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As crônicas do Fantasma

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Mensagem por Space Ghost Sex Dez 16, 2011 10:37 pm

Reunidos aqui alguns relatos de histórias vividos ou presenciados por Elegast Torseph, o Ghost. Não estão em ordem cronológica.

Zweihander

Algumas bocas indiscretas costumam dizer, às vezes sussurrando, outras com um grito, outras apenas com sinais nos olhos, que não é possível caminhar sozinho pelas cidades de Midgard à noite. Sempre haverá alguém – ou alguma coisa – acompanhando-lhe e observando seus passos. Alguns desses seres são bons, outros nem tanto. Alguns escolheram pelo caminho da neutralidade, preferindo apenas observar as almas que vagueiam na escuridão das passagens de pedra das cidades.
Um desses seres do escuro – que me disponho a contar a história agora – se encaixa nessa descrição. Apenas observa, sem nunca interferir. Ou talvez interfira, quando assim acha interessante.

****

Eram agora quase 3 horas na madrugada. Elegast observava a cidade de Payon deitado por entre os galhos de uma árvore. Abocanhava uma maçã anormalmente vermelha, fazendo bastante barulho. A árvore, porém, era alta o suficiente para que ninguém o ouvisse.
Já estava ali havia um tempo. Havia presenciado três homens encapuzados levarem uma moça bêbada para um beco e se aproveitarem dela. Um assassino com uma adaga entre os dentes se esgueirar para dentro de uma das casas da cidade por uma janela aberta. A silhueta de um casal fazendo amor à luz de velas, com as cortinas fechadas. Um membro respeitável da realeza entregado um pequeno saco de moedas para um homem aparentemente cego recostado em um beco. Um arqueiro solitário atirar flechas em uma árvore próxima.
Colocou-se de pé em cima do galho onde se apoiava. Saltou para o chão, dando uma pequena cambalhota para amortecer o impacto da queda. Parou em frente a uma parede, olhou para baixo e se deparou com uma pequena rã.
- Boa noite senhorita Rã. – Fez uma reverência completa. Sua cabeça quase tocou o solo. – Está uma bela noite, não acha?
Sentou-se no chão, recostou-se à parede e puxou seu caderno da mochila. Puxou um cigarro do bolso, uma pena da bota e um tinteiro de um dos bolsos da capa.
- Você está linda hoje senhorita Rã. Merece um poema.

A rã

Um bicho escroto e terrível, tenebroso e horrível
Gostoso e crocante, venenoso e saltitante
Lindo e gosmento, maldito e lazarento
Boboca e engraçado, tenso e desgraçado
Sujo e encardido, delicioso e fudido
Feio e salgadinho, brilhante e bonitinho.

Não é a rã que é assim?

Terminou de escrever, guardou seu caderno e levantou-se. Hora de ir para casa.

****

O dia seguinte amanhecia, uma jovem garotinha se escondia por entre algumas barracas de feira, abraçando seus joelhos. E chorava. Seus joelhos estavam machucados, ela não usava sapatos e seus cabelos loiros estavam cortados de uma maneira totalmente irregular.
Elegast observava a menina de longe. Ela lembrava-o de uma pessoa, e o deixou com um ar mais melancólico que o normal. Não suportando mais vê-la chorando, Elegast se aproxima e abaixa-se para consolar a menina.
- Olá criança.
A menina se assusta com o estranho que subitamente se dirige a ela. Ainda mais por ser esse estranho amedrontador, com longos cabelos negros, olhos azuis profundos e um sorriso um tanto psicótico. Mas, apesar dessa visão, a presença do estranho consegue confortá-la de alguma maneira.
- Olá moço. – Ela ergue a cabeça e encara Elegast.
- Qual o motivo de tanta tristeza?
- Fugi de casa, moço. Mas terei que voltar em breve, pois não tenho onde dormir. E sei que quando voltar, vai doer ainda mais.
Elegast levanta-se, afaga os cabelos loiros da criança com uma das mãos, e olha o horizonte. A criança havia deixado-o triste. Não gostava disso. Agora ele teria que interferir na cidade para deixar a criança feliz. Mas o que importava mais, sua estúpida rotina e seu relacionamento com Payon ou o sorriso de uma criança?
- Por que tudo dói tanto moço?
O cavaleiro olha para baixo. A menina o encara com os olhos marejados. Sim, o sorriso de uma criança vale mais do que a cidade inteira.
- Qual seu nome, minha criança?
- Karel.
“Que coincidência, não? Karel ende Elegast. O poema que me rendeu um nome.”
- Bem Karel, tenho um presente para você.
- Sério? O que é? - Os olhos da menina brilhavam de curiosidade.
- Vamos ver o que é. – Ele retira seu caderno de dentro da mochila e começa a rabiscar em uma das páginas. Após alguns minutos, ele rasga a folha e a entrega para Karel.
- Obrigado moço. É um pássaro bem bonito. – Sua voz soava ligeiramente decepcionada.
- Não tem de quê. Sabe menina, vou te contar um segredo. Você me disse que se voltar para casa vai doer ainda mais. Há um lugar secreto, atrás do palácio central, que é muito bom para se passar uma noite ou duas. É perto do pomar, então terá o que comer, e é cheio de folhas secas, que quando ajeitadas da maneira correta dão uma boa cama. Não precisará se preocupar com frio ou chuva, o lugar é bem protegido. Vá até lá, passe algumas noites felizes antes de voltar para casa.
Os olhos da menina voltavam a brilhar. – Muito obrigado moço! Não sei como agradecer!
- Estaremos quites se me disser onde mora.

****

Escurecia em Payon. Elegast esgueirava-se por cima dos telhados, sem se preocupar em ser discreto. Vestia apenas suas calças, botas e uma camisa branca leve. Os símbolos gravados em seu corpo eram facilmente visíveis quando alguma luz tocava seu corpo.
Logo avistou o endereço que Karel lhe passara. Uma casa modesta, dois andares, um jardim pequeno, duas árvores com frutas. Sem muros. Subiu uma árvore próxima para observar melhor. Acendeu um cigarro e esperou. Logo uma briga pôde ser ouvida de dentro da casa. Bem violenta, a julgar pelos barulhos de pancadas nas paredes. Uma donzela core pela porta da frente, enrolada em um lençol. O rosto marcado por uma pancada. Recente. A jovem aparentava ser muito nova para ser a mãe de Karel, então Elegast deduziu que deveria ser uma amante. Ex-amante agora, provavelmente.
O cavaleiro salta da árvore e caminha até a parte de trás da casa. A luz trêmula de uma vela no andar de cima denuncia a localização do agressor. Elegast escala a parede e entra pela janela. O quarto estava vazio, a exceção de uma cama, um armário, diversas lanças dependuradas pela parede, uma armadura de cavaleiro empoeirada em um dos cantos e uma montante de tamanho considerável em uma caixa de vidro, ao lado da cama. O agressor era um cavaleiro.
Mal teve tempo de observar o quarto, e um homem sem calças surge pela porta, surpreso em achar um estranho com o rosto pintado de branco, uma camisa transparente e o corpo repleto de marcas parado em seu quarto. O agressor avança para pegar sua espada, mas Elegast é mais rápido. Com um movimento similar ao de um patinador, ele chuta a cabeça do homem, que cai de joelhos no chão. Elegast vira-se de costas e gira, acertando um de seus cotovelos no queixo do agressor. Ele retira sua adaga da bota, e a posiciona no pescoço do homem, que se rende.
- O q-que você quer? Tem dinheiro no armário, pode levar. Só não me mate!
- Esse pode ser o seu último momento caminhando entre os vivos. Se eu decidisse terminar com a sua existência agora, você estaria arrependido da vida que levou?
- Que tipo de pergunta é essa? Você é um daqueles justiceiros da noite, protetores dos fracos e oprimidos, que quer me converter ou sei lá o quê?
Elegast sorri o seu sorriso mais psicopata, mostrando seus dentes, e finca a adaga no ventre do agressor. Este contrai o rosto de dor, e cai no chão segurando o ferimento, que sangra incondicionalmente.
- Há uma menina que mora aqui. Ela vem sofrendo constantes abusos de alguém, e para seu azar eu concluo que foi você.
- Então você também tem parte no sumiço da minha filha? Escuta aqui, não interessa quem você é, mas o que eu faço ou deixo de faz...
O homem não consegue terminar a frase, pois recebe um belo soco em seu ferimento, que o faz perder ainda mais sangue.
- Aquela menina não vai mais sofrer nesta casa. Vou ficar de olho. Se eu ficar sabendo de mais alguma coisa feita àquela menina, você vai perder muito mais do que alguns dedos.
- Dedos? Do que você está falan...
Um grito ensurdecedor saiu das profundezas da garganta do agressor quando Elegast cortou-lhe todos os dedos da mão direita. Ele teria gritado mais, se o cavaleiro não tivesse enfiado todos eles dentro de sua boca e lhe metido um chute forte o suficiente para fazê-lo desmaiar.
“Alguns homens já nascem mortos... Mas os deuses ainda insistem em gastar carne em seus corpos. Triste... Espero que não tenha que voltar mais aqui.” O cavaleiro fica de cócoras sobre a janela, olha para trás e observa o homem desacordado sangrando no chão. Dirige seu olhar para a inscrição do nome na armadura, e depois disso um último olhar para a espada na caixa de vidro, antes de se jogar pela janela, par retornar à escuridão da cidade.
- Bela espada, Sr Hoggmeiser.

****

Três noites haviam se passado, e Karel havia voltado para casa naquele dia. Elegast observava a casa de cima da mesma árvore, com uma laranja em uma das mãos e um cachimbo na outra. Esperava qualquer sinal de violência para sair de seu recanto e entrar na casa. Mas tinha esperanças de que não seria necessário.
Não poderia estar mais errado.
Um barulho de vidro sendo quebrado quase o fez cair da árvore. Conseguia ouvir Karel chorando, de uma maneira desesperada, como alguém que suplica pela vida. Disparou em direção à fonte do choro, quando este subitamente cessou. Elegast subiu a janela, pedindo aos Deuses que não fosse o que estava pensando.
Tarde demais, pulou a janela. Karel sangrava no chão do quarto, por um ferimento profundo no pescoço. Definitivamente morta. O pai o observava com um ódio profundo nos olhos, segurando a enorme montante com dificuldades com a mão esquerda.
- Está aí, sua criaturinha da noite de merda. É isso que se meter nos assuntos dos outros causa na vida real.
Alguns contadores de histórias se atrevem a dizer que homens são capazes das maiores crueldades quando cegados pela raiva. Não há prova maior disso do que estes dois cavaleiros. Hoggmeiser, cegado pela ira, matou a própria filha. Elegast, ao se deparar com tamanha barbárie... cometeu outra ainda maior. Pedaço nenhum do Sr Hoggmeiser foi visto novamente por olhos humanos depois desse incidente.

****

Dois túmulos agora se encontravam no jardim da casa de Elegast. Em um se lia “Amor verdadeiro é para sempre.”, no outro “Não doerá mais.”. O cavaleiro se encontra ajoelhado sobre o segundo túmulo. A Zweihander de Hoggmeiser está fincada na terra ainda fofa da cova. Elegast se coloca de pé, põe a espada em suas costas e abre seu caderno em uma página já bem gasta. Ele recita:

A morte está diante de mim hoje.
como a recuperação de um doente,
como ir para um jardim após a doença
A morte está diante de mim hoje.
como o odor de mirra,
como sentar-se sob uma vela num bom vento
A morte está diante de mim hoje.
como o curso de um rio,
como a volta de um homem da galera para a sua casa
A morte está diante de mim hoje.
como o lar de um homem que anseia por ver,
após anos passados como um cativo.


Uma lágrima solitária escorre pelo rosto do cavaleiro, que tem seu rosto pintado de branco. Ele fecha o caderno, dá uma última olhada para os dois túmulos, e volta para dentro de casa.
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Mensagem por Samuel Sex Dez 16, 2011 11:17 pm

Só tenho uma palavra: Nossa.
Aliás, tenho duas: Nossa x2.
Ficou.....Muito...muito...muito....Perfeito *o* Adoray *o*
*chicoteia* AGORA você vai ter que escrever mais! Não seja mais uma decepção para o mundo das fics! ò.ó
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Mensagem por Willen Sáb Dez 17, 2011 2:07 am

Samuel escreveu:Só tenho uma palavra: Nossa.
Aliás, tenho duas: Nossa x2.
Ficou.....Muito...muito...muito....Perfeito *o* Adoray *o*
*chicoteia* AGORA você vai ter que escrever mais! Não seja mais uma decepção para o mundo das fics! ò.ó

Isso é uma indireta, seu gordo? ¬¬
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Mensagem por Space Ghost Seg Dez 19, 2011 11:18 pm

Dor - Parte 1.

Diversas características são utilizadas para nomear uma entidade como um Deus. Uma delas é a imortalidade, apesar de que nem todos os deuses são imortais. Outra pode ser a presença de habilidades sobre humanas, embora muitos mortais possuam essas habilidades sem, contudo, serem chamados de deuses. Algumas pessoas mais esclarecidas costumam dizer que o que torna alguém um Deus é sua história. Mas há inúmeras histórias de meros mortais mais impressionantes e dignas, perdidas entre o eterno esquecimento da escuridão, do que as ridículas histórias de muitos chamados deuses. Ghost sabe disso muito bem, pois ele costuma presenciar muitas dessas histórias. Ele costuma ressaltar sempre que a situação o permite que a única coisa relevante para definir um Deus é o ponto de vista.

Indiferente do seu critério favorito, a verdade é que, mesmo os deuses imortais, mesmo os deuses super-poderosos, mesmo aqueles com uma história de ascensão digna de ser contada e recontada por milênios a fio, todos esses às vezes precisam de uma ajuda. Alguns recorrem aos próprios deuses nesses momentos. Outros, orgulhosos demais para admitir que não conseguem alcançar seus objetivos sozinhos, definham e tomam seu barco para o reino dos sonhos, rumo ao esquecimento, destino inicial e final de todos os deuses.

E há deuses que recorrem aos mortais quando necessitados. São muito mais numerosos do que aparentam, mas as histórias dos mortais que os auxiliam são muitas vezes esquecidas ou encobertas propositalmente. Mas nunca podem ser totalmente perdidas, sempre haverá alguém para contá-las. Cabe apenas aos ouvintes decidir se querem acreditar.

****

Era um fim de tarde melancólico na cidade de Rachel, ou assim o via Elegast. O cavaleiro repousava em uma rede improvisada, armada entre dois mastros no centro da cidade. Uma das pernas pendia para fora, e ele roncava a sua décima primeira tentativa sono da tarde. Nunca conseguia adormecer totalmente, mas também nunca conseguia estar totalmente acordado. E essa era a maldição que aquela cidade havia jogado sobre ele.

Após mais alguns minutos se revirando preguiçosamente na rede, ele desiste de tentar lutar contra a insônia, e endireita sua posição para observar o mundo fervilhante abaixo de si. Pessoas e mais pessoas passavam pela praça, saídas de todos os lugares e indo a todos os lugares. O clima era pesado entre os passantes. Elegast sentia isso ao respirar com dificuldade. “Essa cidade não gosta de mim. Ela sabe que eu a estou observando de uma maneira que ela nunca teve que enfrentar. Sabe que eu sou um estranho nessas terras, e estou disposto a cavar os segredos que ela demorou tanto tempo para enterrar. Ela me quer fora daqui, e acho que vai tentar conseguir isso à força.”

Em uma loja próxima, um casal não tão jovem discutia. A moça tinha algumas sacolas nos braços, o homem carregava outras ainda maiores. A discussão tomava rumos faiscantes, a ponto de chamar a atenção de várias pessoas próximas. Com um grito de decepção bem audível, o homem deixa as sacolas no chão e dá as costas para a moça, tomando seu caminho.

Elegast sorri. “A cidade não gosta de mim. Mas farei um favor a ela.” Ele salta de seu local de repouso para o chão, e corre em direção à moça. Ela, ocupada demais se desmanchando em lágrimas, não nota a sua aproximação até que o cavaleiro cutuca seu ombro e ela levanta a cabeça para observar.

Mal tem tempo para levantar a cabeça e logo já cai no chão, em conseqüência de um tapa recebido de Elegast. A expressão em seu rosto passa instantaneamente de tristeza para puro terror, enquanto ela tenta se afastar do cavaleiro. O homem que a acompanhava presencia a ação, e prontamente corre em auxílio de sua mulher. Ele se coloca entre o cavaleiro e a moça, em uma posição que ainda não convida Elegast para um combate.

Um único soco preciso é desferido pelo cavaleiro contra o protetor, que ao recebê-lo finalmente adota uma posição de combate. A moça atrás dele cruza os dedos, e é possível ver que através de seus olhos, ela torce não para que a luta termine, mas para que seu protetor derrote seu agressor. Ela também anseia pela batalha.

O protetor desfere um soco fraco, que seria criticado por qualquer praticante de qualquer arte marcial existente em toda a Midgard, no abdômen de Elegast, que nem se mexe. “Eu quero o seu ódio homem. E sei exatamente como fazer isso.” O cavaleiro atinge um gancho certeiro no rosto do protetor, que cai no chão, com a bochecha roxa e o nariz sangrando. Mas ele se levanta, e dessa vez a ira em seu olhar é perfeitamente visível.

Um golpe certeiro na testa de Elegast faz o cavaleiro tombar ao chão. Ele fecha os olhos por alguns instantes, fingindo estar desacordado, para que o protetor tenha a chance de aplicar-lhe algum outro golpe. Mas isso não acontece, então Elegast levanta-se e encara o casal. A mulher abraça o protetor, que ainda conserva seu punho levantado, como um troféu de vitória. A mulher tem o rosto vermelho do tapa recebido, e o homem tem o rosto inchado. Não eram ferimentos graves, sumiriam em no máximo 3 semanas. O cavaleiro dá as costas aos dois e corre para longe, como numa fuga. Olha para trás uma última vez, a tempo de presenciar o casal em um beijo apaixonado.

Ghost vai para seu destino com um sorriso enfeitando seu rosto.

****

Já estava caminhando havia no mínimo umas 4 horas, aparentemente em direção a lugar nenhum. Apenas se embrenhava cada vez mais nas estepes de Rachel. Subitamente, parou em frente a um pequeno penhasco e olhou para trás, tirando sua Zweihander das costas.

- Não é elegante seguir os outros. Ainda mais de maneira tão pouco discreta.

A planície vazia o encarava com uma expressão interrogativa. Não havia ninguém lá. Elegast suspira, fecha os olhos, finca sua espada no chão e arremete um soco impressionantemente forte na escura parede do despenhadeiro. Um jovem bruxo que tentava se esconder acima da parede despenca pelas rochas, levantando muita poeira na queda. Ele tenta se levantar e armar uma posição de combate aceitável, mas subitamente uma espada de tamanho considerável em seu pescoço o faz desistir de fazer qualquer outro movimento. Ele move os olhos para observar a paisagem, procurando qualquer tipo de ajuda. Em vão. Parecia que o cavaleiro que seguia havia guiado-o para esse local inóspito propositalmente.

- Por que está me seguindo? – A seriedade com que Elegast pronuncia essas palavras com certeza convence o bruxo de que não era o momento apropriado para brincadeiras ou jogos de palavras. Seria melhor falar a verdade.
- Vi o que fez lá atrás em Rachel. Ajudou aquele casal a se reconciliar, ainda que de uma maneira um tanto exótica.
- Isso não é motivo para estar me seguindo. – O cavaleiro não afrouxa a espada.
- Queria perguntar-lhe porque fez isso. Você tem noção de que agora será visto como um delinqüente assassino na cidade, não tem?
- Se queria me perguntar isso, por que me fez te levar até esse lugar longe de qualquer ajuda e civilização, onde a sua morte não será sequer notada pela natureza e seu cadáver será comido por hienas muito antes de qualquer ser pensante colocar os olhos nele?
- Porque... eu queria saber onde vivia. Achei que alguém que não liga para o que a cidade pensa dele teria hábitos bem diferentes...
- Então você queria apenas perder seu tempo tentando espionar minha vida? – O mesmo sorriso psicopata voltou a brilhar no rosto do cavaleiro, enquanto ele finalmente recolocava a Zweihander em suas costas. – Bem, meu caro bruxo desconhecido, se você queria saber que tipo de vida eu levo, saberá. Mas temo que não seja agradável.

Elegast põe-se de pé, retira sua armadura e sua espada e as joga no chão. Estica seus braços, estala os dedos e o pescoço e amarra suas luvas. De costas, ele fala para o bruxo.

- Vamos lá. Me dê uma porrada.

O bruxo hesita um pouco, sem entender, mas logo pega seu cetro e se concentra em um feitiço. “Se ele quer se machucar, vamos satisfazer seu desejo.” Porém, mal começara a invocar o feitiço, é interrompido pelo cavaleiro, que o encara com seu melhor sorriso psicopata. Elegast pega seu cetro e o arremessa longe.

- Eu falei uma porrada amigo. Não uma trapaça.
- Mas eu sou um bruxo! Não sei dar porradas!
- Não interessa se não sabe, eu pedi uma porrada, um soco, uma pancada forte com as mãos ou com os pés.
- Mas eu nunca fiz isso antes! Como espera que eu faça agora?
- Como você pode se considerar um ser humano se nunca deu uma porrada em alguém? Vocês bruxos me decepcionam. Derrotam seus adversários com trapaças. Tem medo de se machucar. Baseiam toda sua estratégia em manter o inimigo afastado, enquanto ganham tempo para executá-lo à distância. Onde está a diversão? O que aprendem com suas batalhas se delas saem completamente ilesos? Vocês e os arqueiros, dois daqueles que tem medo da dor. Mas os arqueiros conseguem me dar uma porrada se for necessário. Agora chega de desculpas, quero que você me atinja com seu melhor golpe.

“Esse cara é louco. Bem, acho que vou fazer o que ele pede.” Um soco pessimamente executado parte do bruxo, digno de risadas por parte do cavaleiro.

- Hahahahahaha... vamos lá, esse é seu melhor golpe? Até o protetor de hoje cedo conseguiu fazer melhor! Vamos, um aqui no queixo.

O bruxo continua a atacar Elegast com socos e pontapés, mas ele só continua rindo. O invocador começa a ficar com raiva do cavaleiro. Com muita raiva. Ali estava ele, socando um adversário que zombava de seus socos. E a cada novo golpe as risadas aumentavam. Farto dessa zombaria, o bruxo arma um soco, um belo soco desta vez. Atinge o queixo do adversário em cheio, e a força é suficiente para que ele pelo menos vire a cabeça.

- Sim, estamos melhorando. Mas agora é minha vez.

Não houve tempo para reação. Um golpe certeiro atinge as costelas do bruxo, que instantaneamente cai no chão e se encolhe de dor. E ali ele fica, se contorcendo.

- Isso se chama dor. Muitos a temem. Alguns a suportam mais do que outros. Mas ela está aí, para todos. Você tem medo dela, não tem bruxo?

Não houve resposta, pois o adversário ainda tentava se recompor do golpe. Ghost senta-se ao lado do bruxo e observa o horizonte.

- Eu aprendo muito com ela. É minha maior professora. Já tive a oportunidade de enfrentar lutadores ao redor do mundo inteiro, todos eles me ensinaram alguma coisa, sobre como derrotar meu adversário. Mas somente a dor, somente ela me ensinou como perder. E hoje eu posso dizer, as únicas batalhas que eu aprecio são aquelas que eu posso perder. Qual a graça de derrotar outro ser humano? Significa que você foi mais forte que ele. Não há diversão na vitória, nem sequer aprendizado. Talvez você aprenda algo sobre seu adversário, algum conhecimento que poderá usar para derrotar outros adversários. Mas nunca nada sobre você. Somente quando se perde é que se aprende algo sobre si mesmo. Somente quando se sente dor. Qual o seu nome, bruxo?

O bruxo ainda leva alguns momentos para conseguir responder, e quando o faz, é com uma dificuldade perceptível.

- Alfred. Alfred Herrington. E merda cara, você conseguiu quebrar uma costela minha.
- Prazer Alfred. Me chamo Elegast Torseph. Adeus.
- Adeus?
- Sim. Adeus.

Com essas palavras, Elegast enfia uma adaga no pescoço do bruxo, agora morto. O cavaleiro retira a arma do cadáver, tira seu caderno da mochila e escreve o nome do finado, em uma página em branco.

****

A noite já se estendia por muitos momentos, quando Elegast finalmente terminou o túmulo do homem. Um monte de terra discreto agora se erguia na planície de Rachel. Uma pedra que lembrava vagamente o formato de uma lápide enfeitava o monte. Ghost pega sua adaga, e com ela escreve o nome do bruxo na pedra. Caminha um pouco, pega o cetro do chão e o finca no monte de terra. Ele abre seu caderno e recita um poema:

Chama-se a Dor, e quando passa, enluta
E todo mundo que por ela passa
Há de beber a taça da cicuta
E há de beber até o fim da taça!

Há de beber, enxuto o olhar, enxuta
A face, e o travo há de sentir, e a ameaça
Amarga dessa desgraçada fruta
Que é a fruta amarga da Desgraça!

E quando o mundo todo paralisa
E quando a multidão toda agoniza,
Ela, inda altiva, ela, inda o olhar sereno

De agonizante multidão rodeada,
Derrama em cada boca envenenada
Mais uma gota de fatal veneno!

Elegast rabisca um desenho em seu caderno, rasga a folha e a trespassa com o cetro fincado no túmulo. Respira fundo, observa a lápide, o monte de terra, o cetro e o desenho do Corvo. Ghost dá as costas para sua obra, e parte para a próxima parada de seu destino.

_____________

Essa história tem duas partes. A próxima sai em breve.
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