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[Fic] O Amuleto de Siegfried

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Mensagem por Last Dom Nov 08, 2009 7:53 pm

O Amuleto de Siegfried.

I ) Velhos amigos



Sentiu o gélido ar noturno resvalar por entre seus dedos finos e compridos. O cheiro da terra molhada nos arredores de Aldebaran o acalmava, lembrava-o de tempos passados, quando por ali cultivava amizades. Estava indo visitar uma dessas amizades, aliás. Não que fizesse questão de todos que teve que suportar em sua terra natal. Ainda era surpreendente como aquela cidade conseguiu engolir tantas vidas. Continuou a caminhar lentamente, ignorando o açoite que o vento dava ao seu rosto a cada nova investida de suas pernas. Os longos cabelos negros lhe cascateavam os ombros, como um manto obscuro que de sua cabeça pendia, emoldurado por um rosto magro e doentio. Tinha as típicas características do norte de Midgard, nariz fino e alongado, lábios estreitos, pele pálida e olhos azuis provocantes. Girava cautelosamente seu afável e pequeno cajado por entre os dedos, um hábito que cultivava desde sua época da escola em Geffen. Não sabia ao certo porque continuava, talvez por vício, talvez para levar consigo sua reputação, e a reputação da poderosa arma assassina que seu sublime cajado se tornara, ou até talvez para demonstrar sua calma diante de qualquer situação. Fugia do estereótipo comum de um mago do fogo, talvez porque dominava dois elementos com maestria. O fogo que sempre foi seu talento nato, com o gelo que aprendeu ao longo dos anos.

Apesar de ter um pouco dos ares desdenhosos, típicos dos magos do fogo, não era explosivo e sempre foi um solitário, preferia trancar-se com seus livros e pergaminhos na época de mago. E acima de tudo, ele era calmo. Já havia se formado como bruxo há muito tempo e não sabia ainda o que faria com a sua vida desgraçada. Tinha ódio de Geffen, tinha ódio de AldeBaran, e por vezes, tinha ódio do sangue que corria em suas veias. Talvez sua indecisão quanto ao futuro viesse de seu sórdido passado, desde a perda de toda a sua família até a morte de seu melhor amigo há alguns anos atrás. Agora, vivia atormentado por fantasmas do seu passado, e agindo de maneira involuntária ao conduzir aquela arma letal que pendia entre seus dedos, para saciar sua sede de sangue. Ou talvez sua doença fosse apenas uma desculpa para continuar conduzindo seus atos atrozes.

Continuou caminhando conforme os flocos de neve chocavam-se contra seu rosto. Podia ver ao longe a torre de AldeBaran, e ao contemplá-la, via desde a aurora até queda de um império. Aquela cidade deveria vir a baixo. Havia outros renegados que compartilhavam essa mesma sede de vingança. A necessidade de um líder assustava a todos e Theodore estava disposto a assumir este posto. Mas tudo ao seu tempo... Sua doença não o permitiria continuar por muito tempo. Temia uma piora súbita, ele que já não tinha nem metade do vigor que tivera há dois anos atrás, antes de seus órgãos começarem a vacilar contra a enfermidade. Caminhou até um humilde casebre nos arredores da cidade, ainda longe de quaisquer outros seres humanos. Metade de seus poderes ainda era o suficiente para o que pretendia, e para um confronto com seu velho amigo, se fosse preciso. Seus sentidos eram afiados, e sussurravam em seu ouvido conforme se aproximava da choupana, exatamente o que ele queria ouvir. “Só há uma pessoa ali dentro.” como ele esperava; o solitário alquimista que procurava. Conduziu silenciosamente suas pegadas até a entrada, o som de sua aproximação era violentamente abafado pelo vento cortante da nevasca. A porta rangeu conforme ele rapidamente ergueu seu cajado, e o olhar fulminante encarou o alquimista que, assustado, largou o garfo com o qual se servia.

-Ora, ora... Se não é o velho Hogmild, fraco e sozinho... Onde ele está? Quem está com ele? Quantos já sabem? E como vai a família?

A última foi uma piada. O Bruxo sorriu um sorriso pálido, com uma boa dose de escárnio. O alquimista manteve a calma frente ao velho conhecido, apesar do cajado pendente contra ele.

- Não sei do que está falando, Theodore... Por onde você andou?
- Eu ainda não sei ler mentes, mas eu sinto a mentira, Hoggy. Não tente me tapear, eu quero saber sobre o Amuleto, o Amuleto de Siegfried.
- Se você quer um amuleto, eu tenho algum aqui, você pode pegá-los, apenas... Abaixe isto aí.

O alquimista fez menção de pegar um baú, mas uma esfera de fogo alcançou-o antes de sua mão, mergulhando tudo ali dentro em chamas. Theodore sabia dos truques letais que os baús de Hogmild guardavam... E da astúcia que espreitava aqueles olhos vazios. O alquimista pensou em explodir de raiva e pular em cima do velho amigo, mas acalmou-se quando lembrou do sórdido cajado apontado para seu rosto. Já não tinha mais a velocidade de outrora e os cabelos castanhos embranqueceram numa velhice precoce, levando com sua cor uma boa parte de sua força. Aqueles dois homens envelheceram rápido, cada um de sua própria maneira abjeta.

- Eu não quero essas imitações baratas criadas por você... Eu quero o verdadeiro amuleto de Siegfried. A fonte da imortalidade, banhado pelo sangue do dragão Fafner, usado por... Bem, você conhece a lenda. Hogmild... Se eu achar que você está mentindo, morrerá.

O velho alquimista deu um longo suspiro, conforme o inverno dilacerante entrava pela porta e o fogo no baú apagava. Não havia porque proteger outra pessoa quando estava diante da morte em pessoa.

- O amuleto não está comigo... É verdade que eu o possuí por algum tempo, mas ele não vale o seu peso...

As sobrancelhas de Theodore arquearam-se, e ele ergueu um pouco mais seu cajado. O alquimista continuou

– Aquele amuleto tem muitas mágoas nele... A agonia de Siegfried, a mágoa de Brünnhilde, a sina de Hagen... Vai ver por isso que não o quiseram em Asgard. Vai ver por isso eles deram para nós... Não acho que você seja capaz de levar o fardo, Theodore, apesar dos benefícios. Ah, os pesadelos... Eu vendi o amuleto para um mercador de Prontera. Odin sabe em quantas mãos ele deve ter passado...
- Você o vendeu?! Hogmild... Acredito que ser humano algum jamais cometeu tamanha burrice... Você quer a morte?

O bruxo abaixou seu cajado.

- Pelo visto os anos não foram generosos com você... Está tão... Pálido.
- Vindo de um homem de cabelos brancos aos trinta, é um elogio. – Respondeu o Bruxo, com cinismo. Talvez ambos tenham sentido vontade de dar risada, mas reprimiram, prontamente. – Foi o amuleto que lhe fez isto? Você não soube usa-lo?

- Você não sabe o que está desejando, Theo... O que você se tornou nesses dez anos que não nos vimos?

A resposta não veio de imediato.

- Eu vou para Prontera. Procurarei o amuleto.
- E se mais alguém aparecer aqui procurando por ele? O que devo dizer?
- É mesmo... – Pensou o bruxo. – Diga-lhes isto...

O cajado pendeu uma última vez. Diversas esferas de ar frio atingiram o alquimista, que rapidamente congelou-se, em sua agora eterna expressão de agonia. Theodore virou as costas, e tornou a gola de sua capa negra para cima, protegendo-o do frio. Deixou o velho alquimista ali, congelado, até que os séculos tenham dó dele e o decomponha, em pó. “Um mercador em Prontera...”, pensou o bruxo conforme saía do casebre, tornando ao coração da nevasca. Não podia ficar pior.


Última edição por Last em Dom Nov 08, 2009 7:58 pm, editado 1 vez(es)
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[Fic] O Amuleto de Siegfried Empty Re: [Fic] O Amuleto de Siegfried

Mensagem por Last Dom Nov 08, 2009 7:53 pm

Bem... vou deixar isso aqui. Se gostarem eu continuo.
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[Fic] O Amuleto de Siegfried Empty Re: [Fic] O Amuleto de Siegfried

Mensagem por Samuel Seg Nov 09, 2009 1:17 pm

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[Fic] O Amuleto de Siegfried Empty Re: [Fic] O Amuleto de Siegfried

Mensagem por Last Qua Nov 11, 2009 2:42 pm

II) Galion Head

“When I was just a baby
My momma told me:
‘Son, always be a good boy,
Don’t ever play with guns.’
But I’d shot a man in Reno
Just to watch him die...”



Fausto Galion Head, o gatilho mais rápido do Oeste. Ou costumava ser, antes de ser atirado para apodrecer na superlotada prisão-mina Ônix, nos arredores de Einbroch. Traído por um de seus próprios camaradas, só foi capturado porque foi pego numa emboscada. O Sheriff de Einbroch com seu pequeno exército contra apenas um fora-da-lei. Sheriffs são como reis sem reino: Não têm muito poder, mas anseiam por usar a mixaria que possuem. Não se pode dizer que foi um duelo justo.

Fausto havia sido preso e humilhado, mas não antes de tomar um tiro no braço esquerdo. “Garotas adoram cicatrizes”, ele pensaria mais tarde, ao se consolar. A emboscada havia acontecido logo após a sua chegada em Arunafeltz. Ele havia passado uns tempos em Midgard, onde havia comprado armas melhores para o seu bando, coletes mais leves e até mesmo um Amuleto que lhe disseram ser mágico: Um amuleto que lhe traria fortuna e longa-vida. Oito anos haviam se passado e o criminoso ainda não tinha visto a cara da tal “fortuna e longa-vida”. Seus poucos pertences foram confiscados às portas da prisão a oito anos atrás, exceto o tal amuleto, que ele havia escondido dentro de suas roupas.

Durante oito longos anos ele trabalhou como escravo na Prisão-mina Ônix, onde teve de abrir caminho a punho até seu merecido respeito. Em Ônix, um lugar para dormir é disputado na mão. Há lá algumas dezenas de minúsculas celas subterrâneas mal iluminadas, cobertas por poeira, cada uma com trinta presos, um cheiro de mijo insuportável e apenas um buraquinho no chão para os cativos defecarem. Mas todo prazo tem um fim, e o de Fausto Galion Head, o pistoleiro, era hoje. Ele sabia. Contava os dias desde que lhe jogaram naquela cela. Há oito anos ele não via a cor do céu.

O sol nasceu do lado de fora de Ônix. Estava na hora. Um velho conhecido dos presos desceu até as prisões subterrâneas e caminhou até a cela de Fausto, batendo sua espada nas grades metálicas para produzir o já familiar barulho dissonante, acordando todos os cativos para mais um dia de trabalho. Como uma imensa corrente arrastando num chão pedregoso, arrancando todos os condenados do mundo de seus sonhos para a terrível realidade. O nome dele era Ernie, o homem que espancava os cativos. Ernie era um espadachim de Midgard, contratado e conhecido por sua crueldade. Era o homem perfeito para o trabalho. Ele parou na frente de uma das celas e apontou sua espada para o velho criminoso. Fausto, o pistoleiro. Era um fora-da-lei famoso em outrora, mas agora não passava de um coração a pulsar, mais morto do que vivo, um zumbi com um sorriso idiota na cara. Ou assim pensava Ernie.

Dos trinta e dois presos daquela cela minúscula, trinta e um se apertaram ao afastarem-se da porta, temerosos. Mas não o Galion Head. Fausto Galion Head só conseguia sorrir. Um sorriso idiota, já havia perdido metade de seus dentes, e não sorria já a alguns anos, mas naquele instante, não conseguia tirar a expressão do rosto. Iria sair. Por Deus, iria sair! Depois de oito anos, veria novamente a cor do céu! Seus cabelos negros ainda estavam curtos. Não haviam crescido nem um centímetro em oito anos. Sua barba continuava do mesmo tamanho que estava quando lá ele chegou. A sujeira que se impregnou em tua roupa e corpo fez parecer que ele havia envelhecido. Seus olhos vermelhos expressavam apenas alegria. Uma alegria quase infantil. A alegria que um cachorro teria ao ganhar um pedaço de carne. Ele levantou-se e saiu da cela quando Ernie o chamou.

Cambaleante e com pequenos risos de descrença, ele seguia Ernie até a saída, passando por pelo menos cinco portas de ferro enormes que para ele nunca se abriram, as portas que conduziam à superfície, à liberdade. Era até estranho andar por entre aquelas celas. Sentia que a qualquer segundo podia ser jogado em uma delas como um cachorro velho. O funcionário provocava-o com xingamentos, chamando-o de vagabundo e imbecil, mas Fausto apenas ria consigo mesmo. Não iria procurar motivos para voltar para sua cela. Deus, estava livre!

Quando chegou a superfície, o guarda deu-lhe os pertences que tinha quando havia chegado ali. O amuleto ficara consigo o tempo inteiro. Ernie entregou-lhe apenas duas pistolas de cápsula, com oito balas cada uma, seu coldre, algumas moedas, um cadarço e um charuto. Fausto não ligou para os pertences a princípio, apenas ajoelhou-se no chão arenoso e beijou-lhe, com risos incrédulos de felicidade. Seus olhos doíam. É como se, pela primeira vez em sua vida, ele enxergasse a luz do sol. O funcionário do Ônix mascava alguma coisa num movimento maxilar vicioso, e com sua voz tediosa, falou ao Galion Head:

- Cai Fora.

Aos poucos Fausto parava de rir, olhou em volta sorrateiramente e sorriu ao perceber que estavam sozinhos. Ele e o guarda odioso que por cinco anos o torturou e espancou. Era muito fácil quando o filho da puta estava com a espada e ele, desarmado. Mas agora tinha os dois tesouros consigo. Suas pistolas. Seu braço estava completo de novo. “Vai ser a última pessoa que matarei”, Fausto prometeu para si mesmo e levantou rapidamente, engatilhou o irmão mais velho e moveu-o velozmente até a testa do guarda que o havia tirado de lá. Se o velho funcionário da Ônix tivesse um reflexo rápido, seus olhos iriam convergir e ele veria o cano apontado para sua testa. BANG!

O projétil serpenteou o ar, buscando o crânio de Ernie, praticamente à queima-roupa. Um buraco entre seus olhos. É por ali que o filho da puta enxergaria dali em diante. Mas dessa vez não veria as terras de Einbroch, mas a Canoa de Caronte! O corpo do velho espadachim torturador caiu ao chão. Galion Head cuspiu no corpo enquanto ele ainda tremia e o sistema nervoso entrava em transe. O pistoleiro apontou o revólver para o homem caído e atirou contra seu crânio uma vez, outra, e outra, e outra, até o “clic” anunciar que as balas haviam acabado. O crânio do espadachim agora se confundia com o chão. Fausto Guardou a pistola no coldre e começou a rir de novo, incrédulo. Havia planejado esse dia por tanto tempo. A primeira coisa que faria seria arranjar uma puta. E em seguida, iria para Midgard. Não havia mais nada para ele ali no Noroeste.

O pistoleiro já havia matado muito em sua vida. Já havia matado sheriffs, fazendeiros, mercenários, pistoleiros, bestas, um Atroce, feiticeiros, índios e até mesmo um extraterrestre, (esta é uma outra estória.) mas nenhum havia lhe dado tanto prazer quanto atirar na cabeça de Ernie. Ele riu.

O homem debruçou-se sobre o corpo de Ernie e retirou de suas roupas os Zenys que ali poderiam haver. O cheiro da carniça começava a subir e logo os coyotes apareceriam para comê-lo. Tirou de uma das pistolas metade das balas e colocou-as na outra. Quatro em cada uma. Amarrou seu coldre na cintura, guardou o charuto no bolso junto com o cadarço, beijou o amuleto e voltou a sorrir para si mesmo.

Fausto correu em direção a Einbroch, freneticamente feliz. Estava livre. Estava livre... Estava livre, e viveria para sempre. Ao menos enquanto aquele amuleto pendesse em seu pescoço. Tornar-se-ia um homem de bem em Midgard, isso, isso. Mas não antes de uma trepada e um bom pedaço de carne, Sim senhor! Não tinha medo de nada, estava com seus braços completos novamente, e tinha quatro bons motivos em cada lado da cintura para qualquer engraçadinho não procurar confusão com ele.
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