coitada da tia Rafaela se o Saffron tivesse botado o Leon pra tocar bateria.

- Olha, das duas uma, ou sua mãe é música profissional e enxerga todos os defeitos de quando você toca, ou ela é uma burra que só sabe encher o saco. – ele começou a rir. Até errou o acorde nessa hora. – E o teu pai, o que ele fala?

- Ah, ele não fala nada, ele até curte... às vezes ele tá trabalhando e fica perto de mim pra escutar quando eu tô ensaiando. Ele só reclama às vezes porque o barulho incomoda os vizinhos, mas fora isso ele gosta.

- Sei...

- Ô Sven, posso te fazer uma pergunta?

- Ah, manda...

- Você e o papai... vocês são... – ele tava ficando sem graça. - Tipo, vocês são só professor e aluno né?

Aquilo me deu muita vontade de rir. Ele tava tentando perguntar discretamente se eu tinha um caso com o pai dele. O problema é que ele estava sendo discreto como qualquer criança de dez anos seria. Na verdade, aquela pergunta tava colocando o ouro na mão do bandido. Era o tipo de coisa que comprovava que o Saffron gostava de outra fruta.

- É... mas por que tá me perguntando isso?

Juro que eu queria ter um gravador pra poder registrar a resposta dele.

- Ah... é que o meu pai não é de dar muita brecha pra aluno dele, e você tem dormido aqui um monte de vezes...

- Não foram um monte de vezes. Foram só duas. E as duas foram quase por acidente. Não é como se ele tivesse me convidado pra passar a noite com ele.

Sim, o duplo sentido foi intencional. Ele pareceu bem satisfeito e voltou a tocar guitarra, dessa vez uma música que eu conhecia bem: One Last Breath, do Creed. Admito que aquela me deu vontade de cantar junto, mas achei que ia ser pagação de mico demais, então fiquei calado. E como a fome tava me lembrando que eu tinha estômago, resolvi cair fora dali e procurar o Saffron.

E falando em coisas chocantes... não é que ele tava dormindo? Tava jogado no sofá da sala (agora esticado pra ser uma cama), mais torto que estrada que sobe a serra, usando só uma cueca samba-canção e pegando o vento que vinha da janela aberta da sacada. Não era perigoso deixar a janela aberta assim de noite? Bem, tá certo que era o quarto andar, mas hoje em dia não se pode duvidar de nada... se existia homem gay que tinha filho de 10 anos mais macho que ele, porque não podia existir um ladrão que subia até o quarto andar pra roubar?

Era estranho. Eu me sentia como se tivesse caído num momento muito pessoal dele. Afinal, não era qualquer um que podia ter acesso ao apartamento dele pra ver ele só de cueca esparramado no sofá. E agora, pela primeira vez eu tava reparando que ele tinha um corpo bonito pra quem não malhava nem fazia nada... se é que ele não fazia mesmo. Era só um palpite meu, afinal, uma das garotas que eu peguei comentou um dia desses que ele trabalhava em 4 escolas diferentes, e eu acho que com uma rotina dessas seria difícil arrumar tempo pra frequentar academia.

Outra: não vi nenhum aparelho de ginástica na casa dele. A casa era toda bagunçada, e só olhando rápido eu já tinha visto um monte de coisa. Tranqueiras da Polishop, coleções de DVD sobre história e gramática, uns CDs de músicos como Vivaldi e Beethoven, e mais umas coisas que deviam ser do Leon, tipo uma caixa pra guitarra e um monte de pacotes de cordas de todos os tipos; sem falar em uma pasta de teses de dissertação da faculdade, jogos de videogame, umas 10 raquetes de fritar mosquito, estojos de pintura, coisas religiosas, um taco de beisebol, medalhas, cadernos, e até um kimono médio com umas 3 ou 4 faixas.

E lógico, essa conta toda não inclui nenhum dos duzentos milhões de livros que ele tenta guardar naquele ovo de apartamento. Gramáticas, dicionários e coisas que ele usava na aula ficavam na sala, enquanto outros livros, como culinária, jardinagem, enciclopédias, coletâneas de partituras e até uma crônica de RPG de vampiros ficavam jogados no quartinho que o Leon tava tocando guitarra.

Aliás, quando foi que eu fiquei tão observador assim? E quando foi que eu aprendi tanto sobre a vida do professor?

Daí ele começou a se mexer. Achei até que ele fosse acordar e tudo, mas ele só se virou pro lado e botou a mão em uma almofada.

- Yoh...

Aquilo me subiu um ódio sem precedente. Virei de lado, fui até a cozinha, peguei a panela mais pesada e mais barulhenta possível e tratei de jogar ela no chão. O efeito foi imediato: quase deu pra ouvir aquele viadinho de merda pulando do sofá. Até o Leon se assustou, a guitarra dele deu um grito que com certeza não tinha no final da música do Creed.

Tinha alguma coisa de muito errado comigo. Esse professor tava me deixando com uns pensamentos muito estranhos, sem falar em rompantes de raiva muito sem noção. Mas agora não era hora pra se arrepender. Já tava feito, e acabou.

- O que... o que houve?! – ele invadiu a cozinha, olhando ao redor como se estivesse caçando um elefante na selva. – Tá tudo bem?

- Ah, não foi nada, me deu fome, eu tava tentando fazer o café e acabei derrubando isso sem querer.

Acho que já posso me candidatar ao prêmio de Cara Cínica do Ano. E depois de 5 segundos, percebi que ia ter que indicar o Saffron como Vítima Suprema no mesmo concurso.

- A-ah... desculpe, não foi minha intenção te deixar com fome... Eu já vou preparar alguma coisa...

Aquilo era inacreditável. Será que era crime chantagear demais alguém tão emocionalmente fraco como ele? Resolvi sair da cozinha pra poder rir um pouco mais livremente da cara dele, mas ele não deixou.

- Ei, espera, quero falar com você...

O tom de voz dele dava a entender que essa era uma conversa à qual o Leon não estava convidado. Sentei num dos banquinhos perto do fogão enquanto ele fechava a porta.

- Ah, só não senta muito perto do fogão que ele dá choque...

Não foi preciso repetir. Tratei de tirar logo a porra do banquinho dali e sentar do outro lado, bem longe de qualquer coisa que pudesse me eletrocutar.

- Então, vai me contar o que aconteceu ontem ou não?

E falando em ser direto... bem, aquilo não foi uma pergunta, foi mais uma exigência, do tipo Confesse ou Morra.

- Ontem o que?

Eu não ia dar o braço a torcer. Cinismo até o fim. E claro que aquilo não tinha deixado ele feliz.

- Ah, Sven, é que aconteceu uma coisa engraçada comigo ontem. – ele foi contando como se fosse a coisa mais natural do mundo. – Eu tava numa boa aqui em casa, quase dormindo ouvindo o meu novo CD do Tokio Hotel que eu mandei buscar, tentando terminar de corrigir uns simulados de lá do CETEP, quando meu irmão mais velho me liga pra pedir que eu vá buscar um moleque porre que desmaiou na porta da casa dele depois de quase ser assaltado e espancado, porque aparentemente o moleque é meu aluno do Silvério Franco. Daí, eu não tinha muita escolha, então fui lá ver do que se tratava e encontrei você, jogado no sofá da casa do meu pai, sem dinheiro, sem documentos, cheio de hematomas inexplicáveis, com a roupa trocada porque a sua original tava completamente entupida de vômito e uma ressaca e um cheiro de cigarro insuportáveis.

Ok. Aquilo era coisa demais pra minha cabeça. Tinha muita coisa errada naquela frase toda. Primeiro, ele tava ouvindo Tokio Hotel. Segundo, ele pagou por um CD do Tokio Hotel. Terceiro, ele deu dois nomes diferentes para o dono da mesma casa. Quarto, ele disse que tava quase dormindo enquanto tentava corrigir provas. E quinto... quem picas corrige prova às quatro da manhã, ouvindo Tokio Hotel como se fosse a coisa mais relaxante do mundo pra se fazer numa madrugada de quinta feira?

E eu reclamava do Johann comendo pão com talheres.

Enquanto isso, o Saffron ia interpretando muito mal aquele meu silêncio exagerado, e tava quase apontando uma lâmpada na minha cara pra começar um interrogatório. Aquilo era cagada demais pra eu tentar inventar uma desculpa pra tudo.

- Olha, eu não fiz nada de mais. Todo mundo sai pra se divertir na minha idade.

Ah, esse cheirinho de sermão novinho no ar...

- Se divertir? Essa é a sua ideia de diversão? Sair por aí bebendo todas pra depois desmaiar sozinho na rua não parece nada divertido pra mim, nem sequer saudável! Você nem por um segundo parou pra pensar no que poderia ter te acontecido?

Isso porque ele não sabia do lance da carteira.

- Vem cá, qual é o problema afinal? – retruquei. Já tava me cansando daquela merda daquele discursozinho de herói. – Todo mundo da minha idade sai pra curtir, e eu tenho idade suficiente pra poder decidir o que eu quero fazer de noite! E não venha me passar discurso cheio de moralismo, porque caso você ainda não tenha percebido, o seu querido irmãozinho também fuma, e com certeza deve beber também, e fazer as mesmas coisas que eu!

- Não estamos discutindo sobre o Shian!

- Você não tem moral pra falar comigo se não sabe cuidar nem da sua própria família! Resolva os seus problemas primeiro, e depois pense nos meus! Aliás, nem precisa pensar nos meus problemas, deixa que eu resolvo eles sozinho, não preciso da sua ajuda nem da de ninguém pra cuidar de mim mesmo!

- Você não é burro, sabe muito bem que sair fazendo um monte de besteira pro aí não vai resolver os seus problemas! Aliás, burro aqui sou eu, que fico me preocupando com você e com as coisas que você faz!

Por um minuto isso me deixou sem resposta. Ele tava mesmo preocupado comigo?

Mas só por um minuto.

- Eu não quero que você se preocupe comigo, eu já falei que cuido dos meus problemas sozinho! Ontem eu saí porque eu quis, não tinha nada a ver com meu estado de espírito ou algo assim!

- Sim, sim, e aquela sua namorada sadomasoquista que te enche de porrada no motel também faz parte da sua lista de como resolver os problemas né?

Ok. Eu tinha sido idiota demais de achar que ele ia simplesmente cair nisso. E ele falou de propósito, pra ver como eu reagia. Acho que deu certo, porque meu silêncio não era exatamente o que eu tinha em mente pra provocar uma boa contrarreação.

Ele suspirou, e por um minuto eu me senti desobrigado a dizer qualquer coisa. Ele abriu uma gaveta do armário e tirou uma chavinha prateada com uma corrente. Eu já tinha visto essa chave em algum lugar antes, mas não lembrava onde.

- De todas as pessoas com quem eu ando em contato ultimamente, você é a que mais me preocupa. – falou ele. – Eu não sei que tipo de problemas você tem ou que tipo de coisa você tem que enfrentar, mas eu não me sentiria bem de simplesmente deixar você aturar tudo isso sozinho.

Foi aí que eu lembrei onde vi essa chave: no pescoço do Leon. Não era exatamente a dele, porque o strap da dele era do Ben 10, mas com certeza era o mesmo modelo de chave que ele usava pra abrir a porta do apartamento do Saffron.

Aquilo só podia ser sacanagem.

- Olha, - ele continuou falando, chegando mais perto e mostrando a chave – eu sei que nada disso tem a ver comigo, e que talvez eu não passe de um professor que fica se metendo na sua vida, mas eu ficaria muito mais aliviado se pudesse te ajudar em alguma coisa.

- Do que... – eu não sabia nem o que dizer. – Do que você tá falando?

- Eu já disse que não sei, eu não sei o que se passa com você... só acho que uma pessoa que apanha na rua e que sai de madrugada pra beber até cair deve estar passando por alguma coisa muito séria pra ter que chegar a esse ponto.

Ainda tentei abrir a boca pra falar, mas foi inútil. Eu não tinha absolutamente nada a dizer. Eu tava pasmo demais. Ele aproveitou esse instante pra botar a chave na minha mão.

- Pode vir sempre que quiser, eu prometo que isso ficará apenas entre nós...


Última edição por Len-chan em Dom maio 08, 2011 7:15 pm, editado 1 vez(es) (Motivo da edição : Uma escritora de fanfics relapsa demais.)
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Rescue Me. Empty Re: Rescue Me.

Mensagem por xXSeanXx Sáb maio 07, 2011 5:59 pm

Eu já tinha lido esse capítulo, mas vou postar aqui, já que não tinha dito nada, a história está muito boa, sério, muito boa mesmo, você lê e nem vê que acabou, e fica esperando o próximo capítulo.
Lenna, continue, e escreva outras quando essa terminar, você escreve muito bem.
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Rescue Me. Empty Re: Rescue Me.

Mensagem por Alia Michiru Dom maio 08, 2011 3:51 pm

Eu não gosto de Yaoi e ninguém me impede de ler essa bagaça aqui! e tou pouco me lixando pros gatos! /mal

Sério agora, o Saffron virou Pedobear ou o que? alguém precisa chamar o Conselho Tutelar pra tirar o Leon dele /heh
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Rescue Me. Empty Re: Rescue Me.

Mensagem por Len-chan Dom maio 08, 2011 7:16 pm

Len-chan, a autora, programadora, professora, gerente de projetos e SCRUUUUM MASTER!!!! escreveu:
Não, gente, não interessa se o STF autorizou a união estável homossexual. Não vai ter casamento no final da fic. Deixa isso pra final de novela da Globo.
[11. Amante]

Tinha alguma coisa muito errada com o mundo.

Fome e guerras por toda a parte. Nos canais de notícia, um monte de coisas sobre morte e violência e tragédias e gente que perdeu tudo em assaltos, em enchentes, em erosões.

Do lado de fora, barulho. Buzinas e cantar de pneus e sirenes. Das duas uma, ou era mais um assalto, ou mais um atropelamento. Não que isso fosse muita novidade, todo dia alguém morria ou era assaltado naquela rua.

Pessoas. Um monte de gente inútil, uma verdadeira nação de gente que mais parecia um desperdício de oxigênio, que só pensa em futebol e mulheres e gente pelada na televisão.

- Ô, Sven, passa o saco aí...

E eu sentado ali, jogado no sofá da sala do Saffron, roubando Doritos do filho dele.

Tinha muita coisa errada com o mundo. Tudo aquilo tava errado. O que eu tava fazendo ali, afinal? Por que eu tinha que simplesmente aceitar a oferta dele, como se ele fosse algum tipo de bom samaritano?

Foram duas semanas depois da cagada toda na Office. O Saffron simplesmente me deu a chave do apartamento dele, disse que eu tinha livre acesso, que podia ir lá sempre que quisesse... e lá estava eu, comendo numa boa, me perguntando se ainda tinha coca na geladeira. O Doritos já tava no fim.

- Ei! – Leon pulou no sofá, revirando o saco. – Você comeu o último! E até lambeu o farelo do fundo!

- Dançou, moleque. – deu vontade de jogar o saco na cabeça dele, mas ia ser maldade demais. – Bobeou, ficou sem Doritos. Anda, vai lá na cozinha e pega mais coca.

Ele levantou, meio a contragosto, e eu fiquei pensando no que eu tava fazendo enquanto assistia Naruto Shippuuden (o amigo dele emprestou 30 episódios da temporada pra ele, e eu não tinha mais nada pra fazer, então sentei lá pra assistir). Talvez eu não devesse ter aceitado a chave do Saffron, afinal. Aquilo tinha tudo pra dar merda, principalmente se for parar pra pensar quanto tempo da minha semana eu passava naquele apartamento.

Duas semanas desde aquele dia. E isso era muito tempo. Teve até uma vez em que eu saí da aula, peguei carona com o Saffron e só saí de lá no outro dia de manhã.

No começo, nem eu entendi porque tava fazendo isso. Talvez fosse simplesmente porque era o lugar mais perto de casa pra onde eu podia correr quando não queria olhar a cara do velho. Talvez fosse porque quanto mais tempo eu passava lá, mais eu podia espionar a vida dele e achar maneiras de acabar com aquela palhaçada toda.

Aliás, pensando nisso, acho que foi assim que começou. Eu saí de casa de noite, tava meio sem dinheiro, e quando não se tem dinheiro fica um pouco difícil de dormir em hotéis ou sair com garotas que possam te convidar pra dormir na casa delas... fiquei vagando por aí, tomei umas e outras, fumei um cigarro e depois a coisa cansou. E como eu já tinha percebido que ficar na rua não ia dar muito certo desde a cagada da Office, vi que não tinha muita alternativa a não ser ir pra casa dele.

Na verdade, não teve tanta reflexão assim. Tava chovendo pra caralho, eu já tava ensopado e o lugar mais perto que tinha era a casa dele. Tinha se passado uma semana desde que ele tinha me dado a chave. Acho que ele não esperava que eu fosse aparecer ali, principalmente porque eu fui entrando na moral na casa dele às 4 da manhã. Até pensei que ele tivesse dormindo a essa hora, e acabei acertando, apesar de ser algo completamente diferente do que eu imaginei.

O Saffron tava jogado no sofá, apagadaço, com a tevê chiando porque o canal já tinha saído do ar e ele era pobre demais pra pagar TV a cabo. No colo dele, um monte de trabalhos, que eu acabei reconhecendo como sendo o exercício sobre Regência Verbal que ele passou pra nossa sala em algum dia desses de aula. A mesinha tava atolada de papéis, e eu aproveitei a deixa pra dar uma olhada nas notas da galera.

O meu nome não tava lá no meio porque eu não entreguei esse exercício, mas mesmo assim foi divertido espionar as coisas dele. Ele tinha lançado nota já na metade dos exercícios. A pontuação era 1 ponto extra, mas ele jogou as notas valendo 10 pra todo mundo ter noção de como tava indo o estudo. Davkas passou com 6, raspando. Altair se saiu um pouco melhor, 8. Drake tirou 9, errou a última, uma que todo mundo tava errando até onde eu vi. Omini também, ficou com 7, mas no caso dele acho que era uma nota boa.

Aí reparei que tinha um papel na mão dele. Era o exercício do Akio. E tava com tudo certo, ele marcou um 10 e um Parabéns todo caprichado na ponta da folha. Parecia até que tava puxando o saco. Aquilo tava começando a parecer doce demais, então tratei de deixar os exercícios pra lá antes que aquilo começasse a me dar diabete.

Ele já tinha me dado roupa uma vez, então não ia se importar de eu pegar uma pra me trocar. Fui até o quarto dele, separei a primeira roupa que eu vi (uma cueca branca meio folgada e uma camisa vermelha) e troquei de roupa ali mesmo. Quando voltei, ele ainda tava babando como se não tivesse amanhã.

Fiquei pensando em como a gente tinha se conhecido, e tudo que pensei dele até agora, e em porque eu tinha decidido me aproximar dele. Dava até pena dele. Tudo que eu tinha descoberto até agora era que ele tinha uma vida miserável. Ele parecia ser bem infeliz. Um casamento falido, um apartamento minúsculo e caindo aos pedaços num bairro mortalmente horrível (sério), um emprego ruim e mal pago, um carro velho e careca, um filho compulsivo por gastar dinheiro, e um monte de dívidas pra pagar.

Qualquer um na situação dele já teria motivos o bastante pra querer se jogar de cima da Ponte Ricardo Barros. Isso porque eu nem mencionei que ele era gay – e isso significava ser odiado, humilhado e desprezado por pessoas que nunca entenderiam os sentimentos dele. Quase como alguém que eu conhecia...

No fundo, se eu não fosse tão pisado em casa eu não estaria ali. Eu odiava meu avô, minha escola, e tudo que tivesse a ver com aquela droga de família. E mesmo com todos aqueles problemas, mesmo com tudo na vida dele dando errado, ele era um dos únicos que me tratava direito, que fazia eu me sentir bem...

Será que ele também se sentia assim? Será que ele também se sentia solitário quando não tinha ninguém por perto, assim como eu?

Fiquei pensando em tudo isso, olhando o Pain destruir Konoha enquanto o Leon fazia um monte de gestos de tão ansioso que tava. Naquela noite, alguns dias antes, o Saffron deixou eu dormir lá, e quando eu acordei ele me olhou com a cara mais contente do mundo, como se tivesse satisfeito de me ver ali.

Eu sentia que mudava minha opinião sobre ele a cada vez que ficávamos juntos. Saffron era alguém muito flexível, que se adaptava a cada situação que surgia como se fosse a coisa mais simples do mundo. Ele superava as dificuldades, fosse qual fosse, de um jeito que me dava até inveja. Mesmo preso a todos os problemas que ele tinha, ele agia como alguém completamente livre, daquele tipo que nenhum desafio ou obstáculo consegue impedir.

Ele me fazia pensar na merda de vida que eu tinha. E eu acabava indo cada vez mais pra perto dele, porque era um dos poucos lugares em que eu podia ficar sem me estressar com nada. Quando o Leon tava lá eu me divertia, e quando ele não tava eu simplesmente enchia o Saffron.

As coisas sempre iam bem naquele cubículo do Saff. Todo tempo tinha animação, sempre dava pra bater papo ou ficar vendo alguma besteira na Tv (como o Pain destruindo Konoha, por exemplo). Não tinha rotina, não tinha muita regra, e mesmo assim a coisa corria bem.

Aliás, a própria rotina do Saffron era algo meio louco. Ele tinha uma vida meio complicada. A casa era dele, mas ele nunca andava só de cueca. Ele também não tinha horário pra dormir, ficava dando uns cochilos a hora que dava na telha e em qualquer lugar (geralmente ele dormia no sofá mesmo). Ele não tinha horário pra fazer nada, e costumava fazer várias coisas ao mesmo tempo (tipo ler livros de gramática enquanto fazia a comida).

Como se já não bastasse ele quase nunca dormir, a alimentação dele era algo que deixaria qualquer um nervoso. Ele comia 1/3 do que uma pessoa normal come em qualquer refeição. E sempre que não tinha gente em casa ele comia coisas instantâneas ou abria a geladeira, tirava o que sobrou e acabou. Cansei de chegar na casa dele de madrugada e ver lasanha de microondas pela metade na geladeira, enquanto ele assistia seriado velho do SBT e escrevia o roteiro de aula do outro dia.

O jeito dele, o estilo de vida dele, a relação dele com o filho, enfim, tudo isso me fazia sentir confortável o suficiente pra sempre querer estar do lado dele. E as coisas aos poucos foram me fazendo querer desistir de toda aquela ideia de vingança e de ferrar ele a qualquer custo.

Eu só não entendia muito bem o que eu queria. Eu me sentia bem quando estava com ele, e quando tinha que voltar pra casa era estranho, não só porque eu odiava todo mundo em casa, mas também porque eu sentia como se algo faltasse, como se eu me sentisse... Vazio.

E assim o dia foi passando. O Pain foi pra porrada com o Naruto, o Leon descolou um pacote de Fandangos de sei lá onde, e eu continuava tentando entender o que tinha acontecido comigo.

----------

Dois dias depois, eu achava que a coisa tava mais tranquila pro meu lado. Eu tava tão relaxado que até tava indo pra escola todo dia, e assistindo a maior parte das aulas. Assistir a aula de português agora era uma comédia pra mim, não só porque o Saffron continuava um babaca, mas também porque eu lembrava dele todo esparramado no sofá da sala da casa dele e ficava rindo enquanto ele falava sobre regência nominal.

A aula terminou mais cedo, porque o Mikhael tava sem vontade de dar aula e a maioria das garotas bonitas tinham ido pra um ensaio geral de num sei o que no ginásio, o que tirou ainda mais a vontade dele de ficar na sala. E como o próximo horário era o intervalo, ele tava doidinho pra descer e ficar vendo as meninas rebolando de minissaia.

Claro que quando ele liberou a turma eu tratei de sair da sala o mais rápido possível, e como não tinha muito que fazer resolvi tirar um cochilo em algum canto vazio. O primeiro lugar que me veio na cabeça foi o jardim do lado da quadra, um dos lugares mais confortáveis de todo o Silvério. Assim que cheguei lá puxei logo um cigarro, porque hoje era quarta, dia de ir pra casa do Saffron de carona, e ele era muito chato quanto a esse negócio de fumar na casa dele.

Quando eu tava terminando o cigarro, o ensaio na quadra terminou também, sinal de que era hora da galera trocar de roupa e subir pra sala pra assistir os últimos dois horários de aula. O vento meio friozinho e o silêncio que ficou no lugar foram me dando aquele sono bom, daí eu só ajeitei a mochila embaixo da cabeça e fui fechando o olho...

Lembra que eu falei que tudo na minha vida dava merda? Pois é. Minha soneca também levou farelo quando eu ouvi alguém se aproximar.

- O gatinho veio tirar a soneca da tarde, é?

Eu conhecia aquela voz. E quando abri o olho, vi que tinha acertado; Era a Gisele. Ela era muito gata, e fazia um tempão que a gente não fazia nada, principalmente porque de uns tempos pra cá eu tava mais interessado em jogar Call of Duty: Black Ops no modo Zumbi com o Leon (isso quando ele levava o Ps3 pra casa do pai, claro) do que ficar correndo atrás de um monte de putinhas interesseiras e não tão gostosas assim. A Gisele, porém, era uma exceção - não que ela não fosse interesseira, mas ela era gostosa demais pra se jogar fora.

- Oi... - acenei pra ela e sentei no banco. Ela sentou no meu colo. Talvez perder minha soneca não fosse tão ruim assim. Ela tinha saído do ensaio, então tava de minissaia e toda suadinha. Os peitos dela tavam tão empinadinhos naquela regata do uniforme PP dela que me dava vontade de chupar ela ali mesmo.

- Você sumiu, eu nunca mais tinha te visto por aqui... Por onde você andou? - eu tinha esquecido como era bom sentir ela remexendo no meu colo. Aquilo tava me deixando realmente animado. - Quando você não me chama eu sinto como se você não gostasse de mim...

- Isso é coisa que colocam na sua cabeça. - disse, passando a mão na coxa dela. - Eu tô sempre disponível pra você, a hora que você quiser...

- Isso inclui agora? - eu não tive tempo pra pensar em recusar, mas se tivesse, a reboladinha que ela deu ia me fazer mudar de ideia rapidinho.

- Pra você eu tô disponível a hora que você quiser...

Ela deu um sorrisinho e começou a me beijar que nem louca. Ok, eu tinha esquecido que ela tinha um corpo daqueles... Só aquele beijo já tava deixando o clima quente o bastante.

- Tá a fim de ir comigo ali na arquibancada rapidinho?... - Perguntei pra ela, já tirando a calcinha dela por baixo da saia. Só de raiva, dei aquela mordida no pescoço dela que ninguém conseguia resistir. E claro que ela não era exceção.

- Ahhhh, Sven... - eu sabia o que aquele gemidinho significava: vitória. Ela levantou, deu uma voltinha (a calcinha dela tava na minha mão, e a buceta dela apareceu todinha por baixo da saia), e me puxou pela mão na direção da arquibancada.

Assim que eu constatei que não tinha ninguém pra atrapalhar, ela deitou no banco e eu caí matando pra chupar os peitos dela. Eu tinha esquecido como o corpo dela era gostoso... Acho que se eu pudesse morrer afogado naqueles peitões eu ia morrer feliz.

E falando em morrer...

- Gatinho, você tá com camisinha aí?

Fudeu. Como eu pude esquecer de um detalhe daqueles? O meu desespero na hora foi tão grande que eu cheguei a imaginar na minha cabeça um moleque loiro do tamanho do Leon me chamando de papai.

Eu, Sven Anselm, aos 16 anos, com uma vidinha de merda que nem a que o Saffron levava? Ah, não, nem fodendo.

- Ah... Eu devo ter na minha mochila...

- E cadê a sua mochila mesmo?...

- F-ficou lá fora, no banco...

Gisele suspirou. Pegou meu ombro, me empurrou e olhou pra minha cara com certo desgosto.

- Tá, vai lá buscar, eu te espero aqui... Mas não demora, viu? Senão vou me sentir sozinha demais e vou buscar outra companhia!

Ela deu uma afastada nas pernas e esfregou a mão ali só pra me fazer demorar o mínimo possível. Eu é que não ia perder uma chance daquelas. Dei um jeito de desarmar a barraca (o meio mais rápido que achei foi pensar no Kerdied e no Dr. Akahai tendo um caso na sala dos professores) e fui direto buscar a mochila.

Chegando no jardim, vi a mochila exatamente onde eu tinha deixado antes: escondida um pouco atrás do banco. O problema é que tinha mais alguém ali. O Saffron tava sentado, abraçado com alguém que eu reconheci pelo cabelinho curto como sendo Akio. Como nenhum deles tinha percebido que eu tava ali, e eu também não queria que isso acontecesse, tratei logo de me esconder atrás da parede mais próxima.

Eu nunca tinha visto o Saffron tratar ninguém daquele jeito. Ele tava abraçado com o moleque, passando a mão na cabeça dele enquanto ele se desmanchava de tanto chorar. Que frescura! Eu não fazia ideia do que teria acontecido, mas com certeza não tinha necessidade dele ficar agindo que nem uma mulherzinha.

- E-eu não sei o que fazer, Saffron... - de onde eu tava dava pra ouvir perfeitamente a conversa dos dois. - Não sei se vou ter coragem de assumir isso pra todo mundo...

- Você não precisa pensar nisso agora. Com o tempo, você vai se acostumando com isso. - respondeu ele, num tom de voz super carinhoso e gentil. Logo ele, que sempre era meio distante com todo mundo, até mesmo comigo, tava todo derretido pra cima do Akio?

- Mas... O que as pessoas vão dizer de mim se eles souberem? Ninguém vai me deixar em paz... Eu não quero, Saff! Não quero ter que me assumir pra toda essa gente!

O professor abraçou ele de novo, todo carinhoso, e deu um beijo na testa dele. Aquilo tava começando a ficar estranho demais até pro padrão Saffron de ser.

- Eu sei que parte disso é culpa minha, por te pressionar a fazer esse tipo de coisa, mas acho que é a coisa mais natural a se fazer depois do que aconteceu entre nós... Eu não quero que você sofra, e eu vou fazer de tudo pra que isso não aconteça, mas você entende que vai ter que revelar o seu verdadeiro eu, não entende?

Akio fez que sim com a cabeça, mas ainda tava nervoso demais pra parar de chorar. O Saffron passava a mão no rosto dele pra enxugar as lágrimas, e falava nos olhos dele com um tom macio.

- Eu só quero que você seja feliz, e eu sei que você não vai conseguir ser feliz enquanto não conseguir se aceitar como você realmente é.

- Mas as pessoas vão me odiar... Você sabe como eles odeiam esse tipo de coisa, você também já passou por isso antes, sabe como é... Você só tem sorte porque depois de tanto tempo as pessoas se esqueceram disso, tem gente que nem sabe disso!

- Aki, meu amor... Eu não vou te pressionar a nada, sei que você tem medo, e eu não te culpo. Eu também fiquei com medo quando soube de tudo isso, mas eu nunca tentei esconder, e até me tornei mais feliz depois que contei pra todo mundo. Como se um peso tivesse saído dos meus ombros, sabe?...

Akio ficou calado, olhando pro Goma enquanto pensava em tudo aquilo. Ele suspirou, e abraçou as pernas enquanto olhava pro lado. Saffron voltou a passar a mão na cabeça dele.

- De qualquer forma, o que eu queria te dizer quando te chamei aqui é que, não importa o que aconteça, eu quero que você lembre que estamos juntos nessa, viu? Eu vou te dar todo o apoio que você puder receber, e mesmo que a sua família não te aceite, eu e meus parentes vamos estar sempre prontos pra te dar o que quer que você precise.

- Obrigado, Saffron.

Akio enxugou o rosto, deu um sorrisinho e beijou Saffron no rosto. Em seguida, levantou e foi saindo.

- Ah, Akio...

- Sim?

- Procure não deixar isso vazar pela escola, Tá? Se alguém da coordenação pedagógica sequer suspeitar que esse caso aconteceu, vamos ter sérios problemas...

Akio fez que sim com a cabeça, deu aquela inclinadinha pra agradecer como todos os orientais fazem, e foi embora. Saffron olhou pra cima por um tempo, pensativo, e também caiu fora depois, seguindo pela direção contrária. Eu tive que aproveitar aquele instante pra ir pegar minha mochila, antes que mais alguém resolvesse discutir sua vida pessoal ali no jardim.

Primeiro, eu descobria que o Saffron era viado. Depois, que ele tinha um filho prestes a entrar na adolescência. E agora, que ele tava tendo um caso homossexual com um garoto que tinha a minha idade ou menos.

A capacidade do Saffron de destruir a própria vida era algo simplesmente impressionante. Ele sempre conseguia um meio de se meter numa enrascada pior que a anterior. E eu achando que a minha vida era cheia de altos e baixos...

No entanto, por mais legal que fosse ter descoberto o segredo mais profundo e nojento dele, aquilo me dava raiva. E nojo. Eu tinha ódio de imaginar os dois juntos, dividindo o mesmo ambiente, trocando carinhos e juras de amor de um jeito bem menos discreto que naquele banco de jardim no meio do colégio. Só de imaginar o Saffron namorando com aquele moleque que mais parecia um pau de virar tripa eu tinha vontade de espalhar a foto dele com o Johann em cada esquina, pra ele nunca mais ter respeito na vida toda.

E pra completar ainda mais o meu ódio, quando voltei ao ginásio a Gisele já tinha ido embora.

Grande dia...
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Rescue Me. Empty Re: Rescue Me.

Mensagem por Len-chan Ter Ago 16, 2011 12:32 am

Len-chan, a autora não muito bonita, sem muito dinheiro, e com pouquíssimas reviews escreveu:
Olá!~


Pois é, postei no Nyah e num postei aqui. Bad, bad author.






*indo bem ali fazer um mea-culpa rapidinho*



[12. O japonês]

- Sabemos que as plantas conhecidas como briófitas são seres com morfologia bastante simples, conhecidos popularmente como "musgos" ou "hepáticas". São organismos pluricelulares, sendo que apenas os elementos reprodutivos são unicelulares, enquadrando-se no Reino Plantae, como todos os demais grupos de plantas terrestres.

Eu não podia estar mais puto. Mesmo depois de um dia inteiro, eu não conseguia parar de pensar no Saffron e no caso dele com aquele molequinho mequetrefe. O que tava acontecendo nesse colégio, afinal? Eu saio pra investigar uma coisa e de repente descubro que todo mundo é viado, e ainda por cima que meu professor tava flertando com um aluno?

- Algumas espécies de briófitas podem ser resistentes tanto à imersão, em ambientes totalmente aquáticos, como a desidratação. Elas também apresentam três tipos de reprodução diferentes. Quais são eles?

A frase nem saiu direito da boca do Hitori e ele já tinha levantado a mão.

- Sim, Akio?

- Gamética, espórica e vegetativa, sendo que no caso vegetativo ela pode ser por fragmentos, propágulos, aposporia e apogamia!

- Sim, está correto. Pode se sentar. Assim, vemos que, com a evolução para Pteridófitas...

Porra de moleque interesseiro. E ainda por cima era puxa-saco. Cara, QUE ÓDIO! Dava vontade de puxar uma arma e arrancar a cabeça dele ali mesmo, na sala de aula... Como ele tinha coragem de se meter com o Saffron? O que ele tava querendo? Qual era o plano dele?

- ...Sven?

- O que é, merda?!

Ok, eu falei sem pensar. Depois é que eu fui ver que quem tava me chamando era o professor - outro que não valia nada. Eu só não falei nada que ele devesse ouvir porque eu respeito muito a Sophia, e por um golpe do destino eles tinham um caso.

- Sven, se a aula não estiver do seu agrado, talvez você devesse passear um pouco do lado de fora pra esfriar a cabeça... - sugeriu Hitori, apontando a porta. - E por favor, quando voltar traga a autorização de entrada do diretor, sim?

Era só o que me faltava. Respirei muito fundo e saí da merda da sala, pensando onde eu ia descansar até o final do dia. Como estava sem muitas opções, acabei indo pro jardim do lado da quadra, justamente o lugar que tava me estressando daquele jeito. Se pelo menos ontem eu não tivesse ido pra lá...

Menos de dois minutos depois, eu já tava deitado lá. Hoje o dia não tava tão bonito assim, o céu tinha uma ponta de azul, mas a maior parte dele tava nublado e com um tom meio cinza. No máximo até amanhã ia cair uma tempestade digna dessa época redor ano. E pra variar, eu não tava preocupado.

O pessoal que tava treinando hoje no ginásio não tinha as gatinhas de ontem, só um bando de moleques do fundamental que eu não sabia e nem queria saber de qual série eram. Dava pra ouvir perfeitamente a professora Lenna (que por sinal tinha uns peitos bem razoáveis) mandando os moleques do treino de futebol pro chuveiro. Eu como não tinha nada pra fazer resolvi mexer no meu gravador, pra ver se tinha alguma coisa interessante ali.

A maioria dos registros legais de se ouvir eu já tinha transferido pro PC, então só desliguei o treco e deixei no meu bolso, por pura preguiça de pegar a mochila. Lá longe, do outro lado do ginásio, ia saindo a Lenna tagarelando com os pivetinhos que ela tava treinando antes.

Enfim, paz. Com os moleques longe, eu ia ter alguns minutos de paz antes que a ruiva descesse com mais pirralhos pra treinar pênaltis. Talvez se eu conseguisse dormir antes dela voltar, ia poder ficar numa boa até o final do horário de aula.

Mas nem isso eu podia fazer mais. Quando tava me dando vontade de fechar o olho, começo a escutar uma molecada gritando dentro do ginásio.

- Anda, passa logo a merda do dinheiro, moleque!

- Mas eu já disse...

- Eu não tô ouvindo você falar, fala mais alto!

- AI! Me larga, seu... AAAAAAI!

Pior é que de repente eu reconheci aquela voz. E aquilo me fez dar um pulo do banco e correr lá pra dentro mais rápido que num sei o que.

E pra variar, o meu palpite tava certo: lá do outro lado da quadra tava o Leon, com a roupa do treino de futebol, tentando correr de uns moleques que mais pareciam que tinham comido fermento demais no lanchinho. Dei uma corrida, o mais rápido que pude, e assim que passei dos pivetes agarrei a cintura do Leon e empurrei ele pro lado, entrando no meio da briga.

Claro que os trombadinhas não tavam esperando que um moleque do Convênio viesse socorrer a vítima deles, e fizeram uma cara meio esquisita. Até parece que eu ia deixar alguém mexer com ele.

- Que feio, não é assim que se brinca de pega-pega... - e ainda balancei o dedinho pra eles, só pra fazer graça.

- Quem é você? Não se mete, deixa a gente em paz!

Um deles foi andando um pouco na minha direção, mas claro que eu não ia simplesmente recuar pra um monte de anões de jardim.

- Eu sou pai dele, seu babaca. Por que, vai encarar?

- Ah, então esse que é o namoradinho do seu pai, é, Leon?

Os três começaram a achar graça. Aí eu perdi a paciência de vez. Também, não precisei falar mais nada, porque só a cara azeda que fiz calou a boca deles na hora. Bati o pé no chão, fingindo que ia correr, e os três vazaram dali mais rápido que o diabo correndo de um exorcista.

- E SE MEXEREM COM ELE DE NOVO EU VOU BATER EM VOCÊS ATÉ VOCÊS FICAREM DO TAMANHO DE GENTE DO MATERNAL! - gritei, só pra garantir.

Claro que não foi preciso fazer muita coisa. Assim que os moleques botaram o pé pra fora do ginásio, me virei e vi o Leon sentado no primeiro degrau da arquibancada, com uma cara bem chateada.

- Valeu...

- Vem cá, seu pai disse que você era bom de briga, cadê aqueles golpes de karatê que você disse que sabia?

- Eu tô há um tempo sem treinar, eles me cercaram e eu não consegui reagir... - explicou ele, ainda chateado.

- Seu pai não pagava as aulas de karatê pra você?

- Ele teve que cortar umas coisas, ficou ruim pra ele pagar tudo, ele disse que dava pra resolver se ele vendesse o computador, mas eu não quis...

Pensando bem, de uns tempos pra cá eu tinha visto muitas vezes o Saffron fazendo contas e mais contas... Era por isso então? Mas mesmo assim, tinha algo estranho... Como de uma hora pra outra ele tava tão desesperado por dinheiro se ele continuava trabalhando nos mesmos lugares, com a mesma carga horária?

O assunto tava deixando o Leon meio pra baixo demais, então resolvi deixar aquilo de lado e perguntar outra coisa.

- Aqueles moleques vivem pegando assim no seu pé?

- De vez em quando. Eles ficam mexendo comigo, mas se for só um deles eu até consigo revidar, só que eu prefiro deixar pra lá.

- Ué, por que?

- Porque o papai reclama quando o Shian vai parar na coordenação por causa dessas brigas, então eu não quero que ele fique chateado comigo também...

Então era isso. O Saffron era tão viado que até as criancinhas de 10 anos da sala do Leon já tinham percebido que tinha algo de errado no jeito dele. Se bem que eu nunca tinha reparado que ele dava tanta bandeira assim... Nesse caso, só tinha uma explicação.

- Esses moleques tem irmãos, não tem?

- Acho que tem, o que isso tem a ver?

O que tinha a ver? Tudo. Os mais velhos falavam mal, e os mais novos gravavam aquilo. Era meio que um círculo vicioso...

Aproveitando que a gente tava sozinho ali, sentei do lado dele. Meti a mão no bolso pra tirar um cigarro e acabei lembrando que o gravador tava lá dentro. Bem, o Leon tava sendo bem sincero, talvez prolongar o papo não fosse tão ruim assim. Deixei o gravador ligado e fui acender o cigarro.

- Sabe Leon, você devia dar menos trela pra esses babacas da tua sala. Precisa parar com essa frescura de se preocupar com o que o Saffron pensa e revidar! Tem que começar a se impor desde cedo, ora essa!

- Tá, mas eu já disse que não tô mais lutando! Além disso, se eu brigar fora do Dojo eu vou acabar sendo expulso.

- Ué, tem isso?

- Claro que tem! Quem é expulso leva uma surra de faixa de todo mundo da academia. Eu é que não quero passar por um negócio daqueles, não... Aquilo tem cara de doer pra cachorro.

Dei mais uma tragada, enquanto pensava na próxima pergunta.

- E a tua mãe, por que ela não paga essas coisas pra ti? Até onde eu sei ela tem dinheiro pra isso...

Leon deu uma risadinha nasal que até me deu um certo medo. Ele era todo preocupado em falar bem do pai, mas com a mãe era assim?

- Sven, a minha mãe num tá nem aí pro que eu faço...

Era bem estranho ouvir isso da boca dele. E pela cara que ele tava fazendo, era doído falar isso também.

- Achei que você gostasse dela... Pelo menos foi o que pareceu pra mim.

- Eu gosto, mas isso não quer dizer nada... Sabe, ela paga o colégio, as aulas extras, essas coisas. Se eu pedir algo novo pra ela ela compra, se eu disser que gosto dela ela vai ficar feliz... Mas sei lá... Ela fica o tempo todo fora, e quando tá em casa tá sempre conversando com o marido dela ou no celular com alguém.... É meio chato você falar tudo e a pessoa só dizer que sim, que tá, como se fosse algo padrão, sabe?

Por um segundo me perguntei que tipo de educação o Saffron dava pra esse menino pra ele falar coisas como "algo padrão", mas aquela não era a questão ali. E eu entendia como ele se sentia.

- É por isso que você gosta mais do seu pai do que dela?

- Não sei... Eu gosto dela também, sabe? Só que... Eu não entendo como o papai consegue fazer tanta coisa e ainda assim a gente passa mais tempo junto do que a mamãe, que volta cedo do trabalho e nunca tem tempo pra mim...

Ele abaixou um pouco a cabeça e se escorou em mim. Eu, meio sem graça e sem opção, acabei passando a mão na cabeça dele.

- Quando o papai Tá ocupado corrigindo as coisas do colégio, ele Pede emprestado o DVD do cara que mora no apartamento de cima e aluga algum filme que eu gosto, aí ele senta do meu lado e diz "Ah, vou assistir isso só porque você quer ver!", e fica sentado do meu lado corrigindo as coisas, mas eu sei que ele odeia ver TV quando tá trabalhando sério, e ele faz isso pra gente não ter que ficar muito longe... Me diz, Sven, porque a mamãe não faz esse tipo de coisa também?

Eu não tinha o que responder. Fiquei calado, fumando só pra não ter que responder nada, enquanto ele ficava lá, mostrando pela primeira vez que não era uma criança tão sabe-tudo assim.

Esse era o tipo de coisa que o Saffron nunca ia conseguir ensinar pra ele. Talvez porque ele mesmo não tinha uma resposta pra isso.

Depois de um bom tempo, ele se acalmou e levantou pra correr um pouco mais atrás da bola. Parece que ele tinha se animado mais. Até arriscou fazer um gol.

- Ô Sven, você não tem aula mais hoje?

- Ah.... Não - respondi na hora.

- Eu já tenho que ir, você não vai ficar chateado de ficar aí sozinho?

- Não, relaxa... - de repente, algo me fez pensar, e olhei pro relógio. - Mas olha só, num tá cedo demais pra você ir procurar seu pai?

- Ah, não vou atrás dele não! - ele falou, sorrindo. - Hoje vou pra casa do Yuki, o papai tava querendo conversar com o Akio, então eu pedi pra ele pra ir pra casa do Yuki e ele deixou, daí a tia Lenna vai me deixar lá em casa mais tarde...

Ah, não, vai tomar no cu. Sempre ele. SEMPRE ELE! O que mais esse moleque ia fazer pra atrapalhar minha vida? Mas se ele tava achando que eu ia simplesmente deixar isso barato, tava muito enganado!

- Ei, Sven, pra onde você vai?

- Pegar uma carona! - disse, já correndo pra entrada. - A gente se vê mais tarde!

Enquanto eu tentava sair voando pro estacionamento, ainda deu pra ouvir ele gritando:

- Mas como assim, mais tarde?!

----------

Foi a cena mais bizarra que eu já vi na minha vida.

Um olhava pra cara do outro, sem saber o que fazer. Ele tava todo encolhido, parece até esposa que vai conhecer a sogra pela primeira vez. Ou talvez fosse uma coisa dos japoneses mesmo, eu nunca entendi o comportamento deles direito, muito calados como se qualquer coisa fosse atacar eles de repente.

Apesar de ter uma mesa na nossa frente, e de ter biscoito e Soda Limonada (era o refrigerante preferido do Saffron, nunca tinha coca mas sempre tinha Soda), ninguém tinha coragem sequer de tocar na comida. Eu encarava ele, ele me encarava, e a gente continuava naquele clima estranho, enquanto eu ria por dentro de ter provocado aquilo.

Eram oito da noite, o desgraçado do Akio tava morrendo de vergonha na minha frente, e o Saffron tava trancado lá na cozinha, fazendo alguma coisa decente pra gente jantar. Eu não podia estar me sentindo mais vitorioso. Se eu tinha uma oportunidade pra separar esses dois, era essa.

Por essa você não esperava, seu filho da puta magrelo e sem sal, pensei enquanto encarava ele. Achou que ia ficar numa boa com ele, mas não eu tô aqui, e comigo aqui eu tenho certeza que você não vai ter coragem de falar dos seus draminhas pessoais sem graça com ele, né?

- Não estão entediados nem nada, né? - o Saffron saiu tão de repente da cozinha que me deu até um susto. - A TV tá ligada, se quiserem assistir alguma coisa, podem ir lá, não precisam ficar esperando o jantar que nem duas varetas pregadas no chão...

- N-não se preocupe, estou bem aqui... - o Akio falu isso sorrindo, meio forçado pra disfarçar que tava morrendo de vontade de sair correndo. - Por favor, fique à vontade...

- Ô Sasa, me faz um favor, aproveita que tu tá indo pra cozinha e me traz um gelo, esse refri tá quente e sem graça...

Aquilo era um absurdo. Quem, em plena adolescência, fala "estou"? Aquele garoto não existia, sério, não era possível. Só pela gracinha, também resolvi apelar. E não fiz questão nem de estender o copo. Pra ele, diga-se de passagem: empurrei o copo na mesa na direção dele, que nem bartender mandando cerveja pelo balcão.

Claro que o Akio ficou escandalizado quando me viu agindo daquele jeito na casa dos outros, mas eu não tava nem aí. Por mim, ele podia até ser filho do Papa, e eu ia tratar o Saff do mesmo jeito. Não, pera, acho que se ele fosse filho do Papa ia ser bem menos ruim pra ele do que ele sendo quem ele era, o amante do Saffron. E por falar nisso, o próprio Saffron, claro, educadinho do jeito que era, estranhou bastante aquilo.

- Vem cá, tá achando que eu sou garçom, é? - ele falou, fazendo uma cara bem irritadinha. - Além disso, você vive aqui quase o tempo todo, você já tem liberdade o suficiente pra ir lá se servir.

Aquilo surtiu um efeito bem melhor do que o esperado. O japinha pau de virar tripa ficou mais sem jeito do que ele já tava, e fez uma cara amarrada de "droga, eu não devia ter vindo aqui". Sucesso total. E como o Saffron tava quase me jogando o copo, tive que levantar pra ir me servir.

- Ah, e tem mais uma coisa, - continuou ele. - Volta a me chamar de Sasa que eu te jogo daqui da sacada usando só dois dedos.

Rindo, eu entrei na cozinha, enquanto o sabor da vitória enchia minha boca. E quando eu achava que a coisa não podia melhorar, veio mais surpresa pela frente.

O Saffron terminou de fazer o jantar e foi logo servindo a gente. O prato do dia era sopa de carne com brócolis, uma coisa que eu sabia que o Leon adorava e que só podia ter sido feita pensando nele. O Saffron também tinha um gosto especial por essas comidas de coelho, era a única coisa que ele realmente comia em uma dosagem humana. Infantil, mas humana. Eu já falei que o Saffron come terrivelmente mal? Pois é.

Sentamos os três pra jantar, e o Akio mal conseguia tocar na comida de tão sem jeito que tava. Acho que ele comeu só pra fazer a vontade do dono da casa, porque ele não tava com fome, não. Só pra garantir, eu continuava encarando ele esquisito de vez em quando, pro caso dele sem querer recuperar um pouco da autoconfiança dele.

Mas ainda tinha mais coisa por vir. O Saffron ficava puxando assuntos corriqueiros, tipo aula e programas de TV e umas bandas muito estranhas que ele e o Akio curtiam, mas nada servia pra amenizar o clima. O moleque tava travado demais pra tentar relaxar. Então, só pra dar o golpe de misericórdia, resolvi apelar.

- Vem cá, Akio, afinal de contas o que você veio fazer aqui? - perguntei, com uma carinha de quem não quer nada. - pegar aula particular não foi, as tuas notas em português são boas...

E ele travou de vez. Meu, eu só não morri de rir na hora mesmo porque o Saffron ia estranhar. Ele olhou ao redor, como se a televisão ou o relógio de parede fossem ajuda ele, e falou baixinho:

- Eu só... Só queria conversar...

E daí, do nada ele levantou, mais duro do que pedra, e quase derramou a sopa na mesa.

- Eu... Eu acho... Que já tá meio tarde, preciso ir...

O Saffron olhou pra ele, meio afoito, mas sem saber o que dizer pra ele ficar.

- Akio... N-não precisa ter pressa, se quiser ficar mais um pouco... Você nem comeu nada direito!

- Heh, olha quem fala...

- Não, eu.... Eu preciso mesmo ir...

- Akio, eu te dou uma carona, não precisa ter pressa, eu só vou...

Mas ele já tinha batido o pé e virado na direção da porta. Eu tava mais feliz que mendigo depois de ganhar na mega-sena, mas continuava com a mesma carinha de antes. Eu tinha conseguido me livrar dele, de repente até de vez!

Mas uma coisa me fez cancelar a comemoração. Na hora que ele abriu a porta pra ir embora, ele deu de cara com um molequinho loiro, vestido com a roupa do futebol e com a chave da porta na mão.

- Ahn, Leon?!

Ele fez uma cara de espanto como se o Leon não visitasse há meses. Eu? Bem, eu tava me sentindo como se de repente alguém me dissesse que meu bilhete premiado foi jogado no incinerador.

- Aki! - ele fez uma cara de felicidade tão absurda que me deu mais raiva ainda. Em seguida, deu um pulo e se jogou na cintura dele pra dar um abraço. - Que bom te ver aqui, eu pensei que você fosse embora mais cedo e que eu não ia te ver!

Mas o pior pra mim, é que a expressão do Akio mudou. Total. Ele olhava pro Leon de um jeito super carinhoso, como se ele fosse o menino mais lindo e fofo do mundo. Bem, ele até podia ser, eu admito que o moleque é bem legal. Mas na hora quase morri de raiva. Por que diabos aquele porrinha tinha que ser tão oferecido? Por que ele não podia vomitar em cima do Akio e chamar ele de bosta?

- Chegou bem na hora, filho. - ele foi lá tomar a benção do pai dele, e eu fiquei olhando com cara de tacho. - O Akio tava jantando com a gente... Fiz aquela sopa que você gosta, viu?

- AEEE! - ele falou isso todo contente, como se tivesse acabado de ganhar uma bicicleta. Ou, no caso dele, uma coleção completa de carrinhos Hot Wheels. - Valeu, pai...

Aquilo tava ficando bem ruim. O Leon trouxe de volta o clima de cumplicidade que todo mundo sentia quando tava na casa do Saffron, e isso tava arruinando meus planos de expulsar o Akio por desconforto pessoal. E pra completar, ele ainda arrematou:

- Ué, você veio pra cá também, Sven? Achei que fosse pra outro lugar, você saiu desesperado depois que eu falei que o Akio ia conversar com o papai, daí eu achei que você fosse pra casa de motorista...

Foi a gota d'água. O Saffron sacou na hora o que eu tava fazendo, e me olhou com uma cara de ódio indescritível. Era tanta raiva que nem combinava com ele. Enquanto isso, o Leon empurrava o Akio pra se sentar de novo, comer o jantar com ele, e ele foi correndo na cozinha pegar um prato pra comer com todo mundo.

A vantagem disso é que o clima com o Leon ali ficou tão leve que todo mundo tava conversando sobre tudo. Menos, eu, claro, que tava puto com o jeito que tudo terminou. Além disso, o Saffron de vez em quando me olhava, com uma expressão que queria claramente dizer "deixa só meu filho dormir que você vai ver uma coisa".

Mas aí...

- Ah, pai, sabe que o Sven me ajudou pra caramba hoje?

Saffron fez uma cara bem estranha, Akio idem - se bem que, em se tratando de mim, eu não culpo a eles por terem pensado que era mentira ou algum tipo de engano infantil.

- Hmm, sério? E como foi isso?

- Aqueles moleques da B que ficam me enchendo o saco... A tia Lenna foi subir, eles vieram pra cima de mim pra tentar me bater, aí o Sven não deixou!

Saffron fez outra expressão meio sinistra. Comecei a me perguntar se eu não tinha entrado por engano em um enterro.

- Agora você deu pra bater em moleques de 10 anos, é?

- Eu não bati! Eu só fiz eles se afastarem do Leon! Além disso, quem vê aqueles moleques pensa que eles são filhotes de baleia, só pode, aquilo não tem tamanho de uma criança normal de 10 anos, tipo o teu filho...

- É verdade pai, ele botou moral na galera... Se não fosse por ele eu ia voltar todo quebrado pra casa!

Isso fez o Saffron esquecer um pouco a carranca e o sermão que tava na ponta da língua dele, com meu nome escrito. Isso ia me dar um pouco mais de tempo.

Eu já disse que amo aquele moleque?

- Deixa isso pra lá, Saff, o importante é que o Leon está bem... – o Akio começou a passar a mão na cabeça dele. E o pior, o Saff realmente levou a sério o conselho. Nossa, que vontade de quebrar a cara dele... aliás, vontade de quebrar a cara dos dois.

Eles não combinavam. Era nojento. Como é que eles tinham ido parar juntos, afinal? O jeito deles era completamente diferente, eles não tinham afinidade, não tinha nenhum motivo racional pra eles estarem juntos! Até eu combinava melhor com o Saffron do que ele!

... epa. Como é que é?

- AH! – o Leon de repente deu um berro e bateu na mesa, e no susto eu acabei pulando da mesa também. – Sven, eu tenho uma coisa muito legal pra te mostrar!

- Coisa... legal? – aquilo não era bom. Seja lá o que fosse, nunca dava pra confiar em um moleque de dez anos.

- É! Anda, você vai gostar, eu tenho certeza! Anda, vem logo, vem logo, vem logo!!!

Pois ele nem esperou pra eu dizer alguma coisa. Ele levantou e saiu me puxando pelo braço. Eu, como não tinha muita escolha, só deixei ele ir me levando até o quarto todo bagunçado do pai dele que era mais bagunçado ainda.

Aquele quarto já era uma zona de guerra por si só, mas a coisa hoje tava bem feia. Tinha mala e roupa pelo chão, e o Leon ainda completou jogando a mochila dele de aula por lá. A primeira coisa que ele fez foi pegar a guitarra e tirar ela do estojo.

- Foi muito legal você ter ido me ajudar lá no ginásio – ele comentou meio de leve, enquanto dava uma afinada nas cordas. Pra um menino de 10 anos, ele tinha uma obsessão meio estranha em afinar a guitarra dele. Das duas uma, ou ele era fanático por um som perfeito, ou o instrumento que o pai dele comprou pra ele era usado e as cordas afrouxavam muito facilmente.

- Heh, você ficou tão feliz assim? - como não tinha lugar pra sentar, e ele tava na beirada da cama, eu acabei deitando meio do lado dele.

- Ah, sei lá... eu não conheço muita gente que faria isso. Se o papai ou o tio Shian tivessem lá, tudo bem, mas aposto que se fosse algum outro aluno da sua sala eles não iam nem ligar...

- Você não gosta do pessoal da minha turma, é?

- Não muito... todo mundo tem cara de ser mó chatão. Eu subo de vez em quando, quando tem alguma coisa pra resolver com o papai. Todo mundo lá é chato e fica enchendo o saco dele.

- Até o Akio?

- Ah, não... o Akio é legal. Ele não fica sendo chato com o papai.

Senti que isso era uma indireta, mas depois lembrei que o Leon não tava na hora que eu tava perturbando o Saffron. E mais a mais, quando ele começou a tocar, eu reconheci na hora que era Nickelback – ele não ia tocar aquilo se tivesse com raiva de mim. Conversamos alguns dias antes sobre bandas favoritas, e eu falei que uma das que eu gostava era Nickelback. Na verdade, eu acho que a Pink só não levava meu pódio de preferência porque ela não tinha peitos. Aquele silicone nojento dela não me engana.

- Você tirou essa música naquele dia, foi?

- Foi, você disse que gostava de “How You Remind Me”... – ele abriu um sorrisão, e o sorriso dele me lembrava o do Saffron. Era engraçado, eles tinham um sorriso de família que fazia qualquer um ficar meio feliz.

- Tirou sozinho?

- Ah... não, eu pedi pra minha professora me ajudar a tirar... – ele deu uma risadinha meio sem jeito, e eu acabei rindo também, de novo. – Mas valeu a pena, ela é legal...

A gente ficou um bom tempo meio quietos, enquanto ele tocava. Dessa vez deixei a vergonha de lado e cantei com ele um pouquinho. Quando a música terminou, o Leon ficou me olhando, surpreso.

- Você canta bem, Sven. – ele disse, rindo de novo

- Digamos que é uma coisa que eu gosto... – o comentário dele me deixou mais relaxado. Acomodei mais a cabeça no travesseiro. O Saffron podia ter todos os defeitos do mundo, mas a cama dele era uma beleza.

- Você também teve aula de canto?

- Ah, por aí...

- o Akio também canta direitinho, mas ele gosta mais de livros do que de música... – isso me tirou o sono de novo. Por que sempre que tava tudo bem o Akio dava um jeito de se meter? – E a voz dele é meio aguda... fica um pouco estranha na hora de cantar, sempre dá a impressão de que ele tá fazendo falsete.

Por mais despretensioso que tivesse sido o comentário do moleque, eu fiquei com raiva de ter ouvido falar naquele cachorrinho de olho puxado de novo. Minha primeira providência ao chegar em casa ia ser arquitetar um jeito de me livrar dele. Leon começou a tocar outra música, acho que era Our Lives do... ah... como era o nome daquela banda mesmo? The Calling? Enfim, ele tocou aquela lá, e eu levantei da cama.

- Ué, onde você vai? – ele até parou de tocar quando eu levantei.

- Banheiro.

Antes que ele perguntasse alguma outra coisa, eu dei no pé, e nem sequer bati a porta pra não atrapalhar ainda mais o ensaio dele. Nem eu sei porque resolvi sair, eu só queria um minuto pra botar meus pensamentos em ordem. Mesmo assim, a música tava ecoando pelo corredor, numa baladinha meio enjoada. Pessoalmente, já tinha ouvido músicas melhores deles.

Não era uma música que o Leon tava acostumado a tocar, então ele de vez em quando errava a nota, parava, e retomava. Ou então ele ainda tava ajeitando a afinação da guitarra. Mas eu tinha certeza absoluta de que, por mais confuso que ele tivesse, não tava numa dúvida tão grande quanto a minha.

Por que eu me irritava tanto com o Saffron? Por que ver ele com o Akio me subia uma raiva daquelas? Por que de uns tempos pra cá eu tava tão destinado a pisar no Akio até ver ele se misturar com a poeira do chão, quando passei meses querendo acabar com a raça do Saffron?

Na verdade, o problema todo era o Saffron. Ele me tratava de um jeito tão casual que eu quase me sentia parte da família dele. Ele fazia de tudo pra me deixar confortável, coisas que eu nunca vi ninguém fazendo. E em troca, eu tava distribuindo informações pessoais dele por aí, pensando em acabar com toda a carreira profissional dele que já não era lá grande coisa.

O que eu tava fazendo ali?

Talvez fosse hora de ir embora. Como minha mochila tava na sala, fui andando pra fora do apartamento. Dane-se se o Leon tava me esperando lá no quarto. Meu humor não estava pra papo, mesmo que fosse ele.

E falando em humor, o meu ainda ia ficar bem pior. Quando botei o pé na sala e me virei, vi o Saffron abraçando o Akio. Os dois nem repararam em mim, e continuaram no maior chamego, inclusive com direito a beijinho na bochecha daquele Terrier japonês.

- Bem... vou tentar falar com meu pai essa semana. Você vai me ajudar, não vai, Saff?

- Não se preocupe... se você disser a ele como se sente, ele vai entender. Vai ser muito difícil ele aceitar, nenhum pai aceitaria facilmente assim, mas o importante é você ficar de bem com ele.

- Eu... vou tentar. Obrigada de novo, Saffron.

Como eu ainda tava mais invisível que o Snake do Metal Gear em modo Stealth, entrei no corredor de novo, fui até a porta do escritório e dei uma santa porrada na porta. Depois, fui andando com passos firmes pra sala de novo, e quando voltei eles já tavam indo pra porta depressinha. Só assim pra eu me livrar daquele moleque.

Eles ainda se despediram de um jeito bem basicão, como se eu não soubesse de nada, o Saffron deu tchauzinho, e bateu a porta. Eu dei a volta e fui pegar minha mochila que tava atrás da mesa, perto da parede, como se ele fosse parte do cenário.

- Já vai?

Acho que ele perguntou aquilo só pra se entrosar. Era a coisa mais óbvia do mundo, e ainda assim, ele tinha a coragem de abrir a boca pra falar aquilo.

- Não, só to vendo se os ratos não roeram minha mochila nesse meio tempo que deixei ela no chão.

Terminei de me ajeitar, e ele foi se aproximando. O Leon, lá no quarto, trocou de música e passou a tocar Still Loving You, do Scorpions. Aquilo era a prova de que o mundo tava acabando. Como um moleque daquele tamanho conseguia tocar Scorpions? Aquilo nem era do tempo dele!

Aquilo era, como dizem por aí, uma puta falta de sacanagem. O que aquele moleque tava tentando fazer, criar algum tipo de clima romântico?

- Você não cansa de ficar falando essas besteiras? – ele foi dando a volta na mesa enquanto recolhia a louça suja. – Sabe, se você fosse mais gentil coma s pessoas, talvez as coisas dessem mais certo pra você.

- Até parece que eu tô preocupado com isso...

Eu dei de ombros, mas ele sorriu. O jeito dele de agir era como se ele soubesse algo que eu não sabia. Aquilo não parecia bom, então tratei de ir separando a chave pra ir embora.

- Bom, tô indo.

- Aconteceu alguma coisa? Você parece que ficou com raiva de repente...

- Nada. – resmunguei e fui andando pra porta.

- Tem certeza?

- Tenho. Até mais.

- Você avisou pro Leon que tava indo embora?

- TCHAU, Saffron! – enfatizei, gritando na cara dele. – Até...

Mas nessa hora, ele me puxou e ficou me olhando. Parando pra pensar, eu nunca tinha visto ele com uma expressão daquelas. E vai ver por isso eu não fazia ideia do que ele tava pensando. Só que... sei lá, eu não queria mais ir embora... a primeira coisa que pensei foi em aprender um jeito de provocar aquela expressão nele.

- Que foi, meu cabelo tá fedendo ou o que? – falei, pra ver se ele me soltava de novo. Ele continuava no mundinho dele, com uma cara de quem tava decidindo se ia aprontar alguma coisa ou não. Estranho... geralmente quem aprontava ali era eu.

- Você sempre tem que soltar algum comentário sarcástico... isso é coisa da sua programação ou dá pra desligar? – ele começou a me girar, como se estivesse procurando um painel de controle.

Eu tentei puxar o braço de novo, mas ele não largou. Aquilo tava começando a me irritar. Desde quando ele tinha resolvido ficar brincando comigo?

- Porra, me larga!

- Ei, agora que você falou, seu cabelo tá com um cheiro esquisito, mesmo... – ele chegou mais perto. Aquilo já tava me emputecendo. – Isso é cheiro de queijo?

Dei mais um puxão, bem firme, e dessa vez consegui puxar o braço. Mas só de raiva, ele agarrou o meu braço de novo, e eu não tive tempo de reagir. Foi um empurrão tão forte que eu senti a minha cabeça batendo na parede.

O lado bom da coisa era que ele tinha soltado meu braço. O lado ruim é que ele tava me abraçando, com os braços trançados na minha costa de um jeito que me deu até uma certa angústia.

Por um minuto eu vacilei. O que tava pegando entre ele e o Akio que tava deixando ele tão nervoso assim? Ele não era do tipo de cara que fraquejava assim na frente de qualquer um, especialmente de um aluno mal-educado que tava querendo achar as melhores maneiras possíveis de ferrar a vida dele.

De repente mil coisas passaram pela minha cabeça. Será que tinha algo a ver com o Leon? Será que o Akio tava sacaneando ele? Não, pera, a Sophia tinha falado de uma audiência... mas quando tinha sido isso? Quando ia ser?

Eu não lembrava mais há quanto tempo frequentava a casa dele, mas tinha percebido finalmente uma coisa importante: eu era o único que tinha tanto acesso assim à vida dele, e ainda assim não sabia nada dele. Ele era um pouco mais baixo que eu, então do jeito que estávamos, eu me sentia quase na obrigação de acolher ele.

Foi quando eu tava colocando a mão na cabeça dele que ele disparou.

- Se era isso que você queria, não precisava ter ficado provocando o Akio pra chamar a atenção...

E mesmo com nós dois ali, sozinhos, ele insistia em falar do Akio. Sempre ele. Bom, eu avisei que tudo na minha vida dava merda, não avisei?

Aí, só pra completar, eu meti um soco nele.
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